Por Sérgio Dantas
Mossoró, 12 de março de 1928. A cadeia pública passava por minuciosa revista. Prisioneiro recambiado para a cidade de Apodi deu conta às autoridades de plano de fuga encabeçado pelos cangaceiros Mormaço e Bronzeado. O objetivo da empreitada - segundo o delator - seria o aprisionamento do carcereiro e a tomada das armas depositadas no paiol.
A polícia não
titubiou e investigou sumariamente a denúncia. Descobriu sinais de arrombamento
em porão localizado no setor norte do presídio. Sem maiores rodeios,
responsabilizou os dois cangaceiros por tentativa de fuga e os imobilizou à
força de algemas(PIMENTA,1999).
Na manhã
seguinte, decidiu-se pelo encaminhamento dos prisioneiros para a capital. O
tenente Laurentino ficou encarregado de facilitar o transporte. Além de Mormaço
e Bronzeado, seriam de igual recambiados os criminosos Thomaz dos Santos e
Waldemar Ramos, presos comuns, detidos há meses na cidade salineira.
A ordem de
transferência para Natal - segundo insinuações surgidas no período subsequente
à eclosão do movimento revolucionário de 1930 - partira do Governo do Estado,
ainda na véspera.
Fato concreto,
imaculado de dúvidas, é que a transferência em discussão foi efetivamente
autorizada.
Entre Mossoró
e Assú, no sítio Lagoa Serrada, os bandoleiros encontraram a morte. Foram
fuzilados.
A terrível
chacina, entretanto, presto foi maquiada sabe-se por quem. Espalhou-se, dia
seguinte, notícias de que os bandidos forjaram uma briga entre si. Após,
renderam um policial e tomaram-lhe o fuzil. Ato contínuo, Mormaço fuzilou os
companheiros e se suicidou em seguida.
Outra versão
deu conta que os bandidos tentaram fugir e foram alvejados pelos
militares(NONATO, 1998).
O laudo
oficial apontou vigorosa luta entre os criminosos, resultando a morte de cada
um deles(PIMENTA, 1999).
Certo é que,
pela manhã cedinho, corpos foram encontrados na beira da estrada.
Não se chegou
à época, a ser apresentada a sociedade civil versão verossímil para o caso. Não
houve, ao que parece, grande interesse em revelar ao público a covardia
praticada contra os ex-celerados de Lampião. Jornal de Mossoró, "O
Nordeste", ponderava a desnecessidade de investigação mais apurada.
Indiretamente, atribuía pouca relevância ao fato.
Sustentado no
ataque dos cangaceiros à cidade em 13 de junho do ano anterior - como
justificativa para a execução dos presidiários - o seminário disparava:
"Façamos um retrospecto do passado. Meditemos sobre o abalo moral de
nossas famílias e sobre algumas funestas consequências sabidas, entre nós;
reflitamos sobre os roubos violentos e desalmados, por aí afora, a honestos e
laboriosos chefes de família, sempre injuriados fortemente; nas prisões, destes
e destas senhoras, conduzidos a trancos e barrancos como reféns; nos
desvirginamentos impetuosos e estupros monstruosos a senhoras casadas.
E concluia o
artigo, como misericordioso e justo pretor: "O silêncio devia ser a nosso
única "palavra" de justiça, ainda que um grande sentimento de piedade
protestasse intimamente, contra a execução dos bandidos".(PIMENTA, 1999,
p.81).
Pouco depois
da execução dos famosos cangaceiros, levantava-se a suspeita de que o bandido
Miguel Inácio dos Santos, o "Casca Grossa", também fora fuzilado e
sepultado furtivamente, ao final de fevereiro, dias após prestar depoimentos a
polícia de Martins.
A cultura da
morte sumária disseminava-se franca também pelo Rio Grande do Norte.
Fonte:
DANTAS,
Sérgio. Lampião e o Rio Grande do Norte: a história da grande jornada. 2.ed.
Cajazeiras: Real, 2014.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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