Por: Renato Casimiro
Jonasluis,
Manoel Severo e Renato Casimiro
A recente
celebração do centenário de morte da beata Maria Magdalena do Espírito Santo de
Araújo (Joazeiro: *24.05.1862; +17.01.1914) teve como um dos momentos mais
simbólicos a cerimônia na qual a beata teria nova sepultura. Consultado sobre a
placa que encima o local, sugeri uma paráfrase ao epitáfio do grande poeta
Mário Quintana: “Eu não estou aqui!” A isto, acrescentaríamos: “Aliás, eu estou
aqui!” Tal aconteceu, e assim está lá.
Moveu-me o
intento, felizmente aceito, de que com isto ainda mais nos lembraremos com
frase tão emblemática, não só a memória poética, mas a certeza
da ressurreição e da imortalidade da alma. De outra sorte, ao agregar
o “eu estou aqui”, queremos firmar o nosso entendimento de que Maria de
Araújo, por exemplo e vida, especialmente ao longo de amplo período de
esquecimento, e da violência cometida, está ali, sim, pois não é admissível a
negação de um derradeiro palmo de terra para o seu “repouso eterno”.
Beata Maria de
Araujo
O caso de
Maria de Araújo, visto pela intolerância clerical de sua época, levou a infeliz
a se tornar este ser histórico que se arrasta pelos séculos, como uma mulher
sem túmulo. Até 22.10.1930, sabia-se que seus restos mortais estavam ali, na
entrada da Capela do Socorro, ao lado direito, ao pé da parede, em modesto
túmulo registrado em foto da época. Naquela data o ato violento, autorizado
pelo Diocesano de então, converteu-se em crime hediondo perante os olhares do
Patriarca e, ao tempo, pela indignação de cidadãos honrados, de povo e
estudiosos que se deixaram ficar reflexivos sobre a triste sina deste
infortúnio. Estranho é que, passados tantos anos, a homenagem aceita pela
própria Igreja do Cariri se faz sob o mesmo clima marginal de então, ao pé do
muro da Capela, mas agora externamente.
Cabe a esta
mesma Igreja esclarecer a este povo o que foi determinado há 83 anos. Se o
vigário José de Lima o fez mediante imposição do diocesano, pode ser que haja
correspondência ou algum relatório. Contudo, o único documento competente,
firmado em cartório (03.12.1930) pelo protesto de cidadãos juazeirenses,
assegura que ali já não encontrava quase nada, a não ser uns poucos resíduos do
caixão, do crânio da beata, de sua vestimenta e adornos, postos em um vaso de
vidro, mas também sem indicação de destino. Quanto ao procedimento instruído pelo
vigário, é pouco provável que tenham posto em algum outro túmulo, mas
aberto uma outra vala, sem qualquer identificação para o futuro.
Sabe-se que
até fotógrafo integrava o grupo que inspecionou o local após a violação. Mas,
caprichosamente não há uma só imagem a propósito do interesse dos protestantes.
Na comemoração do centenário, a própria Igreja do Cariri, reconheceu a mártir,
lhe deu vivas e proclamou suas virtudes e heroismo. Mais que isto, é dever desta
mesma Igreja, já que recentemente se preocupou com isto, proceder a uma “busca
arqueológica”, não em jazigos autorizados do campo santo, mas no ambiente da
Capela, exatamente no local tão reconhecido, o da sepultura original. Qual é a
angústia e o escrúpulo prevalentes? Sem dúvida, a pauta existente na Sagrada
Congregação e que nos remete à expectativa de uma revisão de todo o processo,
com a ansiosa espera por uma reabilitação, também deverá ensejar,
obrigatoriamente, um novo olhar de piedade cristã sobre a serva tão fiel.
Renato
Casimiro
Fonte: http://colunaderenato.blogspot.com.br
http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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