O coronel
Chico Heráclio reconhece que os tempos, hoje, não estão mais favoráveis aos
chefes políticos do interior. Lembra-se de 1951, na eleição para a Prefeitura
de Limoeiro: em quase 11 mil eleitores, a oposição não alcançou 5% da votação.
Em 1952, o candidato a governador adversário só conseguiu 47 votos no
município. O voto, então, já era secreto, mas conta-se que a coisa funcionava
assim:
O coronel dava
toda a assistência ao eleitor. E lhe entregava, na boca da urna, o envelope com
as cédulas, tudo prontinho. Às vezes o matuto perguntava se podia ver o nome
dos candidatos. O coronel respondia:
— Pode não,
oxente. Não sabe que o voto é secreto?
O coronelismo
em Pernambuco estava então no auge. E não era só em Limoeiro. Em Serrita —
quase divisa com o Ceará.
O coronel
Chico Romão entendeu de pôr para fora o juiz de Direito da cidade. Sua força
junto ao governo, entretanto, não valia muito no caso, pois juiz é inamovível.
Chico Romão
resolveu usar seus próprios meios: proibiu toda a cidade, inclusive bares e
empórios, de fornecer água ou comida ao juiz. Seu controle sobre a população
era tão grande que o juiz não teve outra saída — foi embora.
Com um
adversário político, que depois viria matá-lo a tiros, Chico Romão fez coisa
parecida: comprava todas as casas onde ele fosse morar, e o despejava em
seguida. O homem acabou se mudando para uma cidade vizinha, Salgueiro, onde
afinal se deu o crime.
Zé Abílio, coronel de Bom Conselho, conseguiu o cargo de inspetor do Instituto
do Açúcar e do Álcool numa terra que não tinha um só pé de cana:
— Se passar
algum caminhão carregado de açúcar por aqui — dizia — eu inspeciono ele.
Até 1962,
nenhum coronel tinha sido processado por assassinato, o que só ocorreria com
Chico Romão, pouco antes de sua morte. O próprio Zé Abílio passou um susto
certa vez, acusado da morte de dois cabras em plena rua, mas não chegou nem a
ser pronunciado. E continuou batizando e casando, em Bom Conselho, apesar da
opinião de monsenhor Damaso, vigário da paróquia:
— Abre-se o
Código Penal ao acaso. Em qualquer página que cair, ele pode ser enquadrado em
todos os artigos.
0 domínio dos
coronéis era intocável. Criminoso que conseguisse asilo de um deles — LAMPIÃO e
muitos cangaceiros haviam usado essa proteção, no seu tempo — estava salvo, não
era mais procurado pela Polícia. Em compensação, quem caísse em desgraça, não
tinha garantia nem com a Polícia inteira ao seu lado.
Conta-se que,
um coronel chamou um dos cabras e lhe perguntou:
— Você conhece
o padre Olavo?
— Conheço não,
seu coronel. Mas já estou com raiva dele.
— Não é nada
disso, oxente: é só pra levar este peru pra êle.
( FONTE :
REVISTA REALIDADE — Novembro. 1966 )
Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Mendes amigo, esse último caso no final do texto, faz rir quem está triste: "Você conhece o Padre Olavo? Conheço não, seu coronel, mas já estou com raiva dele. Não é nada disso, oxente: é só pra levar este peru pra ele".
ResponderExcluirÉ BRINCADEIRA VOLTA SECA E MENDES?????
Antonio Oliveira
Interessante! Quando eu estava arrumando para levá-lo até ao blog, e cheguei nessa parte, eu ri e ri muito. Nesse momento chegou Neto, meu vizinho e me perguntou? "-Você está endoidando, rindo sozinho?
ResponderExcluirFelicidade e paz, companheiro Antonio de Oliveira.