Por Sálvio Siqueira
Naquele tempo,
vários proprietários de terras tinham uma complicação a mais. Eram as ‘visitas’
quase que constantes das volantes e dos grupos de cangaceiros. Aquele dono de
terras que tinha ‘jogo de cintura’ sabia agradar as duas partes. Mesmo assim
era muito incômodo, pois estando um grupo, poderia, de uma hora para outra,
aparecer outro e a bagaceira estava completa.
Muitos dos
agricultores, fazendeiros e catingueiros não ajudavam de livre e espontânea
vontade tanto um como o outro lado. Sempre era um prejuízo alimentar vários
homens sem receber retorno algum de volta. Nesse sentido, os cangaceiros até
que pagavam por sua ‘estadia’ e alimentação, porém, as volantes não andavam com
dinheiro para isso, e aí, era só prejuízo mesmo.
Após a
informação passada de que através dos coiteiros chegariam aos cangaceiros,
muitos sertanejos viveram debaixo da chibata para ‘entregar’, principalmente
Lampião. Alguns sabiam e aguentavam o quanto podiam sem abrirem o ‘bico’.
Outros apanhavam e foram até mortos sem dizerem nada, por nada saberem... Mas,
as torturas em alguns fazia muito efeito e eles além de entregarem, muitas
vezes levavam a tropa até onde estava o bando de cangaceiros, isso de livre
vontade ou debaixo de cacete.
No município de Floresta, PE, havia um cidadão chamado Antônio Novaes, casado com a senhora Antônia Teodora de Novaes e moravam com seus filhos, que além de possuir terras era comerciante, além de ter o título de tenente da Guarda Nacional. Essa ‘patente’ era adquirida por uma espécie de vaidade, já que era comprada. Sua propriedade rural era denominada fazenda Favela, onde morava com sua família, e nela, tanto se arranchavam cangaceiros como volantes.
As sombras da
noite já havia coberto o vasto sertão
pernambucano, na noite do dia 10 de novembro de 1926, quando na sede da fazenda
Favela chega Lampião com cerca de 90 homens. O “Rei Vesgo” queria falar com o
Patriarca, porém este estava na sede do município e teve que falar com a
Matriarca, dona Antônia, conhecida por “Dona Aninha”. Avisa o chefe cangaceiro
que necessita de alimentos para sua cabroeira de uma quantia em dinheiro.
PS// a foto da 'cara' de Lampião
foi colorizada, digitalmente, pelo amigo professor rubens antonio.
Para Dona
Aninha aquela visita, de Lampião e seus homens, não era novidade nem a causava
medo. Rapidamente ordena que se faça comida para todos. Os homens enchem a
barriga e aqueles que não foram postos de sentinela, vão procurar algum lugar
em uma das várias casas da fazenda para dormirem. Lampião depois que assumiu o
bando não ficava a noite com todos, sempre ficava junto ao seu Estado Maior.
Naquela noite, na fazenda Favela, estavam junto ao “Rei dos Cangaceiros”, a
nata dos famosos cangaceiros como Esperança, Corisco, Sabino, Luiz Pedro,
Jararaca... E por aí vai.
Luiz
Pedro Cordeiro - ou Luiz Pedro de Siqueira ( José Bezerra Lima
Irmão)
Após receber a
patente de terceiro sargento, Zé Saturnino inverte as coisas e em vez de ser
caça, vira caçador. Pega seus homens e sai pelas quebradas do sertão no rastro
de Lampião. Nessa ocasião, estavam juntas as volantes do Anspeçada Manoel Neto
e do primeiro inimigo de Virgolino, que chegavam a oitenta ou noventa homens, e
seguiam exatamente os rastros do bando que estava na fazenda do tenente da
Guarda Nacional.
Seguindo os sinais deixados, em determinado caminho, a volante encontra um já conhecido ‘colaborador’ de Lampião chamado Emiliano Novaes. Conversa pra’ quí. arrocho pra’colá, Emiliano se desvencilha das perguntas e nada diz sobre o paradeiro do chefe mor do cangaço.
O sargento
Saturnino convence seu superior a liberar Emiliano. Assim acontece. ‘Raposa
Velha’, Mané Fumaça sabe que Lampião saberá em breve de quem estava em seu
encalço. Previne a tropa de que em toda moita pode estar uma emboscada
preparada por Virgolino.
Não podendo
mais seguir seu caminho. Emiliano Novaes retorna para sua casa e manda um
recado para seu protegido de que se prevenisse que uma poderosa volante estava
indo em sua direção. Lampião, como grande estrategista que era, reuniu seus
homens e passou para eles o que tinha planejado.
Nessa altura
dos acontecimentos, os militares já sabiam de onde esteva acampado Virgolino e
sua cabroeira. No romper da aurora do dia 11, já em terras da fazenda Favela,
os comandantes dividem sua tropa e começam a avançarem em direção a sede.
Estando Zé Saturnino e seus homens em cima do paredão do açude, notam que uma
pessoa estava dentro do curral do gado tirando leite. Não esperaram por mais
nada, abriram fogo. A pessoa largou o que estava fazendo e correu no rumo da
casa mais próximo em busca de salvar-se. Quem estava no curral era um filho do
dono da fazenda chamado Totonho Novaes.
O rapaz, na
carreira que ia, notou uma janela aberta e partiu para pulá-la. Nesse momento
Lampião diz:
“-Entra
menino, pra dentro de casa, que nós tamo cercado pelos macacos! ("AS
CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – SÁ, (Marcos De Carmelita
Carmelita) Marcos Antônio de. E FERRAZ, (Cristiano Ferraz)
Cristiano Luiz Feitosa. 1ª Edição. Floresta, PE. 2016)
A partir daí o
mundo se fechou para aquelas bandas. Os soldados atacavam e os cangaceiros se
defendiam. Mesmo estando preocupado com a luta, Lampião lembra-se da Matriarca,
e dar-lhe o seguinte conselho:
“- Dona
Aninha, bote as banheira na cabeça pra num furar a cabeça da senhora, que
macaco num tem o prazer de encostar aqui não.” (Ob. Ct.)
Havia várias
casas em volta da casa sede, inclusive uma nova. Mané Neto achando que Lampião
encontrava-se dentro dela chega e bate na porta. De dentro da casa uma voz
masculina pergunta quem bate e ele se identifica. Nesse momento uma saraivada
de balas parte de dentro da casa em direção a porta e janelas. Nessa hora
tombam dois bravos guerreiros, inclusive um que tinha apenas 17 anos de idade.
Além dessas mortes, outros foram baleados.
De uma outra
casa, os cangaceiros estão em fogo cerrado contra os homens de Zé Saturnino.
Lampião tinha ordenado ao cangaceiro Sabino Gomes que fosse para dentro do mato com parte da cabroeira e nada fizessem no início. Deixa-se a volante atacar e chegar o mais próximo possível de onde estavam. Esses entram no combate e caem em cima dos homens comandados pelo sargento Saturnino. De cara tombam quatro militares e outros ficam feridos.
O cangaceiro
“Esperança”, Antônio Ferreira irmão de Virgolino, vendo a tropa de Mané Fumaça
atacar a casa ‘nova’, chama alguns cabras
para saírem de onde estavam e irem combater de peito aberto. Nenhum dos
cangaceiros que lá estavam tiveram coragem de sair. "Esperança"
saltou para o terreiro, começou a entoar uma canção e começa a atirar em
direção a Manoel Neto.
(...)Totonho Novaes viu quando o bandido, colocou o chapéu no braço, à altura do cotovelo, e pulou para fora com o fuzil, indo na direção de Manoel Neto. Antônio atirava e cantava a oração de Santa Madalena(...).” ( Ob. Ct.)
Com várias
horas de combate, os militares se veem em uma situação difícil. Eram muitos os
pontos que tinham que cobrir, várias casas e os homens de Sabino, e resolveram
retirarem-se para evitar maiores baixas desnecessárias.
Esse combate
tem um saldo de muitas mortes. Da parte dos militares foram seis mortos e dos
cangaceiros, de imediatos três, sendo que outro corpo é encontrado já em
putrefação, dias depois, dentro da mata. Dentre os primeiros três tombados da
parte dos cangaceiros, encontra-se o cangaceiro “Sabonete”, que na verdade era
Pedro Celestino, por alguns, conhecido por Pedro de Ramiro... Nas quebradas do
Pajeú das Flores.
Fonte "AS
CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – SÁ, (Marcos De
Carmelita Carmelita) Antônio de. E FERRAZ, (Cristiano Ferraz) Cristiano Luiz
Feitosa. 1ª Edição. Floresta, PE. 2016
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
"O Canto do Acauã"
Benjamin Abrahão
"O Canto do Acauã"
Segunda fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?fref=ts
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário