Matéria de Graça Lima e Silva
Uma
cabaça na qual os cangaceiros conservavam a água fresca para a travessia da
caatinga. Um pilão de madeira e um pote de barro trabalhado, entre outros objetos usados
na época do cangaço. Na decoração, Lampião e Maria Bonita estilizados. Triunfo, no sertão pernambucano, sede do Museu do Cangaço. - Fotos de Natanael Guedes
Triunfo, Pernambuco — Numa pequena sala do Lar Santa Elisabeth, um convento de
freiras, estão expostas as primeiras 100 peças reunidas pelo Museu do Cangaço,
uma ideia nascida há sete anos e logo encampada pela irmã franciscana Maria
José e alguns habitantes desta cidade sertaneja. O grupo tem enfrentado muitas
dificuldades, mas a religiosa não desiste de continuar a arrecadar armas,
roupas, livros e tudo mais que de alguma forma se relacione com Lampião e seu
bando.
A própria cidade onde o museu começou a ser instalado faz parte da história do cangaço. Triunfo fica a apenas 32 quilômetros de Serra Talhada, onde nasceu Lampião, e foi assaltada diversas vezes pelos cangaceiros. Hoje o município tenta se transformar em centro turístico, usando como atrações a sua temperatura amena a um contraste com o clima quente de quase todo o sertão — o vale que circunda à cidade e o Museu do Cangaço.
O museu foi criado em 1970. Uma sociedade mantenedora foi formada com a contribuição, por sócio, de Cr$ 3,00, "o que é multo pouco para comprar as peças de que precisamos", queixa-se a freira, acrescentando que a verba arrecada dos 100 sócios é a única fonte de renda de que dispõe.
O Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, presidido pelo sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, demonstrou interesse em apoiar o trabalho mas condicionou a ajuda à instalação do museu em prédio adequado. A Prefeitura de Triunfo, até agora, não doou terreno ou casa à instituição. A diocese da região concordou em ceder uma casa, por tempo indeterminado. As próximas tentativas da freira serão junto ao Governo do Estado e Ministério da Educação. Além da falta de dinheiro, ela enfrenta outro problema: foi transferida para o Recife no ano passado.
Conseguir peças nem sempre é fácil e exige tempo e paciência. Muitas vezes uma viagem a um lugarejo distante resulta na aquisição de apenas dois ou três objetos. Numa destas viagens, a freira e mais três pessoas foram a Nazaré, um povoado de Floresta das Navios, também no sertão, onde vivem alguns parentes de Lampião. Um deles não pretendia se desfazer de pertences do cangaceiro; outro só a muito custo concordou em entregar alguma coisa, em troca de dinheiro. A comitiva acabou adquirindo apenas urna chaleira, uma bandeja pequena, uma chave quebrada e uma telha. A primeira peça doada ao museu foi um punhal de Lampião, dado de presente pelo próprio cangaceiro a um morador da cidade. Armas, balas, utensílios domésticos, roupas, sapatos, chapéus que pertenceram ao bando são característicos da época e fazem parte da coleção.
Uma biblioteca que ainda não passou de 30 volumes. O trabalho é lento e difícil, diz a irmã Maria José. Ela ainda espera conseguir ajuda oficial. Por enquanto, as primeiras peças continuam precariamente arrumadas numa sala de 3x4 metros do convento das franciscanas, cuidadas pelas próprias freiras que se encarregam de mantê-las limpas e mostrá-las aos poucos visitantes.
Fonte:
facebook
Página: Raul Meneleu Mascarenhas
Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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