Por Robério Santos
SAIBA
QUAL A RELAÇÃO ENTRE ITABAIANA E O CANGAÇO
O banditismo
social, como é rotulado por muitos, é um fato que atravessa os séculos. Começou
basicamente quando o colonizador europeu chegou por essas bandas no século
XVI trazendo a corja de malfeitores que nos viam como simples objetos de
lucro (mudou alguma coisa?). Começou a montar suas barracas no litoral e
explorando o interior em busca de ouro, prata, terra para o gado, lavoura
e umas indiazinhas safadas para seu deleite. Em Itabaiana não foi
diferente. Itapváma (segundo José Almeida Bispo, o V era colocado no lugar do U
por dificuldades tipográficas), cresceu muito desde quando Simão Dias
Francês nasceu debaixo da quixabeira no final do século XVI onde hoje fica
a Igreja de Santo Antônio e Almas. Este recém nascido era filho de um
francês com uma índia daqui do agreste, se tornou o primeiro itabaianense
e foi amamentado por uma cabra (Rômulo Dias ou Remo Dias?). Pronto,
a mentira vem de longe. Mas, uma pergunta que sempre me fiz foi: por que o
valente Lampião e seu bando
nunca invadiram Itabaiana, já que aqui tinha tanta riqueza na década de 20 e
30? Será que por medo do que podia encontrar aqui ou por ter amigos
coiteiros no local? Será que aqui a concorrência era grande por ter
bandidos ou heróis demais? Qual a relação entre o cangaço e Itabaiana? Foi
aí que fiquei encucado desde minha adolescência, quando comecei a bisbilhotar as
ideias históricas da terra da cebola (e também uns engraçados que disseram
que não há relação). Toca a procissão adiante.
Comecemos por um cabra ruim virado na gota serena. Seu apelido (aqui não
temos nomes de batismo): Mata Escura, parido em 1821 com o nome de (Santo)
Antônio (São) José e (Simão) Dias. Assassino e ladrão profissional, foi
levado à forca aos 25 anos de Idade no dia 08 de março de 1847 (primeira
vez que a forca foi usada em Itabaiana) após assumir nove assassinatos e
mais umas caridades (citado em Vila de Santo Antonio de Itabaiana, do
escritor Vladimir Souza Carvalho. Pg. 252, 2009. Aracaju-SE). Seu
enforcamento se deu em frente à Igreja Matriz de Santo Antônio e Almas de
Itabaiana. Mas, qual a relação dele com o cangaço? Bem, Virgulino só
nasceria 50 anos depois da execução de Mata Escura. Mas, dia 13 de março
de 1918, nas brenhas de Saco Torto, então povoado de Itabaiana, nasce Antônio
dos Santos, que onze anos mais tarde, ao viajar para a Bahia em 1929, dá
de cara com Lampião e é convidado a ingressar no bando deste. Passa a ser
chamado instantaneamente de Volta Seca e apelidado de “menino”.
Com o passar
dos anos, este mascote se mostra muito destemido e cruel, mas por um ato
heróico tenta salvar um amigo baleado e é pego pela polícia baiana em
1932. Durante sua passagem pelo bando, acabou compondo uma música em
ritmo de xaxado chamada “Sabino e Lampião”. Depois de sair da cadeia,
casou-se e foi morar no Nordeste, quando recebe um convite para morar em
São Paulo, do cineasta e diretor Lima Barreto, para assistir e criticar o
filme, O Cangaceiro (1953), mediante uma gratificação. O
excangaceiro condenou a cena em que Lampião chicoteia um cabra na cara.
Diz que nos sertões, não se faz isso com homem, se mata, pois cara de homem
no Nordeste é sagrada. Graças às novas amizades conseguiu emprego na
Estrada de ferro Leopoldina, onde trabalhou por vários anos. Por essas
desventuras, no ano de 1957, é chamado pela Rádio Nacional para gravar um
disco que retratasse as músicas do cangaço. Entre uma faixa e outra, há
ainda curtos trechos de narração de Paulo Roberto, o então apresentador da
Rádio Nacional. Neles, o radialista dá as devidas introduções às canções,
explicando-as com um tom romanceado característicos dos anos 50. Antes da
devida música, que citarei na íntegra adiante, ele fala:
“Quando entrou para o bando de Lampião,
Antônio dos Santos era um menino de apenas 11 anos. Passou desde logo a
ser Volta Seca, um simples tratador de Cavalos promovido mais tarde por
merecimento a bandoleiro de fuzil marchetado, facão de três palmos e
cartucheira cruzada. Agora, ele recorda a cantiga em que os cabras faziam
uma brincadeira perigosa, mas fariam o mesmo de mexer com o Capitão
Virgulino, o Terror do Sertão”.
Segue-se
abaixo a letra da música:
Sabino e
Lampião - xaxado
E lá vem
Sabino
Mais lampião
Chapéu de
Couro
E o Fuzil na
mão
Vem Sabino
mais Lampião
Chapéu
quebrado
E o Fuzil na
mão
Lampião diz
que é valente
É mentira, é
corredor
Correu da Mata
Escura1
Que a poeira
levantou
Lá vem Sabino
mais lampião
Chapéu de
Couro
E o Fuzil na
mão
Lampião tava
dormindo
Acordou muito
assustado
Deu tiro numa
brauna
Pensando que
era um soldado.
Volta Seca,
Cantigas de Lampeão, São Paulo-SP, 1957 Volta Seca cita Mata Escura como
se fosse algo amedrontador, capaz até de botar para correr o Capitão
Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião. Lógico, pode ter
sido inconsciente, mas o terrorista itabaianense do século XIX era algo
que servia de inspiração para os pais dizerem em tom de ameaça a seus
filhos: “Vá pro mato não, Mata Escura te pega”, da mesma forma que se fala
de saci, caiporas e luzernas. Há também uma entrevista feita com Volta
Seca pelo Grande cartunista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor,
Millôr Fernandes para o Pasquim de setembro/outubro de 1973, no221. Em uma
abertura simples e uma resposta seca inicia-se a entrevista:
“O Pasquim
encosta na parede O „Jésse James‟ do nordeste: ‘Volta Seca’ - O
cangaceiro Millôr - Você morava a que distância de Aracaju? VOLTA
SECA - A seis léguas. Em Itabaiana Grande.”
Viagem minha?
Pode até ser, mas que é lógica é. Podem contestar. Vocês não viram nada
ainda. Vamos para a próxima relação? O cinema. Pois é, o cinema... Segundo
relata Joãozinho Retratista no jornal O Serrano, no 187 de 10 de dezembro
de 1972 na matéria História do Teatro e do Cinema em Itabaiana: “Nos
meados da primeira década deste século (ainda no XX), um trio, composto
por Santinho de Tetéu, Zezé da lagoa e Oseas Preto, montou o primeiro
cinema fixo em terras de Itabaiana. Funcionou ele, na Rua Tobias Barreto (Rua
do Futuro), esquina com a General Siqueira, em casa especialmente para se
servir de sede do cinema. Demorou pouco, e apesar da aceitação popular, o
trio dispersou-se, e o cinema foi parar em Capela”. Pois bem, agora o
cinema estava instalado lá pra riba depois dos Enforcados (atual Nossa
Senhora das Dores). Dando voltas em páginas dos livros sobre o cangaço
acabei me deparando com um fato interessante sobre Capela: o dia que Lampião
foi ao cinema. O lagartense Ranulfo Prata em 1934 já havia narrado este
fato, mas foi mesmo no livro do jornalista Fernando Portela e do advogado
carioca Cláudio Bojunga no aclamado livro Lampião, O Cangaceiro e o Outro
de 1982, que encontrei mais detalhes sobre o evento. No capítulo VI
“Capela se rende e Lampião vai ao cinema”, tem um trecho interessante:
“O telegrafista de Capela estava no cinema sentado ao lado do Juiz de
Direito. Era o dia 15 de outubro de 1929. (...) o filme se chamava O Anjo
das Ruas. Janet Gaynor se agitava, portanto na tela do único cinema
daquela cidade (...). (após entrar no cinema a sombra de Lampião foi projetada
na tela) Quem virou a cabeça (e todas se viraram) viu o Capitão Virgolino em
pé, perto da última fila. Pavor, pânico, reboliço. Lampião gritou „daqui
num sai ninguém.
Anos no
futuro, em uma película de Paulo Caldas e Lírio Ferreira de 1996
chamada Baile Perfumado (filme centrado nas fotografias e filmes de
Benjamim Abrahão) há uma citação clara a Itabaiana. Era assim: “Ói, os
Firimento foram muitos. (...) O derradeiro (ferimento) foi coisa leve aqui
no quadrí, lá em Pinhão, „Tabaiana‟, 1930”. A descrição dos “ferimentos”
de Lampião, encontra-se também inserida no livro "Quem foi Lampião”
pg. 151, do renomado pesquisador/escritor, Frederico Pernambucano de
Mello. Assim se deu a passagem pelo cinema de Capela com a aparelhagem de
Itabaiana e no filme nacional. Acha pouco? Não viu nada, pule
para o próximo parágrafo, cabra!
Agora vamos
aos coiteiros e intrigados. Segundo Luis Antônio Barreto em “Lampião
em Sergipe II”, publicado em 09 de julho de 2004 nas páginas do portal na
internet, Infonet: “Antes de chegar a Poço Redondo em 29 de abril de 1929,
Lampião esteve em Ribeirópolis, Pinhão e no povoado do Alagadiço,
pertencente a Frei Paulo. Parecia procurar alguém ou reconhecer um terreno
onde contava com amigos, como Otoniel Dória, de Itabaiana, terra de Volta Seca.
A amizade entre Lampião e Otoniel Dória certamente evitou a entrada do
cangaceiro e do seu grupo em Itabaiana. No dia 21 de abril Lampião estava
em Ribeirópolis, de lá foi para Pinhão, voltou para Ribeirópolis, foi a
Alagadiço, seguindo viagem até chegar a Poço Redondo, a terra que mais
contribuiu com gente – homens e mulheres – para os bandos de cangaceiros”.
De Saco do Ribeiro (Atual Ribeirópolis) Lampião manda uma piadinha para
Itabaiana. Segundo Ranulfo Prata em “Lampião”, nas páginas 84 e 89 de 1934
diz: “Do Saco do Ribeiro-SE, lugarejo da fronteira (com Itabaiana),
telefonou ao delegado de polícia e chefe de Itabaiana/SE, Otoniel Dórea,
chamando-o de „colega‟. - Colega, por quê? Indaga intrigada, a
autoridade. Explica Lampião: -„Pruque você é cego de um oio cumo eu!‟“,
finalizou esse bate papo produtivo de mangações entre os dois cangaceiros
(agora fui eu quem zoei kkkkkk).
Lampião mandou um cabra segurar a malcriada, levantou-lhe a saia e deu-lhe vinte rebengadas com gosto”. Ao ser indagado sobre o fato, Tonho disse: “Rapaz, o povo conta né?”. Quem mora por essas bandas sabe muito bem como é isso.
O segundo
relato citado em livros sobre Itabaiana e o cangaço é no livro
autobiográfico de Ilda Ribeiro de Souza, mais conhecida como a Cangaceira
Sila, esposa de Zé Sereno. O livro me foi cedido por Fefi que
provavelmente será um dos primeiros a ler este texto. No livro de 1995,
publicado no Recife e de nome Sila, Memórias de Guerra e Paz ela relata
algo extraordinário sobre Itabaiana. Segue-se adiante partes do capítulo
que narra os fatos de 1938, depois da Tragédia de Angico, páginas 54, 55 e
56:
“(...)Ficamos
no mato, nas terras de Sergipe, aquela cena triste não saia da nossa
imaginação, andamos muitas horas sem trocar nenhuma palavra (...). Fomos
para a fazenda de Etelvino (Mendonça), um fazendeiro de Itabaiana; era de
confiança, amigo nosso e valente, porque para ter amizade com cangaceiro,
precisava ser destemido e valente.
Zé Sereno
disse a Etelvino, que eu precisava fazer um tratamento dentário. E indagou se
podia fazer. Etelvino disse que eu podia ficar lá em Itabaiana, pois teria
todo cuidado, em não atacarem. Então Zé disse a Etelvino, que eu ia me
preparar e Etelvino ficou de marcar a hora, o dia do dentista (...). Fui
para a casa de Etelvino, como estava combinado. Zé Sereno continuou no
mato (...). Todo dia eu ia ao dentista com Etelvino. O dentista porém, cheio
de curiosidade, começou a me indagar:
– Onde você
estudou? Onde comprou essas roupas? De onde você é? (Itabaiana nunca muda
mesmo).
Saí da casa de
Etelvino e fui para a casa de Fonseca, que também era amigo de Zé Sereno
e delegado de Itabaiana. Terminei o tratamento.
Zé Sereno
organizou um baile de despedida do cangaço, em Pinhão; com a força
sergipana estava com os cangaceiros, principalmente contra Zé Sereno
(porque ele se entregaria às forças da Bahia), houve um tiroteio e um
soldado foi morto.
Os macacos
observaram e viram que eu não estava presente. Começaram então a
me procurar. Fonseca soube dessa notícia.
Chegando em
casa, contou-me sobre o tiroteio em Pinhão e falou: Em minha casa eles
só tiram você se passarem por cima de meu cadáver.
Seguiu para a
rua. O ambiente já estava calmo. Recebemos uma carta de Zé Sereno,
avisando que ia mandar um coiteiro me buscar. Para sair da cidade, foi
muito difícil; todos já sabiam que eu estava na casa de Fonseca e podiam
me atacar para se vingar de José. O coiteiro chegou à casa de Fonseca, ele
havia deixado os animais fora da cidade, para ninguém desconfiar.
Saímos pelos
fundos da casa à noite, pegamos os animais e seguimos. Zé Sereno já
estava em um local me esperando (...)”.
Ilda Ribeiro
de Souza (Sila), relatando os fatos de 1938 após o massacre de Angico.
Segundo o
Advogado Bosco Carvalho, o dentista que tratou Sila foi Dr. Alfredo
e segundo Fefi, o delegado Fonseca (mais conhecido em Itabaiana como
Fonsequinha) foi indicação de “Dorinha”, ou melhor, Otoniel Dórea. Outro
comentário foi feito pelo ilustre Mozart Fonseca. Este jura de pé junto
que o tal dentista que tratava cangaceiros era o senhor Antônio Agostinho
de Oliveira, seu pai, que na época também era promotor público. Um fato
marcante de nossa Itabaiana, esquecido pela cidade e lembrado na memória
da já falecida excangaceira e sócia-honorária da Sociedade Brasileira de
Estudos do Cangaço (SBEC), Ilda Ribeiro de Souza, conhecida como Sila de
Zé Sereno. Faleceu em São Paulo no dia 15 de abril de 2005. Ela era
natural de Poço Redondo-SE e tinha 80 anos quando foi para o céu
dos carneirinhos.
Lampião esteve
uma primeira vez no Pinhão, que pertencia a Itabaiana nas décadas de
20/30. Segundo Juarez Conrado (in memoriam), no seu recém lançado “Lampião:
Assaltos e Mortes em Sergipe”, ele fala no capítulo 11 que “(...) Lampião
esteve a 22 de abril de 1929 no lugarejo Pinhão, onde, embora não
cometendo qualquer atrocidade, em companhia de Ponto Fino, Moderno,
Corisco, Luis Pedro, Mariano, Arvoredo, Volta Seca (Menino), Labareda
e Fortaleza, promoveu grande saque”. Um personagem que guardou muito bem esse
fato se chama
Joãozinho Veneno que foi matéria do jornal Cinform em 06 de maio de 2001 na
edição 942. João Batista da Costa, conhecido em Pinhão como Joãozinho de
Danona ou Joãozinho Veneno, nascido em 04 de julho de 1914 no povoado
Lagoas. Ele foi duas vezes vereador, caminhoneiro e delegado, tudo em
Itabaiana. Pelas bandas de Itabaiana ele era conhecido como Joãozinho da
Padaria, como relata Fefi e Zé Almeida ao serem perguntados se conheciam o
cabra. Falecido em 05 de janeiro de 2007 viveu a vida inteira narrando os fatos
da passagem de Lampião por duas vezes no Pinhão. “de dez palavras que
falava, ele tinha que pôr Lampião no meio”, relatou Zé Almeida. Um dos
fatos mais marcantes, relatado por Joãozinho foi o seguinte: "Na
passagem do bando de Lampião em 14 de outubro de 1938, o cangaceiro Zé
Sereno matou o soldado José Paes da Costa". Com emoção ele continua
seu relato: "Quando chegou a volante, que veio brigar aqui à noite, o
Zé Sereno pediu ao soldado José Paes, que era amigo deles, para tirá-los da
cidade, porque eles não conheciam muito
bem a região.
Zé Paes saiu com os cangaceiros e, mais adiante, depois de tê-lo guiado,
sem mais nem menos Zé Sereno atirou nele, pelas costas, na traição. Não
tinha motivo, foi só maldade", trechos da matéria do Cinform.
Voltando ao capítulo 11 do livro
de Juarez Conrado: “(...) Entre os mais entusiasmado pelo bando
destacava-se o garoto Joãozinho, que aliás, fez amizade com o temível Zé
Baiano, coisa impensável, em se tratando de um bandido cruel e sanguinário
como ele”. Pois é, o livro foi lançado dia 14 de abril de 2011, Joãozinho
Veneno não se viu eternizado nas páginas do já falecido jornalista baiano
que foi conversar com São Pedro aos 79 anos no dia 25 de outubro de 2011.
Tá vendo? Era verdade de Joãozinho, muitos diziam que era lorota.
Mas, não para
por aqui as relações de Itabaiana com o cangaço. Agora vamos
para Terezinha Teixeira Lobo, filha do ilustre retratista Itabaianense
João Teixeira Lobo, o Joãozinho Retratista. Segundo Dona Terezinha: “Papai
tinha os negativos fotográficos que ele fez do bando de Lampião. Ele
passou a vida inteira contando essa história e mostrando as placas
de vidro em contraluz. Ele não os tinha revelado ainda, mas contava que
seu Etelvino Mendonça o chamou na época (1929 e eu nem era nascida ainda)
para tirar foto dos cangaceiros na fazenda deste. Chegando lá e vendo o
bando, papai que não gostava de armas (nunca precisou de
uma em toda sua vida), ficou amedrontado. Tanto foi que na hora de se fazer
um dos retratos, papai disse ao ver as armas apontadas para ele em pose
para a foto, disse: „virem essas armas pra lá, senão não faço a foto‟, o
medo das armas apontadas era maior que o temor ao bando naquele instante.
Muitos anos depois ele sai de casa novamente para fazer umas fotos das
cabeças do bando morto que passaram em cima de um caminhão
por „Itabaiana‟. Papai morreu em 1982 e junto com ele uma caixa de madeira
contendo esses negativos que sumiram, ninguém sabe onde foi parar”,
finaliza pela décima vez dona Terezinha, senhora de boa prosa e feliz de
quem tem alguns minutos com ela para um bom papo. Todas as
vezes que me conta essa história eu fico pensando “onde estariam os negativos?”.
Já sonhei inúmeras vezes com esse achado. Imaginem se achássemos
e revelássemos as fotos do nosso Benjamim Abrahão Tupiniquim?! Isso seria
o achado fotográfico do século. Outro fator é que, Etelvino pode ter
chamado Joãozinho para sua fazenda no Pinhão em 1929, este com 33 anos já
e no auge da carreira de fotógrafo. Já em 1938 ele pode ter ido fazer
fotografias de Sila, em sua passagem por Itabaiana ou até mesmo ido a
Maceió ou Salvador fazer fotografias das cabeças recém arrancadas no fatídico
28 de julho de 1938. Terezinha era uma jovem de apenas oito anos de idade,
mas cresceu ouvindo o pai contar
essas histórias que foram enterradas pelo tempo.
Por fim, em
2009 em oficina de cinema no Curso e Colégio Alternativo, eu e um grupo de
alunos produzimos um stop-motion de doze minutos chamado Lampião em
Itabaiana, usando quatro maquetes, 120 bonequinhos de barro e mais de 4000
fotografias para dar movimento a uma fictícia invasão de Lampião à
Itabaiana em 1930. O filme está completo no Youtube em duas partes no:
www.youtube.com/roberioxiquita.
Cangaço, tema
que nunca se esgota. Seja em livro, filmes, novelas, cordel, prosa popular,
músicas, memória, desenhos, cicatrizes, capitalismo, linguagem, roupas,
mentiras, piadas, comida, toadas, xilogravuras ou qualquer que seja a
forma cultural de se localizar em meio ao cangaço, ele sempre estará
presente. Seria assim o nosso bang-bang do Old-West norteamericano. Mas,
se for assim, os cangaceiros seriam os índios Pele Vermelha e os mocinhos
bonitões que atiram rapidamente sem pestanejar seriam José Osório de Farias,
o famoso Zé Rufino e seu bando? Pensando dessa forma, será que Lampião foi
bandido ou herói? Eu mesmo não me atrevo a me posicionar, só sei que se
Virgulino tivesse vindo para Itabaiana ele
teria sim asilo político e ai de quem mexesse com ele, tendo uns cabras
valentes (citando Wanderlei da Marcela), como General João Pereira,
Otoniel Dórea, Manoel Leite Sampaio, Etelvino Mendonça e o delegado
Fonseca. Imagine a cena, um novo bando de cangaceiros seria formado em
Itabaiana. Bem, olhando o corpo do texto e relendo, vejo que nada mudou,
pois Itabaiana ainda aporta assassinos, desocupados e coisas ruins. Os
lampiões existem e os coiteiros mais ainda. Proteção política e
assassinatos são o que não falta na nossa Sucupira Sergipana que teima em
continuar parada. Hasta luego, fiducansos!
Robério
Barreto Santos
É escritor,
fotógrafo, professor, cineasta,
jornalista e
de vez em quando historiador.
DRT/SE 1539
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário