Por Múcio Procópio
Em alguns trechos do discurso conselheirista, é perceptível a relação entre a existência da pobreza material e a vontade divina(Nogueira, 1974: 1175). Apesar disso, é necessário não vê-lo como um ator social que expressava apenas as idéias dos grupos dominantes, sendo passivo diante da história (Fiorim, 1980: 126). Por outro lado, não resultará em grandes respostas sobre essa personagem enxergá-la unicamente como subversiva, no sentido clássico desse termo, que prega a inversão social e a quebra das hierarquias(Moniz, 1978: 69).
Há em seu discurso, tanto traços de conformismo como de rebeldia. Em sua totalidade, o discurso divino foi uma forma de inseri-lo na realidade daquela época. Dentro disso, é preciso compreender que há, em suas prédicas, uma vontade divina quanto ao momento histórico ideal para acabar-se com a escravidão:
“É preciso, porém, que não deixe no silêncio a origem do ódio que tendes à família real, porque sua alteza a senhora dona Isabel libertou a escravidão, que não fez mais do que cumprir a ordem do céu; porque era chegado o momento marcado por Deus para libertar esse povo de semelhante estado, o mais degradante a que podia ser reduzido o ente humano; a força moral (que tanto a orna) com que ela procedeu à satisfação da vontade divina constituiu a confiança que tem em Deus para libertar esse povo, não era motivo suficiente para soar o brado da indignação que arrancou o ódio da maior parte daqueles a quem esse povo estava sujeito. Mas os homens não penetram a inspiração divina que moveu o coração da digna e virtuosa princesa para dar semelhante passo; não obstante ela dispor de seu poder, todavia era de supor que ela meditaria, antes de pôr em execução, acerca da perseguição que havia de sofrer, tanto assim que na noite que tinha de assinar o decreto de liberdade, um dos ministros lhe disse: - Sua Alteza assina o decreto da liberdade, olhe a república como uma ameaça. Ao que ela não liga a mínima importância, assinando o decreto 9 com aquela disposição que tanto a caracteriza. A sua disposição, porém, é prova que atesta do mundo mais significativo que era vontade de Deus que libertasse esse povo(Conselheiro apud Nogueira, 1974: 180-1).”
A Citação deixa evidente a existência de uma visão de história em Conselheiro. Uma visão na qual a ação divina era determinante. A escravidão deveria acabar por vontade de Deus e nada mais. A Princesa Isabel era apernas um instrumento para tal realização. Talvez, em seu raciocínio, o cativeiro tenha sido eliminado por vontade divina e é provável que sua existência também tenha surgido como parte das leis celestes.
Múcio Procópio
Pesquisador
Conselheiro do Cariri Cangaço
Natal, RN
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