Por João de Sousa Lima
As diversas
histórias de Botijas transformaram-se em lendas, com seus relatos sempre
acrescentados de uma pitada de aventura e do sobrenatural.
O Sertão
Nordestino contém inúmeros relatos sobre as Botijas, tesouros enterrados em
oitões de fazendas, nos batentes dos casebres, velhas árvores centenárias,
entre pedras e lajedos.
Verdadeiros
tesouros do passado, quando os sertanejos escondiam suas finanças e seus ouros
em cabaças, potes de barro ou caixotes de madeiras e depois os enterravam em
pontos estratégicos, tendo um alvo de referência de fácil acesso para o
proprietário.
Dentre todos
os pontos de relatos envolvendo esses tesouros escondidos, nenhum tem mais
registros do que a imensidão do Raso da Catarina. Desde os relatos dos
fugitivos da guerra de Canudos, passando pelos índios Pankararé, até chegar aos
relatos deixados pelos cangaceiros, que além de ouro e moedas deixaram
enterrados ou escondidos em troncos de árvores, munições e armas.
A Cangaceira
Dadá, de Corisco, Passarinho, Azulão, Gato, Inacinha, são alguns cangaceiros
que deixaram materiais enterrados ou escondidos no Raso da Catarina. Muitos
desses sendo encontrados por moradores da localidade. Dentre os fatos mais
conhecidos podemos citar dona Marli Reis (sobrinha do famoso coronel Petronilio
de Alcântara Reis), proprietária de uma pousada/restaurante em Chorrochó,
Bahia. Ela sonhou com o fogo consumindo uma das paredes da igreja construída
pelo Antonio Conselheiro, ao amanhecer se dirigiu pra igreja e quando tocou uma
das paredes, exatamente a parede que ela sonhou em chamas, caiu um pedaço do
reboco e de dentro da parede, junto com os escombros, caíram várias correntes e
anéis de ouro, peças até hoje guardadas por ela como verdadeiro tesouro.
Um dos índios
da tribo Pankararé, residente da reserva Brejo do Burgo, desmatava um terreno,
nas proximidades da Baixa do Chico. Com um afiado machado começou a cortar uma
velha árvore morta, entre os cortantes golpes da afiada lâmina, um tilintar, um
barulho diferente do toque do machado com a madeira, a curiosidade aumentou, as
machadadas ficaram mais rápidas, no oco da madeira uma velha ferragem de um
mosquetão, arma usada pelos cangaceiros. Ferragem recolhida, árvore cortada,
hora de colocar fogo no resto do tronco; Minutos depois do fogo ateado, tiros
ecoaram e eles correram em busca de proteção entre pedras, muitos disparos,
momentos angustiantes, vários minutos de espera até queimar o último projétil,
várias balas deflagradas. Por falta de atenção a munição que estava também na
árvore não foi avistada sendo consumida pelo fogo. Tempos depois a ferragem do
mosquetão me foi presenteada.
Em Paulo
Afonso, a estrada que dava acesso a Salvador, saindo de Santo Antonio da
Glória, cruzava a nossa famosa Rua da Frente, nas proximidades da estrada,
tempos depois, surgiu a cidade, entre o emaranhado de ruas, uma das vias de
destaque: Rua do Coqueiro. Nessa rua, em outubro de 2010, o pedreiro Sabino
começou um trabalho de reforma e ampliação de uma residência, traços marcados,
linhas esticadas, ajudantes à postos, começam a escavação. Sabino maneja
agilmente a ferramenta, buracos cruzam uma parte do quintal, entre golpes da
picareta, um som diferente, Sabino observa uma velha cabaça partida por suas
pancadas. A cabaça é cuidadosamente recolhida, dentro dela várias moedas de
prata e cobre. Valores deixados no passado, relíquias colhidas no presente.
Mais um tesouro desenterrado. Aproximadamente seis quilos e meio de moedas,
tesouros da história, segredos encravados na terra, descobertas recentes,
memórias de um passado ainda latente, registros de um tempo, datas marcadas:
1880, 1890, 1900, 1910, 1920, 1930, esfinges e gravuras de rostos famosos,
Botijas, tesouros que atravessaram o tempo, nas escondidas fendas da terra,
fatos registrados no presente, tesouros enigmáticos colhidos e que serão
eternizados, parte da nossa história passada, reflexo de um tempo, memória de
uma época, traços de uma geração, perpetuação de fatos, histórias e memórias de
um povo e de uma cultura. O tempo em sua passagem registra atos, ações, fatos e
emoções.
João de Sousa
Lima
Membro da ALPA
– Academia de Letras de Paulo Afonso
Muito boa a história contada pelo Escritor João de Sousa Lima das Terras de Paulo Afonso nesta nossa Bahia.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha