Por José Romero
Araújo Cardoso
Quando criança
se constituía verdadeira diversão ajudar, talvez mais atrapalhar, querido tio
de nome João Onofre Cardoso a preparar canteiros de alho e cebola nas vazantes
do rio Apodi-Mossoró no percurso deste curso d´água no município de Governador
Dix-sept Rosado.
Ficava
encantado com a destreza do meu velho tio ajeitando cuidadosamente os
sedimentos depositados pelo escoamento superficial, trabalhando artesanalmente
um dos principais sustentáculos econômicos das famílias dix-septienses.
Culturas bastante
democráticas, as quais atendiam de forma significativa à geração de emprego e
renda para a população, sobretudo àquela parcela que dispunha de terras à beira
do rio, os plantios de alho e cebola tornaram-se um dos símbolos do lugar.
Governador Dix-sept Rosado ficou conhecida em épocas pretéritas como a capital
do alho.
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Compradores de
todos os recantos, espalhados Brasil a fora, procuravam o alho e a cebola
plantados em Governador Dix-sept Rosado devido à qualidade inigualável. Tranças
de alho eram penduradas no mercado, na estação, nos bancos das praças, nas
casas, enfim, em todos os lugares da cidade. Produziam-se em larga escala o
melhor alho e a melhor cebola, não havendo concorrentes para àqueles produtos
maravilhosos que eram beneficiados pela melhor terra ribeirinha do Estado do
Rio Grande do Norte.
As colheitas
eram festas indescritíveis, todos participavam de alguma forma. Era a garantia
de dinheiro extra, apurado além do que se ganhava na exploração de gipsita ou
em atividades agro-pecuárias as quais se dedicava e ainda se dedica a população
dix-septiense.
Em consórcio
com o alho e com a cebola plantava-se ainda batata que crescia enorme,
verdadeira garantia de subsistência às famílias. Quantas saudades daqueles
tempos, quantas alegrias tenho em minhas recordações dos plantios em vazantes
em Governador Dix-sept Rosado.
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O velho e
saudoso trem levava alho e cebola para vários lugares, pois era grande a
demanda pelos produtos extraordinários plantados e colhidos no meu querido
rincão potiguar, no município em que estão fincadas minhas mais profundas
raízes, terra heróica de encantos e prazeres que marca de forma extraordinária
minhas reminiscências de infância, terra que amo de todo coração.
Infelizmente a
década de oitenta do século passado foi marcada pelo advento de maléfico fungo
conhecido por mal-de-sete-voltas. O estrago foi total, fragmentaram-se as
culturas de alho e de cebola, nada prosperava quando dos plantios em vazantes
após a chegada de infernal praga.
Destruía-se de
forma violenta toda uma estrutura cultural que marcou por anos e anos a
coletividade dix-septiense. Difícil e caro de ser contido, o mal-de-sete-voltas
é responsável pela expressiva deficiência na insuficiência da qualidade de vida
do meu povo, restando apenas a saudade de uma época em que Governador Dix-sept
Rosado se destacava na economia do Estado do Rio Grande do Norte, entre outros
bens e serviços, devido a intensa produção de alho e cebola.
José Romero
Araújo Cardoso é geógrafo e professor da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (Uern)
FONTE: http://paulomartinsblog.zip.net/arch2009-03-15_2009-03-21.html
Enviado pelo autor José Romero de Araújo Cardoso
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