Por Clerisvaldo B. Chagas
07.08.1938.
Santana/Piranhas (AL)
Três ou quatro
dias após a remessa das cabeças para Maceió, chegava a Santana uma caravana da
Faculdade de Direito do Recife, composta dos acadêmicos Alfredo Pessoa de Lima,
Haroldo Melo, Décio de Souza Valença, Elísio Caribé, Plínio de Souza e
Wandnkolk Wanderley, todos em excursão e desejando ir diretamente a
Angicos.Coincidiu que estavam chegando notícias de que os abutres (urubus)
viviam sobrevoando o local do combate, sinal de que os corpos não haviam
sido bem sepultados.
O Tenente-Coronel Lucena resolveu então formar uma caravana com os acadêmicos e me disse que eu teria de acompanhá-los, menos como sargento do Batalhão, do que como correspondente do Jornal de Alagoas. Partimos, então para Angicos no dia 7 de agosto.
O Jornal nos
Municípios, Jornal de Alagoas de 18.8.38
‘Com a chegada
dos acadêmicos do Recife, tivemos de ir com eles a Angicos, local do combate,
lá sepultar os corpos deixados à toa. Encontramo-los já meio ressecados,
amarelecidos, a pele agarrada no osso como se a carne houvesse fugido. Já não
tinham pelos e era difícil a identificação. À vista daqueles, em plena
caatinga, o acadêmico Alfredo Pessoa fez um discurso capaz de comover até mocós
e preás que andassem por ali. E só então tive uma pequena ideia da atrocidade
da decapitação. Um corpo sem cabeça, onze corpos sem cabeça e o discurso do
Pessoa: que coisa de arrepiar cabelos! (FRUTA DE PALMA, 168).’
Na realidade
os corpos não haviam sido sepultados. Ficaram ali mesmo no leito do córrego,
cheio de pedregulho. Amontoado os onze, a tropa havia simplesmente feito um
montão de pedras por cima. Além de ser difícil cavar sepultura ali, a gana de
Bezerra e de seus comandados pelos troféus dos cangaceiros lhes havia retirado
todo o restinho de senso humano que possuíssem.
Ficamos ali
quase um meio dia, a cavar uma vala comum no mesmo local, pois não havia
condições de conduzir aqueles pedaços de gente para parte alguma fora do
córrego.
O célebre coiteiro Pedro Cândido era integrante da Caravana e, além de nos descrever as principais fases do combate que ele engendrara, mostrou-nos o corpo de Lampião, da mesma forma identificado por três ou quatro pessoas que integravam a caravana e que também conheciam detalhes físicos do Rei do Cangaço.
Se não foi a única (e não foi), foi uma das poucas vezes em que observei emoções no rosto do Tenente-Coronel Lucena: ao ouvir o discurso do acadêmico, encarando os pedaços de Lampião.
Fotografia dos
acadêmicos: Wandenkolk Wanderley (presidente)1, Elisio Caribé3, Décio de Sousa
Valença4, Plínio de Sousa5, Haroldo de Mello6 e Alfredo Pessoa de Lima2. A este
incumbia apresentar ao interventor federal em Pernambuco, Agamenon Sérgio de
Godoy Magalhães, o relatório da missão.
Uma
observação: O acadêmico n°4, Décio de Sousa Valença é o pai do famoso cantor
Alceu Valença.
Fontre: Blog
Clerisvaldo B. Chagas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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