*Rangel Alves da Costa
Criaram o
amor. Não ensinaram a amar. Quanto mais se deseja aprender a amar, mais se erra
por avistar somente o espelho do prazer, e não a profundidade do verdadeiro
querer.
A solidão é
melhor, muito melhor que a multidão. O silêncio é melhor que o grito, a janela
fechada é melhor que a ventania entrando. Perante o outro a paz não existe,
pois o encontro interior e a autoestima sempre pedem o exílio interior.
O sexo, ou ato
sexual em si, é impuro e asqueroso. Na vida social ou em seu cotidiano, a
maioria das pessoas também é impura e asquerosa, mas sempre fingindo seriedade,
caráter e até inocência. Como os seus pensamentos sempre agem de modo
contrário, de forma pervertida e lasciva, o sexo se torna apenas na confirmação
daquilo que verdadeiramente é.
Pobreza,
carência, miséria, tudo com um nome só: a desvalia na vida. Mas não há desvalia
maior que fazer de sua condição econômica uma chama à submissão, à humilhação,
à escravização. Onde há retidão e caráter não há lugar para que o cabresto do
voto lhe tire o desejo de mudança e da escolha do que achar melhor.
A puta de hoje
é a mesma rampeira de ontem. Uma no shopping e outra no cabaré. A puta de luxo
de hoje é a mesma prostituta do bordel da luz vermelha de ontem. A garota de
programa de hoje é a mesma piranha de esquina escura de ontem. Michê, garoto de
programa, ontem era o mesmo rapaz que fazia o mesmo negócio. Nada mudou, apenas
progrediu e se desenvolveu em número assustador.
Não há como
atender aos apelos do mundo moderno. O ser humano não possui a mesma propulsão
que a máquina, não possui a força do motor, não se torna novamente novo com um
simples reparo. Desse modo, não adianta ser moderno e avançado dentro de um
corpo que não é tecnológico nem agindo por comandos informatizados. Ademais,
até o ferro enferruja.
Não há decisão
maior do que deixar de votar. Não votar em mais ninguém, e pronto. Liberta-se
de uma vez do remorso de um voto errado, de uma escolha que mais adiante traga
entristecimento. Lavar as mãos. Mesmo que os frutos das más escolhas não
recaiam apenas nos que escolheram, ao menos haverá o conforto de dizer que
sofre sem ter ajudado a causar tanto sofrimento.
A nudez é uma
coisa engraçada. A vestimenta também. Inegavelmente que é muito mais bonito e
atraente uma pessoa com roupa que lhe caia bem, que seja até vista como
sensual. Na sensualidade do corpo vestido há todo um jogo de encanto, de
fascinação e de imaginação. Logo se imagina a beleza daquele corpo em plena
nudez. Mas na nudez avista-se apenas um corpo nu, e já sem aquele despertar da
imaginação.
Poesia melosa,
floreada demais, não é poesia. Poesia tecida na rima forçada não é poesia.
Poesia cuidando dos mesmos elementos do coração, do mesmo amor impossível e da
mesma paixão desenfreada não é poesia. Poesia é o belo com simplicidade. É o
dizer de outra forma aquilo que o leitor se sensibiliza ao folhear.
Tem muita
gente sofrendo neste momento. Na Ucrânia, na Síria, na África, bem ali. Tem
gente sofrendo tanto neste momento que é até impossível imaginar o tamanho do
sofrimento. A dor corporal, a dor da fome, a dor da indignação, a dor do
abandono, a dor da desumanidade, a dor da perda da pátria e do lar, a dor de
não ter pra onde ir e de sequer saber se terá um amanhã. Uma dor tamanha, uma
dor tão forte, que é impossível imaginar a capacidade de o ser humano suportar.
Ontem choveu e
hoje mais cedo também. Sem ter muito que fazer, então eu peguei um lenço e saí
enxugando tudo, as ruas, os horizontes, até as nuvens. Quando mais eu enxugava
mais eu me sentia encharcado. Eu quis enxugar o mundo e não percebi que estava
chorando. Esqueci-me de enxugar as lágrimas de meus próprios temporais.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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