Por Geraldo Júnior
Conversando
ontem pela manhã com o amigo pesquisador do cangaço e cinegrafista Aderbal
Nogueira (Laser Vídeo – Fortaleza/CE), responsável por inúmeras entrevistas com
remanescentes da época do cangaço, muitas delas testemunhas oculares de
importantes acontecimentos envolvendo Lampião e aliados, falávamos sobre a
aparição do suposto Ezequiel Ferreira, irmão de Lampião, dado como morto no
Combate da Lagoa do Mel (Bahia) no dia 24 de abril de 1931. E diante disso
resolvi trazer o assunto, mais uma vez, ao debate.
Em relação à morte de Ezequiel Ferreira da Silva existiram duas importantes testemunhas.
A primeira
testemunha foi o ex-cangaceiro Ângelo Roque “Labareda”, chefe de subgrupo do
bando de Lampião, que em depoimento afirmou ter presenciado a morte e o enterro
de Ezequiel Ferreira nas terras da Fazenda Tanque do Touro, local onde ocorreu
o combate. Ângelo Roque inclusive afirmou ter visto Lampião chorar a morte do
irmão e dizer ter perdido o prazer de ser cangaceiro.
A segunda
testemunha, cujo depoimento foi coletado e documentado, foi o senhor Antônio de
Chiquinho, proprietário da Fazenda Tanque do Touro, que presenciou o enterro de
Ezequiel Ferreira “Ponto Fino II” e dias depois acompanhou a exumação do corpo
a pedido de militares, que por sua vez deceparam a cabeça do defunto e a
levaram como prova do ocorrido. Pouco tempo depois foi exibido em um jornal um
crânio que supostamente seria de Ezequiel Ferreira “Ponto Fino”.
São esses os
dois principais depoimentos que indicam a morte de Ezequiel Ferreira no combate
da Lagoa do Mel (Fazenda Tanque do Touro).
Sem esquecer
que na época apenas dois pesquisadores/escritores do cangaço tiveram acesso ao
suposto Ezequiel Ferreira e conseguiram entrevistá-lo, foram eles; Magérbio
Lucena e Hilário Luchetti, autores do sensacional livro “Lampião e o estado
maior do cangaço”, que baseados em respostas às perguntas direcionadas e
informações transmitidas, descartaram a possibilidade daquele cidadão ser Ezequiel
Ferreira.
O outro lado
da moeda:
Para que se
entenda melhor toda essa história é preciso voltarmos à década de 1980,
precisamente ao ano de 1984, quando apareceu na cidade de Serra Talhada em
Pernambuco um homem vindo do estado do Piauí dizendo ser Ezequiel Ferreira e
alegando estar ali em busca de documentos pessoais para posteriormente dar
entrada em sua aposentadoria. O homem que na região procurava por parentes,
afirmava ser o irmão caçula de Lampião e dizia que sua “morte” foi tramada por
Lampião para que ele, juntamente com o cangaceiro Lavandeira, pudesse sair do
cangaço sem correr o risco de vir a ser posteriormente perseguido pela polícia
e inimigos. Afirmou ainda que no combate da Lagoa do Mel teriam morrido dois
outros cangaceiros, cujos corpos foram enterrados como sendo os corpos dele e
do cangaceiro Lavandeira. Após abandonar o cangaço rumou para o estado do
Piauí, onde fixou residência nas proximidades da cidade de Picos, onde passou a
atuar como vendedor de redes, enquanto Lavandeira teria ido para o estado do
Ceará e se estabelecido na cidade do Crato, como motorista de Praça (Taxista).
Essa foi a história contada.
A chegada do
personagem inesperado na região de Serra Talhada em Pernambuco causou grande
alarde e reacendeu o passado que até então estava adormecido.
A curiosidade
e o espanto das pessoas com a presença daquele homem na região causou grande
alvoroço e fez com quê a notícia logo chegasse ao conhecimento dos antigos
inimigos de Lampião e comandados, principalmente os residentes em Nazaré do
Pico/PE, berço dos mais ferozes e persistentes inimigo-perseguidores de Lampião
e bando, muitos deles inclusive com dívidas de sangue com os Ferreiras.
Pessoas que
conheceram Ezequiel Ferreira e seus irmãos na época o procuraram com o intuito
de comprovar ou não a veracidade da informação transmitida.
Luiz de Cazuza
morador da região da Serra Vermelha e Genésio Ferreira, primo dos Ferreiras,
que conheceram Ezequiel Ferreira no passado, foram algumas das testemunhas que
afirmaram se tratar realmente de Ezequiel Ferreira, filho de Zé Ferreira e
Maria Jacoza (Maria Sulena da Purificação / Maria Lopes). Após uma série de
interrogações Luiz de Cazuza e Genésio Ferreira, ficaram convencidos de que o
sujeito era realmente quem dizia ser.
Convencido
sobre o fato, Genésio Ferreira chegou a hospedar em sua casa durante oito dias
o suposto Ezequiel Ferreira, acreditando cegamente ser o primo cangaceiro até
aquele momento tido como morto.
Luiz de Cazuza
direcionou perguntas ao ilustre visitante, cujas respostas somente seriam
possíveis serem explanadas por quem realmente presenciou os acontecimentos. Na
ocasião o suposto Ezequiel Ferreira teria perguntado se na frente da antiga
casa que moraram na Fazenda Poço do Negro, município de Floresta/PE, ainda
havia um pé de Umbu-Cajá, que foi plantado por eles em frente da casa durante a
década de 1910. Algo muito particular para ser lembrado e levado em
consideração por um mero farsante.
Outro fato
interessante aconteceu quando o suposto Ezequiel Ferreira esteve na região de
Nazaré do Pico/PE e, segundo informações, seus antigos inimigos o reconheceram
e foram pegar em armas, tendo que ser retirado da região às pressas para não
acontecer o pior.
Recentemente
em uma publicação realizada pelo confrade Aderbal Nogueira, Luiz Emanuel
Nogueira neto do Nazareno Luiz Flor fez o seguinte comentário que nos chamou
atenção. Disse Luiz Emanuel Nogueira:
“Meu avô Luiz
Flor, foi visitar Ezequiel na sua vinda nos anos 80 aqui em Serra Talhada. Como
cresceram juntos lá em Nazaré eles colocavam apelidos uns nos outros, quando
meu avô chegou perguntou a ele:
- É você mesmo
Canção de Fogo?"
Ezequiel
respondeu:
- Sou eu mesmo
Luiz Canguru.
O velho Luiz
de Souza Nogueira (Luiz Flor) disse:
- É, realmente
você é Ezequiel.
Por esse e
outros relatos que não temos nenhuma dúvida que uma pessoa que viveu no
anonimato por muitos anos nunca responderia corretamente aos pesquisadores para
perder seu sossego e conviver com imprensa, curiosos, pesquisadores, e outros
na sua casa todos os dias.”
Depoimento
esse que deixa um ponto de interrogação.
Para finalizar
a história o suposto Ezequiel Ferreira da Silva conseguiu “provar” na justiça a
sua identidade e teve seu registro de nascimento expedido no dia 23 de novembro
de 1984, no distrito de Vila de Pajeú no município de Serra Talhada no estado
de Pernambuco. Serviram como testemunhas os senhores: Genésio Ferreira Lima
(Primo) e Luiz Andrelino Nogueira.
Ao meu
entender é um assunto em aberto que precisa ser melhor analisado e discutido em
profundidade para que, se possível, cheguemos a um consenso.
E vocês o que
acham sobre esse assunto? Esse cidadão era ou não Ezequiel Ferreira da Silva
irmão de Lampião?
Deixem suas
opiniões.
Obs: O
fotograma anexado a essa matéria é do suposto Ezequiel Ferreira da Silva e foi
extraído das filmagens produzidas pelo cinegrafista e pesquisador Aderbal
Nogueira (Fortaleza/CE).
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