Alberto
Santos-Dumont tirou a própria vida em um quarto do Grande Hotel de La Plage,
Guarujá, em 1932. O motivo, dizem alguns, teria sido uma profunda depressão
causada pela constatação de que o avião, seu invento, estava sendo usado para
fins militares. Virara um instrumento de morte e destruição.
Há testemunhas
que juram ter visto o inventor presenciar um bombardeio na ilha da Moela,
Guarujá, em frente à praia do Grand Hotel, pouco antes de recolher-se a seu
quarto para enforcar-se, com a própia gravata segundo alguns, com o cinto do
roupão de banho, segundo outros. Há quem diga que o motivo do suicídio foi uma
desilusão amorosa. Alguns dizem que seu sobrinho e companheiro, Jorge Dumont
Villares, o abandonara. Outros dizem que a cantora lírica Bidu Sayão, casada
com Walter Mocchi, visitava Santos-Dumont no Grand Hotel. Há mesmo quem diga
que o inventor era apaixonado por Dona Olívia Guedes Penteado.
O fato é que
Alberto Santos-Dumont não desceu para almoçar em 23 de julho de 1932. Os
funcionários do hotel arrombaram a porta do quarto 152 (onde Dumont se
hospedava, reservando o quarto 151 para seu sobrinho, Jorge) encontrando o
inventor já sem vida.
Quatro anos
antes, em 3 de dezembro de 1928, Santos-Dumont voltava ao Brasil à bordo do
navio Cap Arcona e vários intelectuais e amigos do inventor planejaram
prestar-lhe uma homenagem. Pretendiam lançar uma mensagem de boas vindas em um
paraquedas e estavam todos à bordo de um hidroavião batizado com o nome do Pai
da Aviação. Depois de uma manobra desastrada, o avião caiu no mar matando todos
os seus ocupantes, entre eles vários amigos de Santos-Dumont, tais como Tobias
Moscoso, Amauri de Medeiros, Ferdinando Laboriau, Frederico de Oliveira
Coutinho, Amoroso Costa e Paulo de Castro Maia.
Santos-Dumont
fez questão de acompanhar por vários dias as buscas pelos corpos, após o que
recolheu-se, primeiro a seu quarto no Hotel Copacabana Palace, depois a sua
casa em Petrópolis, onde entrou em profunda depressão. Após algum tempo, voltou
a Paris, internando-se em um sanatório nos Pirineus.
A insistência
em creditar aos irmãos Wright a invenção do avião incomodava Santos-Dumont, que
levou seu 14 Bis ao ar em outubro de 1906, sem recorrer a qualquer artifício.
Os americanos voaram somente em 1908 e seu aparelho alçava vôo apenas com o
auxílio de uma catapulta.
Antonio Prado
Júnior, exilado em Paris, foi visitar o amigo Santos-Dumont em Biarritz e
constatou seu total abatimento, imediatamente telegrafando à família do
inventor para que esta tomasse alguma providência. Jorge Dumont Villares foi
buscar o tio na Europa e passou a ser seu inseparável companheiro no Brasil.
Em São Paulo,
Alberto Santos-Dumont ia à Sociedade Hípica Paulista e ao Clube Athlético
Paulistano. Passava muitas tardes também na redação do jornal O Estado de São
Paulo. Recebia também a visita quase diária do médico Sinésio Rangel Pestana,
que recomendou ao inventor uma temporada no Guarujá, para tratar de sua
delicada saúde.
Lá,
Santos-Dumont passou seus últimos dias, passeando pela praia, conversando com
crianças, entre elas Marina Villares da Silva e Christian Von Bulow, que
moravam no balneário. Christian conta ter presenciado Santos-Dumont chorando na
praia após ver o bombardeio do cruzador Bahia, por três aviões “vermelhinhos”,
leais ao Governo Federal, na ilha da Moela. Algum tempo depois, naquele mesmo
dia, o inventor teria tirado a própria vida em seu quarto no Grande Hotel. Um
pouco antes recebera a visita de Edu Chaves, com quem havia conversado sobre o
bárbaro destino da aviação.
A certidão de
óbito do inventor ficou “sumida” por 23 anos. Quando foi encontrada, dava como
“causa mortis” de Santos-Dumont um suposto “colapso cardíaco”. Não ficava bem o
herói nacional ter cometido suicídio.
O próprio
Governador da época, Dr. Pedro de Toledo, determinou: “Não haverá inquérito.
Santos-Dumont não se suicidou.” Cumpridas as ordens do Governador, somente a 3
de dezembro de 1955 seria registrado o óbito.
Santos-Dumont
entrou em depressão ao ver seu invento sendo usado para lançar bombas sobre
inimigos de guerra.
Imaginem o que
ele sentiria se pudesse presenciar as cenas que o mundo todo viu, de aviões
civis sendo atirados contra as torres do World Trade Center e contra o
Pentágono, em covardes ações terroristas.
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