Por Clerisvaldo B.
Chagas, 18 de janeiro de 2017 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.621
Nas terras de
Palmeira dos Índios, Alagoas, um grupamento de serras volta-se para o Sertão.
Comanda essas alturas a serra das Pias, bela e perigosa e que liga por rodovia
Palmeira a Bom Conselho. Lá de certos meios da serra avista-se o magnífico que
é a planura sertaneja que se inicia nas proximidades de Estrela. Lá nos confins
do estado, o Maciço de Mata Grande e Água Branca, fazem o papel do grupo serra
das Pias, ao contrário. O que se avista daquelas altitudes é encantador e
calmante. E nessas particularidades que o Turismo ainda não descobriu, gozam
desse egoísmo pesquisadores privilegiados.
ENGENHO
RAPADUREIRO. Foto: (Rotamogiana).
Em certa
ocasião fomos até a periferia de Mata Grande, subindo bom pedaço de ladeira e
nos deparamos com um mundo escondido sertanejo. Um engenho de rapadura que atraía
de longe, pelo cheiro agradabilíssimo. O contato do rapaz criado nas planuras
com aquele ambiente de cana-de-açúcar fez despertar um novo sentimento de
exclamação, incredulidade e respeito. Como era possível o sertão produzir cana,
mel e rapadura se ele somente conhecia o raso de caatinga de feijão, milho e
mandioca! Aquele local de tanta fartura foi pelo rapaz comparado a serra do
Gugi, um oásis também no outro maciço do Sertão, o Maciço de Santana do Ipanema
do qual fazem parte a serra do Poço, Gugi, Camonga, Pau Ferro, Almeida, Bois,
Macacos e Caracol. Formações com mais de 30 milhões de anos.
E para quem
não sabe, podemos dividir o Sertão alagoano em três mundos: o das planuras, das
serras e do São Francisco. Cada uma dessas repartições tem cultura própria,
notada imediatamente pelo visitante vindo das outras. Tempos depois,
pesquisando para o IBGE nos confins de São José Tapera, o rapaz via passar ao
longe uma tropa de burros conduzindo rapaduras dos engenhos de Mata Grande para
as feiras do pediplano
E ainda no
futuro, fomos descobrir o assalto de Lampião aos tropeiros, levando
quatrocentas rapaduras, naquela mesma região. Produtos esses recuperados pela
metade pelo sargento Porfírio e sua feroz volante. As rapaduras que sobraram
estavam camufladas nas macambiras. Imaginem a farra das formigas!
Passado tanto
tempo de Sertão, as autoridades sertanejas continuam com a nova versão do
coronelismo. Todos só olham para o feudo com olhos no bolso do antigo tecido de
“manapulão”. E os nossos sertões velhos de guerra, sem progresso, sem
turismo, seu dólar, sem euro... Sofrem como pinto de capoeira no bico dos
carcarás.
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