Por André
Luis Mansur - Página do Adinalzir Pereira no Facebook
Fonte da imagem - http://bloggaleraquele.blogspot.com/2010/09/
Até a chegada
da estrada de ferro na região que seria conhecida como zona oeste, no final do
século 19, o único caminho para se chegar até lá era pela Estrada Real de Santa
Cruz, chamada anteriormente de Caminho dos Jesuítas, já que foram os padres da
Companhia de Jesus que abriram parte dela quando montaram sua importante
fazenda, em Santa Cruz. A Estrada Real, segundo o escritor Lima Barreto, era
mais importante para a economia nacional do que a elegantíssima e sofisticada
Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), centro econômico e social do centro
da cidade no século 20. A afirmação faz sentido se entendermos que aquela era a
estrada dos tropeiros, comerciantes, mineradores e donos de engenhos e
plantações de café, primeiro ponto para se chegar a São Paulo, Minas e às
riquezas do interior do Brasil.
Distrito
Federal(hoje cidade do Rio de Janeiro)- 1911 - Mapa de Olavo Freire - Fonte- BN - Para uma melhor visualização, clique no link abaixo, a estrada está ao lado da
linha férrea. http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart177671/cart177671.jpg - Pesquisa- Guaraci Rosa
Foi por ela
que D. Pedro I cavalgou para proclamar a independência, tendo descansado na
Fazenda de Santa Cruz durante a ida, no dia 14 de agosto de 1822, conforme
escreve Octávio Tarquínio de Sousa em “A vida de D.Pedro I – (vol. 2)”:
“Partindo da Quinta da Boa Vista, foi D. Pedro pernoitar em Santa Cruz e aí se
achava quando lhe anunciaram a presença de João Carlos Oeynhausen, vindo para a
Corte, de sua ordem. O presidente da Junta de São Paulo, a quem faria mais
tarde Marquês de Aracati e seu ministro, pediu-lhe em vão uma audiência: que se
apresentasse sem demora à Princesa Real D. Leopoldina e ao ministro José
Bonifácio, tal foi o recado transmitido pelo gentil-homem Canto e Melo”. D.
Pedro seguiu viagem e ainda passaria pela Fazenda de São João Marcos, em
Itaguaí. Na ida, levou 12 dias para chegar a Minas e na volta, depois de
proclamar a independência em São Paulo, foi direto para a Corte, fazendo o
trajeto em cinco dias.
Recorte
do mapa do Distrito Federal(hoje cidade do Rio de Janeiro)- 1911
Fonte- BN
Fonte- BN
Antes das
melhorias feitas na estrada durante o período em que D. João VI, encantado com
as paisagens mais afastadas do burburinho da Corte, passou a residir longas
temporadas na sede da fazenda, transformada em Palácio Real, era penoso
trafegar por ela. Para exemplificar, basta citar trechos dos diários de
naturalistas europeus, que começaram a visitar o Brasil após a chegada da Corte
portuguesa, em 1808. No livro “Viagem pelo Brasil”, os naturalistas austríacos
Johann Baptist von Spix e Carl von Martius falam do início de uma viagem pela
estrada, no dia 8 de dezembro de 1817: “Apenas havíamos enveredado pelo atalho
que sai na estrada larga de Santa Cruz, quando uma parte dos nossos cargueiros
se deitou no chão, outra parte se espalhou por entre casas e chácaras, e também
algumas das mulas se destacaram das caixas que levavam, e procuraram ganhar o
campo. Aumentou a confusão, quando o sr. Dürming, cônsul real da Prússia em
Antuérpia, e que se achava então no Rio de Janeiro e agora nos acompanhava, foi
lançado fora do animal assustado, e teve de ser carregado de volta à cidade,
com o braço fortemente magoado. Este espetáculo de selvajaria (sic) desenfreada
costuma dar-se na saída de todas as tropas, até que os animais se acostumem ao
peso da carga e se habituem a marchar em fila. Somente o nosso compatriota, o
sr. Von Eschwege, que aqui já tem feito muitas viagens por terra, se mostrou
impassível; nós, novatos na experiência, ficamos atarantados de ansiedade e
apreensão”.
Em 1917
começou a funcionar o sistema de diligências ligando Santa Cruz ao centro da
cidade. Diligências estas que não eram atacadas por índios, como nos filmes
americanos de faroeste, e tinham os seguintes horários, conforme conta Noronha
Santos, em “Meios de transporte no Rio de Janeiro (vol.1)”: “Partiam do Centro
às quatro horas da madrugada, para chegarem à fazenda real às nove e meia.
Voltavam às cinco e meia da tarde e chegavam à cidade às dez e meia da noite”.
Como se vê, a viagem a Santa Cruz era, de fato, longa e penosa, o que só mudou
com a chegada do trem, primeiro em Campo Grande (1878) e depois em Santa Cruz
(1882), que encurtou bastante o tempo do percurso e pôde integrar de forma
muito mais eficiente a região ao centro da cidade.
Hoje, o
trajeto da Estrada Real de Santa Cruz ainda se mantém em sua maior parte, com
poucas alterações, em vias como a Avenida Santa Cruz (que percorre boa parte
dos bairros da zona oeste), dom Helder Câmara (antiga Suburbana), Cesário de
Melo (em Campo Grande), estrada Intendente Magalhães (em Campinho) e estrada
Rio-São Paulo. Adolfo Morales de los Rios Filho fala sobre o termo “estrada
real”, que muitos julgam ter este nome por ter sido frequentada por D. João VI
e a nobreza. No livro “O Rio de Janeiro Imperial”, ele explica que “estrada
real”, na verdade, é o “caminho mais seguido, mais franco e, portanto, o que
apresenta menos riscos de dificuldades”.
André Luis
Mansur é jornalista e escritor - Colabora semanalmente com nossa página.
Pesquisa de
imagens- Guaraci Rosa
https://www.facebook.com/adinalzir.pereira/posts/10215634630234331?comment_id=10215641234839442&reply_comment_id=10215641347362255¬if_id=1531266914955866¬if_t=feed_comment_reply
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Ficou excelente essa postagem no seu blog.
ResponderExcluirAgradeço pelo apoio!