Por Clênio Novaes
Estamos aqui para tentar
responder a três questionamentos sobre o tiro que Lampião levou aqui nas
imediações da Serra do Catolé, as questões básicas são: Onde, quando e quem?
Vamos tentar responder. A maior verdade que consegui identificar, até aqui, foi
escrita por Frederico Bezerra Maciel em Lampião, Seu tempo e Seu Reinado (pag.
148): “Deslumbrante e maravilhoso o panorama descortinado de lá de cima. De um
lado, a serra da Pedra do Reino, com dois gigantescos monólitos no cimo,
esguios e irmãos, coroados de malacacheta faiscante aos raios do sol. Envoltos,
esses grandiosos blocos, nos mistérios da lenda sebastianista do desencanto, ao
bárbaro custo de sangue e vidas, de um rei outrora desaparecido... Ou
envolvidos das névoas que, descendo, se esgarçavam, se estendendo e se
espalhando, pelas imensuráveis ondulações mansas dos vales e vargedos, até o
desalcance da vista... Tudo agora verde com o inverno copioso, espelhando
também em filetes de riachos e córregos e em conchas de lagoas, o prateado de
suas águas abendiçoadas. O sertão virando mar...” Ao final de março de 1924,
Lampião e seu bando desloca-se de Santa Maria (na ocasião distrito de Belmonte)
as margens do Rio Pajeú, passando próximo ao Bom Nome, distrito de Belmonte, com
destino a divisa com a Paraíba, mais precisamente a serra do Catolé passando
próximo a Bernardo Vieira (distrito de Vila Bela). Da Serra do Catolé envia seu
Irmão Levino para fazer compras na Paraíba. Daí Lampião desloca-se com Moitinha
e Juriti em direção a Paraíba, passando junto a Lagoa Vieira, na divisa entre
Pernambuco e Paraíba, para buscar alguns mantimentos que havia encomendado a um
coiteiro, no retorno, por volta das 10:00 encontram-se com tropas de Teófanes
Ferraz, descrição de apenas 4 soldados volantes (nesse momento não há feridos
entre as forças). Nesta localidade, em 23 de março, trava-se intenso tiroteio
onde Lampião é atingido no pé direito e sua montaria (um cavalo) cai sobre sua
perna ferida. Moitinha segura forte tiroteio enquanto Juriti retira lampião
debaixo da montaria. Fogem para localidade próxima, juntam-se a outros
cangaceiros e montam emboscada para a força volante que reagrupa-se, com grande
contingente, há ai forte tiroteio, com baixas em ambos os lados, mas nenhuma
morte. 23 de março de 1924- Primeiro Tiroteio, lugar lagoa Vieira, presentes
Lampião, Moitinha e Juriti. Força volante apenas 4 soldados, que identificados
nominalmente como sendo os baleados no conflito do Barro, não nos permite crer
que foram eles mesmos. Segundo Tiroteio, lugar denominado Barros. Boletim Geral
nº 72, dia 25 de março de 1924 – serviço par 26 telegrama: - Vila Bella, 24. –
Comunico-vos hontem 10 horas logar lagoa Vieira deste município tive encontro
bandido Lampião e seu grupo havendo forte tiroteio. Bandidos recuaram
conduzindo feridos inclusive Lampião ficando morto cavalo este cavalgava
aquella ocasião. Pela grande quantidade de sangue segui trilha grupo que
internou-se caatingas até logar Barros onde fui atacado emboscada. Travando
Novo Tiroteio tombaram gravemente feridos Aspeçada 3º Manoel Amaro de Souza com
ferimento na região palpebral vasando o olho direito, soldados mesma unidade
Manoel Gomes de Sá um ferimento entero (antero) inferior braço esquerdo e outro
terço inferior coxa direita e João Demétrio Soares um ferimento região occiptal
tudo produzido por projectil rifle. Sem dispor medicamento algum e recursos
suficientes garantir feridos e prosseguir pista scelerados tive que tratar
remoção daqueles nas costas próprios companheiros até logar Montevideu onde
consegui arranjar conducções. Peço-vos autorização tratamento. Saudações Major
Theophanes Ferraz Torres. Nesse intervalo são intimados a comparecer a serra do
catolé os oficiais pernambucanos Ibrahim e Alencar. Certamente as forças paraibanas
foram também convidadas. Boletim Geral n.º75, dia 28 de março – Serviço 29.
Telegrama: - “Villa Bella, 27. – Feridos já experimentando algumas melhoras
caso porem estado de saúde possa se complicar chamarei médico Floresta
impossibilitado vir actualmente até aqui contrário evitarei despesa. Sciente
conteúdo vosso telegrama hoje. Fiz seguirem 15 praças serviço emboscada zona
preferida scelerados. Tranzito bandidos: Abóboras, Pereiras, Jardim Santa Rita,
lagoa Vieira, Serra Catolé, Campo Alegre, Natureza, São Paulo, Serrotinho,
Feijão e maior reducto Faz Cristovão fazenda Yoyo Maroto. Logo cheguem Tenentes
Ibrahim e Alencar seguirei diligências distribuindo forças. Saudações Major
Theóphanes Torres. Comandante volante.” Tiroteio dia 2 de abril, mortos Lavadeira
e no dia seguinte Cícero Costa Boletim Geral nº 83, dia 7 de abril- Serviço
para 08. Telegrama: Villa Bella, 6. – Communicuvos que as 17 horas e meia, do
dia 2 Serra Barro centro caatingas encontrei rancho onde bandido Lampião estava
tratando ferimento cercando numeroso grupo distante uma légua local tiroteio
dia 23 de março. Depois cerrado tiroteio ficou gravemente ferido bandido
Lavadeira que logo faleceu tendo grupo se evadido condusindo feridos.
Impossibilitado prosseguir perseguição devido escuridão da noite ali acampei
até manhã seguinte quando tomei pista de scelerados. As 8 horas bandidos
entrincheirados com meia légua distancia aquelle local surprhenderam força com
forte descarga. Esta revestida coragem investiu contra famigerados ficando morto
conhecido e temível scelerado Cícero Costa tendo grupo se esfacelado e
facínoras tomado diferentes direções. Chove quotidianamente o que tem
facilitado a fuga bandidos e dificultado ser descoberto destino de Lampião que
não dá um passo sendo conduzido braços companheiros conforme confessou
Lavadeira antes morrer e civil Manoel Cornélio encarregado compras
medicamentos, viveres referido grupo. Officiaes revestidos melhor bôa vontade
serviço. Espero descobrir novos refúgios feridos inclusive do chefe do grupo.
Santa Rita. 5-4-924. Major Theophanes Torres. Antes do ataque ao esconderijo de
Lampião as forças de Theóphanes, juntamente coma as forças Paraibanas,
conseguem encontrar Casemiro de Tal, que com aperto algum, entrega que quem
sabe onde Lampião encontra-se é Manoel Cornélio, este sim após adequado
interrogatório, entregou até Jesus no jardim de Getsêmani. Toda a região estava
tomada pelas volantes Pernambucanas e Paraibanas uma força capaz de oferecer
combate ao grande grupo de cangaceiros que encontrava-se no coito, tratando e
protegendo o seu chefe. Queremos salientar aqui, nenhuma menção feita às forças
de Tenente Chico Oliveira e Sargento Quelé das forças Paraibanas que estavam
presentes no combate do dia 2 e 3 de abril e que continuaram na região tentando
encontrar Lampião No dia 5 de abril o Tenente Higino regressa a Triunfo,
estando até aí também presente no embate e nas buscas. (conforme telegrama) O
cangaceiro Antônio Rosa é responsável por despistar a volante do local onde
Lampião ficou escondido durante as buscas do dia 3 de abril. Grande contingente
vasculha a região em busca dos feridos, inclusive Lampião, não obtém sucesso
pelas escaramuças feitas pelos cangaceiros para despistar a força e poupar
Lampião da morte certa. Boletim Geral n.º 87, dia 11 de abril- Serviço para 12.
- Villa Bella, 10. Communico-vos que Soldado João Demétrio Soares completamente
restabelecido. Aspeçada Manoel Amaro e Soldado Manoel Gomes muito melhorados
ferimentos. Saudações. Major Theophanes Torres. -Villa Bella, 10- Comunico-vos
cheguei hoje cidade depois ter circulado emboscada logar Barro e percorrido
repetidamente São Lourenço, Santa Rita, Desterro, Triangulo, Cachoeira,
Sanguessuga, Três lagoas, Barriguda, Lagoa Vieira, Cacimba Nova, Campo Alegre,
Montevideo, Poços Cajazeiras e Bulandeira. Em Santa Rita passou bandido
Severino Ferreira com três companheiros direção Patos e Princesa. Depois passou
no mesmo local o também famigerado Moitinha mesma direção igualmente
acompanhado 3 seus comparsas e na sanguessuga passaram os celerados Antonio
Rosa e Vicente Marina e dois outros desconhecidos para Pinhancó. Referidos
bandidos todos pertencentes grupo Lampião e destroçados pelas nossas forças.
Fiz investigação rigorosa sentido descobrir paradeiro até hoje completamente ignorado
facínora Lampião e seu irmão Antônio Ferreira depois tiroteio de que vos dei
sciencia. Depois desse fogo, Lampião fica escondido no mato, em uma moita de
folha de carne, por um tempo entre dois ou três dias, sendo encontrado por um
menino de nome Antônio Terto, filho de Zeca Terto. Lampião é levado para lugar
seguro. Chegaram ao local irmãos e cangaceiros de Lampião, este foi levado para
iniciar os tratamentos, sendo o Sr. João Menezes, morador de localidade
próxima, encarregado do tratamento, em local denominado hoje de casa de pedra
de Lampião na encosta da Serra do Catolé, permanecendo ai por aproximadamente
40 dias. Após esse período o ferido é levado para a cidade de Princesa Izabel
na Paraíba para a Propriedade Pau Ferro do Major Floro Diniz, Casado com Maria
Dulce de Oliveira Barros, sob a proteção de Marçal, Marcolino Diniz e José
Pereira. A fazenda Pau Ferro ficava entre a Fazenda Abóboras, em Vila Bela,
Pernambuco esta era propriedade de Manoel Menino e a fazenda Patos do Irerê,
esta, também de Major Floro. Lampião foi operado por Doutor Severino Diniz, o
mesmo que o tratou do primeiro ferimento sofrido em tiroteio na fazenda
Melancia na cidade de Manaíra (na época Princesa) quando este ainda era do
grupo de Senhor Pereira. Lampião ficou aos cuidados do cangaceiro José Ducarmo,
este posteriormente foi morto por Luiz do Triangulo. Posteriormente foram os
doutores Mota e José Cordeiro de Lima que ficaram tratando o ferido. A imagem
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Postado por Giovani Costa
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