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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

OS TABARÉUS do Sítio Saracura

Por José Bezerra Lima Irmão

Acabo de ler o delicioso livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, de Antônio Francisco de Jesus. Esse livro, apesar de romancear a infância do autor nas malhadas de mandioca de sua família nas terras de Itabaiana, termina retratando a infância de todo garoto que nasceu e se criou no sertão antes das estradas asfaltadas, antes da energia elétrica, antes do rádio e da televisão. Naquele tempo, não havia trator nem máquinas agrícolas. Nem mesmo o rudimentar arado era conhecido naquelas paragens. Os casais tinham muitos filhos, de preferência “filhos homens”, porque precisavam de braços para a lavoura. As crianças, desde cedo, aos seis ou sete anos, tinham de ajudar os pais na roça.

Tal como o celebrado José Lins do Rego encantou o mundo das letras com o seu “Menino de Engenho”, a mesma pujança é revelada por Antônio Francisco com “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, que bem poderia ter por título “Menino de Casa de Farinha” – mas é claro que um título como esse não empolga ninguém, porque casa de farinha é coisa de pobre, nem de longe se compara a um engenho de banguê. Só mesmo na minha cabeça, querer comparar a vida num sítio de mandioca, cebola e inhame de um tabaréu desimportante com a vida nos canaviais dominados pela figura patriarcal de um senhor de engenho!

Mas ninguém se iluda. Antônio Francisco de Jesus, como um ourives da palavra, transforma em jóias preciosas coisas corriqueiras do dia a dia. Conforme ele próprio pondera, “Os Tabaréus do Sítio Saracura” é um livro que vem provar que gente comum também merece ter sua história contada. Desde a primeira página, o leitor é seduzido a compartilhar as aventurosas experiências de Tonho, um garoto cujo universo se resume praticamente no sítio onde nasceu e se criou. Seu avô materno era um tabaréu ilustrado – até sabia ler! Tinha uma porção de livros de cordel, com histórias de João Grilo, Pedro Malazarte, Lampião... Aos domingos, filhos, netos e vizinhos sentavam-se ao seu redor, no chão do telheiro, para ouvir o velho Totonho Bernardino lendo um de seus romances. Totonho criava um clima para cada história antes de começar a ler. Por exemplo, se o folheto escolhido era o do pavão misterioso, ficava-se sabendo que a história se passara na Grécia, um lugar que ficava muito longe, bem depois de Itabaiana, nas imediações de São Paulo...

O pai de Tonho, Zé de Pepedo, não perdia tempo com essas bobagens. Para ele, esse povo que lê muito acaba ficando com o miolo mole. Receava que Tonho não tinha futuro, era mais um demente na família: até a irmã mais nova já era melhor que ele no manejo da enxada. – Acorda, Tonho! Mas que menino preguiçoso é este, meu Deus?!

A diversão de Zé de Pepedo era o trabalho, tocando roça, fazendo farinha, tangendo burro, negociando na feira ou no mercado – trabalhava até quando estava doente. Era um homem calado. Não gostava de brincar. Só cantava nas farinhadas.


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