Por José Romero
Araújo Cardoso
Figura ímpar e
querida da geografia humana dix-septiense, Raimundo Rosado da Costa é um
verdadeiro repositório de antigas histórias da pedreira, local onde nasceu e
conviveu por longos anos quando a antiga mineração de gipsita representava um
dos principais suportes econômicos mossoroenses.
Impossível
definir a emoção que é ouvir o fraterno primo Raimundinho contar as façanhas do
passado, verdadeiro retorno às emoções de uma vida cheia de encantos que
remontam aos relatos de Severino Cruz Cardoso, meu saudoso genitor, quando este
trabalhava e morava na pedreira em São Sebastião, hoje município de Governador
Dix-sept Rosado.
Na
simplicidade bucólica da casa alpendrada do Tirol, Raimundinho fita o horizonte
lembrando um passado distante e levando o expectador às aventuras vividas em
épocas passadas, como a da “botija” da pedreira.
Seguindo os
passos de Lourenço Menandro da Cruz, veio de Pombal, estado da Paraíba, irmão
deste de nome Jerônimo Menandro da Cruz, homem destemido e extremamente apegado
às coisas materiais. Logo o primo paraibano, assim como o irmão, despertou
estima e consideração dos parentes que vieram da terra de Maringá residir na
antiga Sebastianópolis.
Certa vez,
contaram-lhe que haviam sonhado com uma “botija” nos arredores da cabeça do
Eufrásio, abaixo do Tirol, no caminho para a Cajazeira. Jerônimo Menandro da
Cruz preparou-se para ir se deleitar com os valores que estavam abaixo do
solo.
Amolou
picareta e todos começaram a interpelá-lo o que estava se preparando para
fazer, respondendo que aquilo era para o trabalho diário na extração de gesso.
Munido de Bíblia Sagrada, saiu para o lugar indicado pelos “sonhadores da
botija”, parentes que gostavam de persuadi-lo a demonstrar seu apego
ao dinheiro, além de atos de bravura, como a facilidade que tinha em retirar
mel dos enxames que proliferavam na pedreira.
Preparado de
corpo e alma para arrancar a “botija”, Jerônimo Menandro da Cruz não percebeu a
presença próxima daqueles que o induziram a buscar em recônditos ermos da
mineração uma suposta soma em valores, enterrada em épocas passadas por pessoas
que não tinham aonde esconder suas economias, prática comum nos sertões de
outrora.
As primeiras
picaretadas revelaram um “sinal” da “botija”. Era um papel que assinalava a
riqueza enterrada no chão duro da pedreira.
Levando-o ao
nariz, Jerônimo Menandro da Cruz logo descobriu ter sido ludibriado, pois o
odor recente de fumo de rolo despertara sua desconfiança.
Em desabalada
carreira, meninos astuciosos da pedreira, entre os quais estava Raimundinho
Rosado, não esperaram para conferir a ira do velho parente que acabava de
descobrir ter sido “vítima” das artimanhas lúdicas dos familiares, os quais
buscavam apenas um pouco de diversão para amenizar o áspero cotidiano da velha
pedreira que abrigava a brava gente que desafiava as intempéries a fim de
disponibilizar gesso de excelente qualidade que era exportado para todo
planeta.
José Romero
Araújo Cardoso é geógrafo e professor da Uern.
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