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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

SEMANA SANTA SANGRENTA - O Combate dos Sete Dias


O cangaço seguia sua ‘estrada’ pelo Sertão nordestino, quando, em certa ocasião ocasiona-se um grande combate entre grupos cangaceiros. No Pajeú pernambucano.

Na região do Navio, existia um chefe cangaceiro, Cassimiro Honório, que, segundo os pesquisadores/escritores, agiu de maneira ‘diferente’ daquela que os cangaceiros fizeram, principalmente, na época tida como ‘segunda fase do cangaço’, pós o ataque à cidade de Mossoró, RN.

Naquele tempo, não só Honório, como muitos outros catingueiros não viviam exclusivamente da ‘espingarda’, apesar de serem cangaceiros. Eram homens rudes, valentes e corajosos, mas, acima de tudo, tinham palavra.

Alguns cangaceiros que viveram antes do período lampiônico tinham alcunhas, apelidos, diferente daquelas que estamos acostumados a ver como “Bigode de Arame”, “Canela Suja”, “Zé Boi”, "Rajado" e etc.. No entanto, também já usavam algumas que foram ‘herdadas’ por diversos outros, como exemplo “Criança”.


Cassimiro Honório tinha uma filha, Melânia, e um catingueiro de sangue no olho, José de Souza, por quem tinha se apaixonado, e vice-versa, resolveu “roubá-la”, já que seu pai não permitira o namoro. Marcaram a data e fugiram. José de Souza era um desses cidadãos que se envergonham de certos atos. Mesmo tendo fugido com a moça, a deixa em casa de um amigo a não tem relação sexual com ela. Isso ficaria para depois que casassem. Mostrando respeito com ela e família.

Esse tipo de atitudes, roubar uma moça, quando ocorrida nas quebradas do Sertão, não foram raras, davam uma encrenca da peste. O pai da moça, fugida com José de Souza, chama seus ‘cabras’ e partem em busca de resgatar sua filha. Entre o ‘ladrão’ e ele deram-se brigadas, tiroteadas, que ficaram na história. Honório consegue eliminar familiares de José de Souza, mas, não conseguiu abate-lo. Pelo contrário, segundo alguns autores, ele referiu que se soubesse que José de Souza era um homem sem medo e de uma valentia tão grande, o tinha aceitado como genro. Porém, termina por encontrar sua filha e a leva de volta para casa.

O cangaceiro “Bigode de Arame”, que, na verdade era Antônio Matilde, irmão bastardo de José Ferreira, pai de Virgolino, e seu companheiro “Canela Suja”, Antônio Pedro, certa ocasião, sendo o primeiro a ser nomeado Inspetor de Quarteirão, e o segundo subdelegado, nomeados pelo Juiz que trabalhava, exercia sua função, na Comarca de Floresta, PE, tem a missão de irem prender três cangaceiros perigosos de nomes Generino, “Zé Boi” e Joaquim Gabriel.

Esses três ‘cabras’ prestavam seus serviços para José de Souza. O mesmo não achou nada engraçado essa ordem das autoridades, e o ‘clima’ escurece para aquelas bandas. O mundo se fecha e as espingardas 'falam' no lugar dos homens.Tirotearam por diversas ocasiões ficando uma intriga muito grande. Mais tarde, tanto Matilde quanto Pedro, largam aquele ‘serviço’, formam seus bandos e, como chefes independentes, vão assolando o sertão. Após isso, os homens dos bandos, de Matilde, de Pedro e de José de Souza, começam uma disputa entre eles. A partir daí, orientado por um tio, José de Souza parte para agressão contra seus rivais... e seus rivais tramam contra ele uma emboscada na sede da sua fazenda.

Bigode de Arame e Canela Suja sabedores do que ocorreu entre José de Souza e Cassimiro Honório, vão tentar a adesão desse na briga contra Souza. O que conseguem. Então, em pouco tempo, tem-se um embate que durou uma semana inteira. Sete dias de cercadores e cercados lutando, trocando tiros, sem arredarem o pé.

“(...) Essa associação de combatentes atuou nos anos de 1909 e 1910 e quase acabou com José de Souza no combate mais famoso da região (...).’ (“O CANTO DO ACAUÃ – Das memórias do cel. Manoel de Souza Ferraz (coronel Manoel Flor)” – FERRAZ, Marilourdes. 4ª Edição Revisada e Atualizada. Edições Bagaço. Recife. 2012).

Essa ‘brigada’ realizou-se na fazenda São Gonçalo, de propriedade de José de Souza. Ela perdurou por uma semana inteira. Sete dias ininterruptos de sitiados e sitiantes com únicos objetivos, acabar uns com os outros.

Em toda batalha, combate, conflito e luta entre os seres humanos, por mais banais que sejam, ocorre, quase sempre, algum fato que retira a razão, a crueldade e serve como exemplo por estarem praticando atos desnecessários. Principalmente ferindo-se mutuamente...


Havia, dentre os sitiantes, um cangaceiro que prestava seus ‘serviços’ para Cassimiro Honório, alcunhado de “Rajado”, que na verdade era José Davi, que, não sabe-se o porque, pratica um ato que, acreditamos, seja esse o motivo da famosidade desse embate ser perpetua.

A palavra Cangaceiro, ainda hoje, para muitos, ou em muitos, já causa revolta, raiva, menosprezo e outros adjetivos. Naquele tempo, além destes, havia o pior de todos, o medo. Porém, já no amanhecer do terceiro dia de luta, onde, tanto aqueles que estavam dentro da casa, quanto aqueles que a cercavam, não mostravam nenhuma intenção de desistirem, Rajado escuta um choro vindo de dentro da casa. Uma criança se despedaçava em gritos sem parar. O cangaceiro sentiu necessidade de fazer uma coisa a mais para calar aquela inocente. Ergue os braços, começa a falar para pararem de atirarem todos. A atitude do cangaceiro Rajado causa espanto em todos, tanto em seus companheiros como em seus inimigos. Todos cessam o fogo, dão uma trégua para escutarem o que teria a dizer aquele homem rude, valente e bruto...

Fora feito ali próximo do local da luta um curral, e nesse, algumas criações. Aos gritos, o cangaceiro Rajado pede garantia aos de dentro da casa para ir ordenhar algumas cabras a fim de retirar e trazer o alimento para a criança. Os de dentro da casa aceitam, José de Souza dá a garantia pedida. Rajado encontra uma vasilha, entra no cercado retira o leite das cabras, volta e coloca no pé da porta, no batente da casa, o recipiente com o leite para o bebê. Todos, cercados e cercadores, assistem aquela ação, aquele ato sem entenderem direito o que ocorre para fazer o cangaceiro tomar aquela atitude. E após alguém recolher a vasilha com o leite, em pouco instante ninguém escuta mais a criança chorar. Então o tiroteio recomeça tão intenso como estava antes do “intervalo”.

José de Souza a tudo assistiu através da ‘torneira’ em que se encontrava. Rajado ao passar pelo terreiro da casa com a vasilha com o leite, Souza o observava detalhadamente, nota que suas vestes estão em farrapos, e quando chega o momento de retirar-se, após sete dias de batalha, deixa, em agradecimento, no buraco da torneira em que se encontrava seu paletó, novo e inteiro, em um gesto de agradecimento ao cangaceiro “Rajado”.

“(...) Na ocasião, José de Souza constatou que o paletó de “Rajado” estava surrado e rasgado em muitos pontos... (...).” (Ob. Ct.).

Após muitas tentativas de ajudar, dos vizinhos socorrem, a fim de furarem o cerco colocado na residência de José de Souza, chega à ocasião em que se consegue uma “brecha”, entram e salvam o pessoal sitiado. Esse cerco ocorreu durante a Semana Santa e ficou conhecido na História como: “O Combate dos Sete Dias”... Nas quebradas do Sertão do Pajeú das Flores.

PS// FOTO DE UM CANGACEIRO COM AS VESTE QUE USAVAM ANTES DA ERA LAMPIÔNICA - "Um típico cangaceiro nordestino na década de 1920" (Bog Ct.)

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira

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