Por José Bezerra Lima Irmão
Acabo de ler o
delicioso livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, de Antônio Francisco de Jesus.
Esse livro, apesar de romancear a infância do autor nas malhadas de mandioca de
sua família nas terras de Itabaiana, termina retratando a infância de todo
garoto que nasceu e se criou no sertão antes das estradas asfaltadas, antes da
energia elétrica, antes do rádio e da televisão. Naquele tempo, não havia
trator nem máquinas agrícolas. Nem mesmo o rudimentar arado era conhecido
naquelas paragens. Os casais tinham muitos filhos, de preferência “filhos
homens”, porque precisavam de braços para a lavoura. As crianças, desde cedo,
aos seis ou sete anos, tinham de ajudar os pais na roça.
Tal como o
celebrado José Lins do Rego encantou o mundo das letras com o seu “Menino
de Engenho”, a mesma pujança é revelada por Antônio Francisco com “Os Tabaréus
do Sítio Saracura”, que bem poderia ter por título “Menino de Casa de
Farinha” – mas é claro que um título como esse não empolga ninguém, porque
casa de farinha é coisa de pobre, nem de longe se compara a um engenho de
banguê. Só mesmo na minha cabeça, querer comparar a vida num sítio de mandioca,
cebola e inhame de um tabaréu desimportante com a vida nos canaviais dominados
pela figura patriarcal de um senhor de engenho!
Mas ninguém se
iluda. Antônio Francisco de Jesus, como um ourives da palavra, transforma em
jóias preciosas coisas corriqueiras do dia a dia. Conforme ele próprio pondera,
“Os Tabaréus do Sítio Saracura” é um livro que vem provar que gente comum
também merece ter sua história contada. Desde a primeira página, o leitor é
seduzido a compartilhar as aventurosas experiências de Tonho, um garoto cujo
universo se resume praticamente no sítio onde nasceu e se criou. Seu avô
materno era um tabaréu ilustrado – até sabia ler! Tinha uma porção de livros de
cordel, com histórias de João Grilo, Pedro Malazarte, Lampião... Aos domingos,
filhos, netos e vizinhos sentavam-se ao seu redor, no chão do telheiro, para
ouvir o velho Totonho Bernardino lendo um de seus romances. Totonho criava um
clima para cada história antes de começar a ler. Por exemplo, se o folheto
escolhido era o do pavão misterioso, ficava-se sabendo que a história se
passara na Grécia, um lugar que ficava muito longe, bem depois de Itabaiana,
nas imediações de São Paulo...
O pai de
Tonho, Zé de Pepedo, não perdia tempo com essas bobagens. Para ele, esse povo
que lê muito acaba ficando com o miolo mole. Receava que Tonho não tinha
futuro, era mais um demente na família: até a irmã mais nova já era melhor que
ele no manejo da enxada. – Acorda, Tonho! Mas que menino preguiçoso é este, meu
Deus?!
A diversão de
Zé de Pepedo era o trabalho, tocando roça, fazendo farinha, tangendo burro,
negociando na feira ou no mercado – trabalhava até quando estava doente. Era um
homem calado. Não gostava de brincar. Só cantava nas farinhadas.
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