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segunda-feira, 7 de março de 2022

LAMPIÃO EM LIMOEIRO DO NORTE

 Por Kydelmir Dantas

Quando de uma ida a cidade de Limoeiro do Norte - CE, em 26 de janeiro de 1994, conhecemos e colhemos o depoimento de José Maia Guerreiro, então Diretor do Museu Histórico Municipal, sobre a passagem do bando de Lampião após o ataque e a derrota de seu bando em Mossoró no dia 13 de junho de 1927. Para nossa surpresa, apareceram fatos inéditos com relação ao que encontramos relatados e/ou citados na literatura lampionesca. Por exemplo: Na maioria dos livros relacionados ao tema, ou que falam sobre o ataque de Lampião a Mossoró, as famosas fotos do bando em Limoeiro são colocadas como de autoria de J.Octávio. Fotos estas feitas ao lado de um prédio que faz esquina com a praça central daquela cidade. Outra coisa é de que o bandido Massilon Leite, ou Benevides, não está naquela foto, como se vê grafado nos originais da mesma revelada pelo jornalista citado. Portanto, vejamos o depoimento que a nós foi dado:
“- Massilon Leite se encontrava conversando num banco da Praça mais o seu amigo Genésio Bezerra, quando foi convidado a participar do grupo que estava se arrumando para sair nas fotografias, hoje conhecidas mundialmente, e recusou-se. Disse que era muito conhecido no RN e que não queria sua cara em fotografias para não ser perseguido pela Polícia ou por seus inimigos. Essas palavras eu ouvi várias vezes da boca do próprio Genésio Bezerra.”

As fotos foram feitas, em 15 de junho de 1927, pelo fotógrafo Francisco Ribeiro (Chico Ribeiro), que por não ter onde revelá-las levou a máquina até Mossoró, onde o fotógrafo e jornalista José Octávio Pereira, que era dono do Laboratório fotográfico, revelou-as; inclusive assinou nas mesmas.

Qual a razão de Jararaca ter identificado Massilon nas fotos? Talvez por não reconhecer, nele, algum de seus companheiros ou confundi-lo com alguém?

Há controvérsias a respeito desta afirmação.

Segundo o Dr. Francisco Honório de Medeiros Filho, que ora faz uma minuciosa pesquisa sobre a Vida e Morte de Massilon Leite, em informação colhida junto à Família deste, “Anésio, irmão mais novo, encontrou-se com Manoel Leite (o Pinga-Fogo que esteve em Mossoró) em Imperatriz – MA, na década de 60, e, por não ter conhecido o outro irmão, abordou-o com a famosa foto às mãos: ‘- Manoel. Você pode identificar Massilon aqui?’ E este foi, de imediato, com o dedo sobre a figura do irmão, o 5º ajoelhado, da esquerda para a direita, entre Virgínio e Luiz Pedro, dizendo: - É este!” Para o Dr. Honório, com esta afirmação, não há dúvidas sobre a presença de Massilon na foto.

Em Limoeiro Lampião e seu bando foram recebidos com festas, pelas maiores autoridades locais, o prefeito, o padre e o juiz municipal. A Polícia se ausentou, para evitar confronto. O jantar foi servido a Lampião e seu bando no Hotel Lucas, hoje demolido para alargar uma das avenidas da cidade, ao lado da Igreja Matriz.

Quem foi o fotógrafo responsável pelas fotos famosas, existentes no Museu Histórico Lauro da Escóssia, em Mossoró? Ei-lo: Francisco Ribeiro de Castro ou CHICO RIBEIRO, como era mais conhecido, foi quem fez as duas fotos famosas do bando em Limoeiro do Norte, a 15 de junho de 1927. Sendo apenas fotógrafo, trouxe os filmes para serem revelados em Mossoró; este serviço foi feito no laboratório do Atelier Octávio. Como o laboratorista fez anotações nos negativos revelados e os assinou, até hoje, em quase todos os livros que estas fotos aparecem, dá-se crédito das mesmas ao jornalista José Octávio.

E o jornalista que assinou as fotos?

José Octávio Pereira Lima – (1895 – 1958), poeta, fotógrafo, diretor-proprietário do “Correio do Povo”, foi o responsável pelo trabalho de revelação e reprodução do documentário fotográfico feito por Chico Rodrigues, acima mencionado. Além das fotos que foram colhidas em Limoeiro, que ele levou ao cangaceiro Jararaca (José Leite de Santana) para identificar seus companheiros e grafou a data de 16 de junho daquele ano, J. Octávio foi também o responsável pelas outras que fez de Jararaca e outros cangaceiros que por aqui estiveram detidos. Deixou, assim, um preciosíssimo documentário iconográfico do famigerado bando.

Graças ao seu trabalho, o Museu Histórico Lauro da Escóssia tem o mais fiel acervo fotográfico do grupo de Lampião e das trincheiras da resistência, à época da tentativa de assalto a nossa cidade. É o patrono da Cadeira nº 04 da Academia Mossoroense de Letras – AMOL. Publicou entrevistas de cangaceiros e escreveu longos artigos sobre banditismo. Escreveu em versos populares: “A Derrota de Lampeão em Mossoró”“A Vida e Morte de Jararaca”, e outros episódios.

Agora , uns adendos:

- Já vimos várias publicações com aquelas fotos, que colocam-nas como se fosse José Octávio o autor, e com uma parte rasgada. O que faz as pessoas colocarem haver apenas 3 prisioneiros (José Moreira, Coronel Antonio Gurgel e D. Maria José) no grupo em Limoeiro do Norte. A original, do acervo do Museu Histórico Lauro da Escóssia, em Mossoró, está completa e aparece o nome do quarto prisioneiro: Manoel Barreto Leite.

- No livro - Nas Garras de Lampião - de Antonio Gurgel & Raimundo Soares de Brito, foi incluído, pela primeira vez, uma pequena biografia do autor das fotos em Limoeiro do Norte, o fotógrafo FRANCISCO RIBEIRO (Chico Ribeiro), em pesquisa realizada naquela cidade e citações de livros de autores cearenses.
- Algumas publicações, - revistas de história, revistas culturais e/ou livros - principalmente nos últimos anos, que fazem e apresentam reportagens, e artigos sobre Cangaço, colocam as fotos como pertencentes ao acervo da Família Nunes Ferreira.

Menos a verdade! Que nos consta, estas fotos pertencem ao acervo da Família do fotógrafo Francisco Ribeiro e, noutro caso, ao acervo do Museu Histórico Lauro da Escóssia, de Mossoró e da Família do José Octávio Pereira Lima. Esta é que é a nossa impressão e certeza.

(*) Pesquisador e poeta. Ex-presidente da SBEC.

http://lentescangaceiras.blogspot.com/2008/07/lampio-em-limoeiro-do-norte.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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