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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

LUIZ GONZAGA – ENTREVISTAS – PARTE V

Por Antonio Morais

Os primeiros voos da Asa Branca - Postagem e vídeo dedicado ao professor Antônio Dantas.

Região: Asa Branca foi e é a composição mais laureada, mais difundida dentro e fora do País. É tida como uma espécie de hino nacional da música popular brasileira. É natural que lhe perguntemos: - Como surgiu a notável composição?

Gonzaga - Quando menino, aqui em Exu, eu era também um moleque fazedor de música. Naquela época não existia desenvolvimento cultural capaz de induzir na gente a importância daquilo que se estava produzindo. Era um fazer por um simples fazer. Mesmo assim, aquelas mais do agrado do povo eram por ele selecionadas e guardadas. Eram sempre as mais simples. Essas coisas que faziam com a ajuda do meu pai Januário, principalmente na conclusão da frase, saía cantando por aí, nos forros de pé de serra. Foi nesta fase de minha adolescência que me inspirei para fazer Asa Branca. Corria uma das grandes secas no Nordeste, castigando duramente o sertão. Interessante é que, ao chegar ao Rio (de Janeiro), em 1939, quando tentava conseguir fazer algo como sanfoneiro, frequentava a zona do Mangue e, nos fins de semana, aqueles famosos programas de calouros de Ary Barroso. Quando comecei a tocar era um verdadeiro assassino. Assassinava grandes compositores e cantores como Carlos Gardel, Frazão e Násser, Pedro Vargas, Elvira Rios, tentando imitá-los, pois, para mim, o importante era tocar e cantar coisas modernas, de gente grande e famosa.


Quem estava na moda, evidentemente, era essa gente toda. O negócio era imitar, sem dar bolas para aquilo que, na verdade, me levou a fama e ao sucesso dos dias atuais: a música popular, a música do meu pé de serra. Tempos depois, foi que acordei para realidade. Nessa fase de transformação, de passagem de um polo para outro, quando imitava os intérpretes famosos da música moderna, música erudita, muito devo a um grupo de cearenses. Foi o seguinte: O café onde eu tocava era muito frequentado por estrangeiros. Principalmente marinheiro. Nessa época o mundo inteiro usava o mar, o principal meio de transporte era marítimo. Isso na década de trinta, para começo de quarenta. Nesse ambiente, eu ganhava um dinheirinho dos gringos.

É aí que entra a história dos estudantes cearenses, universitários. Esse grupo tinha uma república na Lapa, e sempre ia assistir-me. Depois que fizeram intimidade comigo, passaram a exigir tocasse música daqui, música do sertão. Insistiram a ponto de ameaçarem que jamais, a partir daquela data, me dariam dinheiro, como vinham dando, numa colaboração com as minhas apresentações no citado local. Disse para eles que aquilo não dava música sertaneja não dava para aqueles ambientes, e mesmo eu queria tocar música de gente, música de sucesso.

Dias depois, após meditar muito, resolvi mudar de ideia. Em casa, preparei algo como eles gostariam de ouvir. Preparei um forró bruto mesmo, legítimo do pé de serra. Quinze dias depois, para surpresa minha e da rapaziada do Ceará, lancei a música que tinha preparado, e foi aquele sucesso. O local ficou apinhado de gente que foi preciso o dono do bar chamar a polícia para manter a ordem, pois todos queriam ver a minha apresentação do puro baião, do puro forró. Nesse dia, como costumava fazer, coloquei um pires para receber as contribuições dos presentes. Encheu ligeirinho, ligeirinho. Findei enchendo uma bandeja. A vibração dos estudantes foi maior do que a minha. Bom, velho, boa, cabra paidegua. Não lhe dissemos? Daí pra frente as coisas começaram a andar com maior rapidez. Tempos depois estava diante daquela figura admirável de Humberto Teixeira.

Creusa Morena - Valseado.

Fonte - Andanças e Lembranças.

Fonte principal: http://blogdosanharol.blogspot.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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