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quarta-feira, 3 de maio de 2017

PUBLIQUEI FOTOS DE DONA JARDELINA E CHICO PEREIRA, QUE DESPERTARAM MUITO INTERESSE. ENTÃO EU ESTOU PUBLICANDO ESSE TEXTO DE FRANCISCO GOMES, DO BLOG ‘MULHERES DO CANGAÇO”.

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

“Esconde essa aliança e casa com outro. Chico já morreu”. 

Era o que Jardelina Nóbrega ouvia das pessoas aconselhando-a a desistir de se casar com Chico Pereira, que virou cangaceiro. Jarda, como era chamada começou a namorar com Chico aos 12 anos, noivou aos 13, casou aos 14 e ficou viúva aos 17 anos de idade, com três filhos pequenos. O caçula tinha apenas seis meses.


Sua vida daria um filme, como já tentaram fazer. Tudo começou em 1920, na localidade de São Gonçalo, Sertão da Paraíba, quando Jarda conheceu Chico, então com 20 anos, um pacato comerciante de cal. 

Os pais do cangaceiro Chico Pereira

Filho do coronel João Pereira, pessoa bem relacionada na redondeza. De repente, o coronel viu-se envolvido numa briga na sua mercearia. E nela, foi morto o coronel. Uma morte encomendada por questões políticas. Agonizante, João Pereira pediu aos filhos que não queria vingança como ditava o código de honra da época.

O cangaceiro Chico Pereira. O site cariri cangaço não diz quem a coloriu

Chico, o filho mais velho conseguiu prender Zé Dias, que matou seu pai e o entregou à polícia achando que assim a justiça seria feita. Mas na semana seguinte, Zé Dias estava solto, para revolta de todos. Chico era insuflado pelo povo a vingar-se e ao mesmo tempo não queria revidar, mas percebia a má vontade da polícia em prender Zé Dias. Tinha receio de ser chamado de frouxo.

Então, o jeito foi fazer justiça com as próprias mãos, como fez Virgolino. A cidade de Souza perdeu a tranquilidade e a briga entre famílias Pereira e Dias ganhava corpo. Chico vingou a morte do pai e tornou-se cangaceiro. Formou um bando e sua vida mudou totalmente e a de sua noiva também. Passou a ser foragido da polícia.

Entretanto, sua preocupação maior era Jarda, sua noiva adolescente. Após uma longa conversa com ela, alertou para o tipo de vida que levava e, se ela quisesse desistir do casamento prometido, ele iria entender. “É com você que quero me casar” , foi a resposta. E como seria esse casamento?

Conseguiram celebrar por meio de procuração, na manhã de 26 de maio de 1925, na igreja de Pombal. Jarda continuou morando com a família e os encontros com o marido eram escondidos. Nasceu o primeiro filho, Raimundo. Depois vieram Dagmar e Francisco. Houve uma menina, mas morreu prematura. Jarda teve uma vida marcada por mortes trágicas: pai, sogro, cunhado e marido.

Chico Pereira comandou vários ataques, inclusive com cangaceiros de Lampião. Passou seis anos nessa vida até encontrar a morte misteriosa numa estrada do Rio Grande do Norte, aos 28 anos de idade, a 24 de agosto de 1928. Uma morte até hoje não esclarecida.

Jarda, com três filhos pequenos, pensava o que seria dela. E dos filhos? Futuros cangaceiros? Como iria educar os meninos com salário de professora rural? A solução foi deixar cada um com um parente. Periodicamente viajava a cavalo para ver os filhos. Uma vida sacrificada. Os três irmãos só se encontraram bem mais tarde.

Certo dia, recebeu um bilhete anônimo por meio de um cavaleiro desconhecido montado num cavalo branco, quando estava pensativa no alpendre da casa. O bilhete dizia:” Se queres ser feliz, perdoa seus inimigos”. Uma cena quase irreal. E Jarda tinha muito a quem perdoar. Decidiu queimar todas as cartas, livros de cordel, jornais, tudo que falava de Chico Pereira. Estava queimando seu passado para salvar o futuro dos filhos, escreveu Francisco no seu livro “Vingança, não”.

Os anos foram passando e a primeira alegria veio com Raimundo que se formou em engenharia civil no Recife. Depois, foi a vez de Dagmar, que se tornou frade franciscano com o nome de frei Albano. Surpresa maior veio com Francisco, ordenado padre em Roma, onde estudou. Com ele, a alegria de Jarda foi maior, pois assistiu sua ordenação, recebeu bênção especial do papa e a comunhão pelo próprio filho na sua primeira missa. Jarda encontrou a felicidade através do perdão.

Dos três filhos, apenas frei Albano está vivo, no Convento de São Francisco, em Salvador, Bahia. Jarda ficou viúva para sempre e morreu em João Pessoa onde morava e o filho Francisco também.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogodmendesemendes.blogspot.com 

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