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sábado, 21 de dezembro de 2019

40 ANOS EM NOVEMBRO ÚLTIMO, DA MORTE DO MAIOR PERSEGUIDOR DO CANGACEIRO VIRGULINO LAMPIÃO, O NOTÁVEL MILITAR PERNAMBUCANO MANOEL DE SOUZA NETO. O "DIÁRIO DE PERNAMBUCO", NA EDIÇÃO DE 11/11/1979, REGISTROU O SEU PASSAMENTO:

Por Antônio Corrêa Sobrinho

O relógio de um dos apartamentos do Hospital da Polícia Militar de Pernambuco marcava exatamente 7h45m do dia 3 de novembro deste ano, quando falecia um dos maiores heróis da história do combate ao cangaço em Pernambuco. Tratava-se do coronel Manoel de Souza Neto, conhecido em seus Estados do Nordeste como Mané Neto e apelidado por Lampião como Mané Fumaça, pois segundo a lenda, aparecia repentinamente em vários locais ao mesmo tempo.

Manoel Neto vivia sozinho, residindo num dos hotéis da cidade de Ibimirim, quando foi acometido de uma doença renal. Ao tomar conhecimento de que o coronel era portador de moléstia incurável, o comandante da Polícia Militar de Pernambuco, João Lessa, determinou a sua imediata remoção para o Hospital Geral do Derbi. Lá o velho combatente do cangaço faleceu aos 88 anos, após 14 dias de internamento. Seu corpo foi trasladado para o município de Carquejo, onde foi sepultado com honrarias militares.

Além da luta ao bando de Lampião, Manoel Neto também participou de revoluções, chegando inclusive a ser o homem de confiança dos governadores Carlos de Lima Cavalcante e Estácio Coimbra. Perdeu a farda por ocasião da derrota do partido que defendia, mas conseguiu voltar à ativa em virtude do reconhecimento de seu trabalho e atos de bravura.

MORREU SOLITÁRIO O HOMEM QUE LAMPIÃO MAIS TEMIA

Por Marco Túlio

Manoel de Souza Neto

Manoel de Souza Neto nasceu no dia primeiro de novembro de 1901, num lugar denominado Ema, no município de Floresta dos Navios. Não tendo estudado no período da infância, em virtude da falta de professores no Sertão, dedicou-se então ao trabalho agrícola. Era destemido, demonstrando desde cedo tendências para a vida militar. Apreciava com muita curiosidade o movimento de tropas e de cangaceiros na região, transformando-se mais tarde num justiceiro, que combatia impiedosamente os cangaceiros que assolavam os sertões nordestinos.

Durante toda a adolescência conservou-se como um rapaz igual aos outros sertanejos, cuidando da agricultura, do gado e comovendo-se com a paisagem e o pôr do sol. Um dia, no entanto, após uma caminhada a pé pelo município de Rio Branco, conseguiu uma passagem para vir ao Recife, onde com a ajuda de Antonio Boiadeiro, ingressou na Força Pública.

Inicialmente foi destacado para servir em Santo Amaro, bairro conhecido, na época, pelos altos índices de criminalidade e onde prestou relevantes serviços. No dia 24 de janeiro de 1925 foi mandado para Vila Bela, atualmente Serra Talhada, a fim de participar da força volante sediada naquele município para dar combate ao cangaço.

PRIMEIROS COMBATES

Dias após ter chegado a Vila Bela, o então soldado Manoel Neto comandado pelo capitão Pedro Cavalcante foi para a cidade de Triunfo, onde Lampião e seu bando havia cercado a fazenda de Clementino de Sá. Destacando-se no combate, Manoel Neto foi elogiado por seu superior e considerado o soldado mais corajoso da volante. Nessa batalha Lampião foi obrigado a fugir, sendo perseguido até à fronteira da Paraíba, de onde a volante teve que regressar, pois o Governo paraibano não permitiu que os soldados pernambucanos entrassem em seu território, o fato que contribuía para que Lampião se reorganizasse e voltasse a atacar.

Em 10 de novembro de 1925, na localidade de Cachoeira, distrito de São Caetano, ocorreu outro combate contra Lampião. Na ocasião, morreram ou fugiram da luta o sargento José Leal e o seu auxiliar direto João Terto. Manoel assumiu então o comando da volante, conseguindo uma vitória surpreendente contra Lampião, que passou a se interessar pela valentia do “macaco” que conseguira lhe infligir tão grande derrota. Em função da façanha, Manoel Neto foi promovido ao posto de anspeçada, isto é, intermediário entre soldado e cabo.

OUTRAS BRAVURAS

A partir desse episódio, Manoel Neto passou a ser o terrível perseguidor de Lampião, sempre lhe mandando recados, desafiando-o para que lutassem de homem para homem, numa batalha para pôr fim aos crimes do Sertão.

No tiroteio da fazenda Favleo, localizada no município de Floresta, Manoel Neto foi emboscado pelo bando de Lampião, ficando gravemente ferido, com duas pernas quebradas. Segundo contam, sempre ia à frente de seus comandados, alegando que como comandante cabia a ele receber ou disparar o primeiro tiro. Certa ocasião, foi chamado pelo tenente João Bezerra, da Polícia Militar de Alagoas, para arquitetarem o plano da morte de Lampião por envenenamento.

Manoel Neto mostrou-se imediatamente contrário àquele tipo de assassinato, dizendo para o tenente: “Lampião é meu inimigo pessoal e ele também me considera assim. Se eu puder pegá-lo no ponto do meu mosquetão, acabarei com ele. Porém não o matarei envenenando a água que beba, pois Lampião sabe que o rastejo e nunca envenenou a água que eu bebo, mesmo lhe perseguindo”.

Certa vez, no município de Triunfo, vários bandoleiros que habitavam uma serra, resistiam à ação da Polícia Militar. Sem condições de subirem a montanha, os soldados eram duramente repelidos a tiros de rifles. Ao tomar conhecimento do fato, o capitão Manoel Neto, fazendo-se acompanhar de oito soldados, subiu a serra e aproveitando o silêncio da noite, foi invadindo casa por casa. Ao amanhecer todos estavam amarrados e desmoralizados.

Foto de Mané Neto, colorizada por Rubens Antonio.


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