Por Archimedes Marques
Dias atrás postei nas redes sociais um artigo intitulado AS BESTIAIS VIOLAÇÕES OFICIALIZADAS SOBRE O CADÁVER DA CANGACEIRA NENÉM, um texto elaborado com base nas escritas oficiais de alguns historiadores/escritores nos seus devidos livros, texto esse que relata a trajetória final da cangaceira conhecida por NENÉM DO OURO, companheira do cangaceiro Luís Pedro, braço direito de Lampião. Traça a trajetória final dessa cangaceira que horas depois da sua morte, segundo moradores antigos do povoado MOCAMBO situado no município de Frei Paulo, que na época se chamava São Paulo, relataram para alguns historiadores que o corpo da cangaceira Neném teria sido usado sexualmente pelos policiais vencedores que até instigaram os cães da redondeza colocando-os para cheirar as partes íntimas da defunta para que tais animais fizessem o mesmo.
Não quero aqui criticar ou mesmo identificar os nomes desses historiadores que agora não vem ao caso e que por certo se basearam nas entrevistas que fizeram com os antigos moradores da região, apenas fazer uma ressalva a um dos textos, vez que o autor generalizou como sendo usual essa pratica dos policiais volantes quando da morte das cangaceiras, senão vejamos:
Luiz Pedro e Neném do Ouro colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio
“Em setembro morreu Neném, mulher de Luís Pedro, atingida por uma bala disparada pelas Volantes durante um cerco a uma casa na Vila de Pinhão, em Sergipe, causando profunda tristeza a seu companheiro, choroso com a morte da sua companheira, abandonada no local da morte, servindo de pasto às bestiais vontades dos que a derrubaram. Essa prática das Volantes era usual ao desequilíbrio da moral dos cangaceiros.”
Não era e jamais foi uma prática usual das policias volantes vilipendiarem os corpos das cangaceiras mortas, pois se assim fosse a história não seria complacente com eles. Esse é o único caso existente nesse sentido.
Pensava eu a que referida história era conhecida de muitos, pois sendo disposta em livros destinados ao público em geral assim não seria tão criticada até mesmo por pessoas que se dizem estudiosas do tema cangaço. Ledo engano, alguns desses estudiosos/críticos também não são afeitos a leitura de livros, são estudiosos da nova geração da internet e por isso logo imaginaram que o texto tenha sido criado por mim, sem base alguma, inventivo, quando na verdade apenas o adaptei às minhas palavras, sem nada forjar, sem nada aumentar.
Assim, o texto ganhou grandes proporções nas redes sociais e por conta dessa publicação surgiu algo novo, algo sensacional que muda para sempre essa história tenebrosa e vergonhosa, uma grande novidade que para mim, um pesquisador que prima pela história real ou pelo menos a história mais verossímil possível, muda para melhor, muda para normal e a mais plausível, a real morte da cangaceira Neném. Fiquei duplamente alegre em ver que foi por conta do lançamento do meu artigo que essa história é agora resgatada com a sua bem provável verdade, pois se dependesse do alcance dos livros, ela jamais seria resgatada.
Desse modo tomei como grata surpresa um telefonema do amigo historiador ANTÔNIO PORFÍRIO DE MATOS NETO, nascido no povoado Alagadiço, próximo ao povoado Mocambo, nobre membro da Academia Sergipana de Letras, estimado Confrade da Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço, que me passou a seguinte história:
Há alguns anos atrás um antigo soldado conhecido por Zé Pequeno, que serviu em Aracaju junto com o pai do citado pesquisador, mas que era de origem do povoado Mocambo, em uma das suas andanças de pesquisas na área o chamou para mostrar o local exato da morte de uma cangaceira que ele achava ser a Maria mulher de Jurity, mais de perto, na fazenda Salgado. Sabedor que a cangaceira morta na redondeza tinha sido a Neném de Luís Pedro e não a Maria de Jurity que morreu de velhice bem mais adiante, referido pesquisador corrigiu o soldado Zé Pequeno quanto a essa troca de nomes. E foi daí que o seu tino de pesquisador nato, curioso, colheu maiores detalhes, tendo o Zé Pequeno lhe confidenciado que na verdade o soldado JUSTINIANO MOREIRA DE MORAES, então chefe do destacamento policial do povoado Mocambo, tinha sido o autor da morte da cangaceira Neném e não o sargento Deluz como todos afirmam ter sido.
Segundo o relato de Zé Pequeno que lhe contara o seu amigo soldado Justiniano, a quem ele chamava de “Neguinho bom de tiro” naquela madrugada, ainda escuro, foi chamado na sede do destacamento por um roceiro dizendo ter visto algo de anormal na fazenda Salgado, pessoas com as características de cangaceiros. Sem pensar duas vezes o bravo e destemido soldado, reuniu o seu pessoal que na soma total dava cinco policiais e partiram para o local e ali provocaram o tiroteio sem saber quantos cangaceiros tinha do outro lado do fogo e vice-versa. Uma aventura arriscada, portanto. Assim, os cangaceiros resolveram bater em retirada enquanto uma cangaceira tombou morta próximo a uma cerca de arame farpado ao lado da casa sede da referida fazenda.
Após a fuga dos cangaceiros, os ditos policiais também se retiraram da fazenda, deixando a cangaceira morta no mesmo local, se dirigindo em seguida para a cidade de Frei Paulo onde através do Código Morse comunicaram o ocorrido ao Quartel Central de Aracaju, enquanto a população local temerosa dos cangaceiros regressarem para resgatarem o corpo da colega morta, em polvorosa trataram de se trancarem nas suas casas ou esconderijos diversos da região, pois acima de tudo, temiam pela presença do próprio Lampião com um contingente bem maior, que só pelo nome já arrepiava de medo qualquer cristão.
E demorou mais de seis horas para os policiais de Aracaju chegarem ao local, vez que a guarnição mais próxima, a de Itabaiana também era irrisória para enfrentar o suposto perigo esperado por todos. Somente depois das três horas da tarde foi que chegou uma guarnição policial da capital junto com um perito do IML para fazer a devida autopsia no corpo da morta. Assim, o corpo da cangaceira foi transportado em uma rede para o povoado Mocambo e ali, no Mercado de Talho de Carne, foi colocado em uma das mesas para se fazer a devida autópsia para depois ser enterrado em cova rasa, sem identificação no cemitério local.
Complementando, segundo o que o soldado Zé Pequeno lhe falou que por sinal sabia disso através de familiares, algum tempo depois, ao invés do policial matador de Neném ser promovido conforme acontecia com as volantes de outros estados, ele foi exonerado pelo governador Eronides Ferreira de Carvalho, filho de Antônio Caixeiro, o maior protetor de Lampião em terras sergipanas. Verdade ou não, prefiro omitir a minha opinião quanto a esse fato.
Esses foram os informes que me passou o amigo Porfírio, em seguida, analisando, cheguei a seguinte conclusão por dedução que ao meu ver é a mais viável:
Os curiosos, que sempre bisbilhoteiam mesmo de longe, vez que o mercado estava bem guarnecido pelos policiais em prontidão, viram os soldados despirem a cangaceira e a colocarem totalmente nua em cima de uma mesa, para a devida autopsia, que eles sequer sabiam que existia tal ato, então, pensaram que se tratava de uma violação de cadáver. Os cães que sempre ficam em busca de migalhas em qualquer mercado de carne, completaram a mente fértil dos curiosos ao arrodearem o corpo da defunta quando dos preparativos da sua autopsia. Disso então correu o boato e dessa história souberam também os pesquisadores que mais adiante escreveram os seus livros, firmando como sendo verdadeiros esses fatos.
Essa é, na minha opinião a mais plausível história da morte de Neném do Ouro que assim era chamada por estar sempre toda emperiquitada com ouro e joias por todo o seu corpo, paparicada não somente por Luís Pedro, mas por todos os outros cangaceiros.
A quem interessar possa, também prestei entrevista na manhã de hoje ao amigo cineasta Aderbal Nogueira, conforme os links divididos em duas partes a seguir:
Aracaju, 14 de novembro de 2020
Archimedes Marques
Presidente da ABLAC
https://www.facebook.com/groups/179438349192720/user/1702018843/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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