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sexta-feira, 12 de junho de 2020

TERROR EM MOSSORÓ: O DIA EM QUE LAMPIÃO FOI POSTO PARA CORRER



Em 13 de junho de 1927, o gângster do sertão não imaginava o que o esperava no pequeno município, em Rio Grande do Norte.

Uma festa de arromba promovida pelo Humaytá Futebol Clube fazia ferver a sociedade de Mossoró naquela noite do 12 de junho de 1927, véspera do dia de Santo Antônio. Foi quando começou a correr a notícia de que Virgulino Ferreira, o temido cangaceiro Lampião, se aproximava da cidade.

Horas antes, ele e seu bando tinham atacado a vizinha vila de São Sebastião (atual município de Governador Dix-Sept Rosado). Em poucos momentos, todo o rigor daquele baile – que exigia branco para os cavalheiros e azul e branco para as damas – amarfanhou-se e perdeu graça, abalando o momento de glamour ostentado pela elite do sertão.

Mossoró era uma das mais prósperas cidades do Rio Grande do Norte. O coronel Rodolfo Fernandes, o prefeito, já havia alertado, nos últimos dias, sobre o perigo do ataque do rei do cangaço ao município. A maioria dos habitantes, no entanto, parecia não acreditar. Tudo estava tão tranquilo que, no mesmo 12 de junho, Mossoró parecia mais preocupada com o clássico entre os times de futebol do Ipiranga e Humaytá do que com a possível chegada de Lampião às suas cercanias.

A partida de futebol transcorreu dentro da mais absoluta rotina. Já o baile, por mais que alguns participantes e os diretores do clube tentassem abafar as notícias vindas da vila de São Sebastião, foi tomado pelo alvoroço e pelo medo. “O apito da locomotiva da rede ferroviária suplantava o pânico dos mossoroenses”, narra o jornalista Lauro da Escóssia, testemunha do acontecimento, no livro Memórias de um Jornalista de Província.

“Os trens começavam a se movimentar, conduzindo famílias e quantos quisessem fugir de Mossoró.” Segundo ele, durante toda a noite e na manhã seguinte, a ferrovia permaneceu ininterruptamente agitada.

Na vila de São Sebastião, conforme as notícias que desmancharam o baile do clube Humaytá, Lampião havia incendiado um vagão de trem cheio de algodão e depredado a estação ferroviária. Havia também arrasado a sede do telégrafo, uma modernidade sempre combatida pelo chamado rei do cangaço, na tentativa de impedir que o seu paradeiro fosse sendo informado e ajudasse a polícia a persegui-lo.

Até as primeiras horas da manhã do dia 13, muita gente havia deixado suas casas em Mossoró, que à época tinha cerca de 20 mil habitantes. O temor ao famoso cangaceiro não era brincadeira. Duas mulheres em pleno serviço de parto, conta Escóssia, foram retiradas em macas para a cidade de Areia Branca, a quilômetros dali.

Mas o esvaziamento não era só fruto do pânico. A estratégia da prefeitura – que havia conseguido ajuda oficial em armas e munição, mas não em combatentes – era manter na cidade apenas os habitantes que estivessem armados. Quanto mais vazio o lugar, na avaliação do coronel Rodolfo Fernandes, maior a chance de repelir o bando de cangaceiros.

A estratégia

Fazia tempo que Lampião planejava encarar o desafio de invadir Mossoró. Seria a maior tentativa de rapinagem do bando, como conta o historiador Frederico Pernambucano de Mello no seu livro Guerreiros do Sol, no qual defende a tese de que o cangaço era um meio de vida. Pouco antes de chegar à cidade, Lampião enviou um bilhete chantageando a prefeitura.

Nele, pedia a quantia de 400 contos de réis para não atacar o município, um valor pelo menos dez vezes superior ao que costumava exigir em ocasiões semelhantes. Na tarde de 13 de junho, feriado de Santo Antônio, ele e o bando já se encontravam nos arredores do município potiguar.

Sem resposta ao primeiro comunicado, Lampião, já impaciente, bufando de raiva, manda um segundo aviso. Os termos do bilhete, que consta nos arquivos do jornal O Mossoroense (um dos mais antigos do país), eram muito diretos e recheados de erros de português: “Cel. Rodopho, estando eu aqui pretendo é drº (dinheiro). Já foi um a viso, ai pª (para) o Sinhoris, si por acauso rezolver mi a mandar, será a importança que aqui nos pedi. Eu envito (evito) de Entrada ahi porem não vindo esta Emportança eu entrarei, ate ahi penço qui adeus querer eu entro e vai aver muito estrago, por isto si vir o drº (dinheiro) eu não entro ahi, mas nos resposte logo”. Ele assinava “Cap. Lampião”.

O coronel Rodolfo Fernandes e seus homens disseram não a Virgulino, para surpresa do mais temido cangaceiro de todos os tempos. A cidade tinha o dinheiro, informou o prefeito. Mas Lampião teria que entrar para apanhá-lo. Às 16 horas daquele dia 13, caía uma chuvinha fina e havia uma neblina de nada sobre Mossoró. Foi quando os primeiros estampidos de bala ecoaram.

Sangue e areia

Lampião tinha 53 cangaceiros no seu bando. Não imaginava, porém, que iria enfrentar pelo menos 150 homens armados na defesa da cidade. O repórter Lauro da Escóssia estava lá, vendo tudo de perto. “Durante toda a noite, a detonação de armas em profusão. Parecia uma noite de São João bem festejada”, escreveu em O Mossoroense. Mas as mulheres rezavam para outro santo junino, o Antônio festejado naquele dia.

Saiba mais através dos links abaixo
Apagando o Lampião: Vida e Morte do rei do Cangaço, Frederico Pernambucano de Mello (2018)
Lampião. Herói ou Bandido?, Antônio Amaury Corrêa de Araujo, Carlo Elydio Corrêa de Araujo (2010)
Assim Morreu Lampiao, Antonio Amaury Correa De Araujo (2013)
Lampião e Maria Bonita: Uma história de amor entre balas, Wagner Barreira (2018)


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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