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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Lampião pelo outro lado da luneta Parte I Por:José Cícero

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José Cícero e Dihelson Mendonça

             Não há como, mesmo que quiséssemos tirar o grande mérito de Lampião – rei do cangaço, de homem ousado, corajoso, inteligente, perspicaz negociador,  estrategista e profundo  conhecedor dos meandros da caatinga sertaneja. Quem ainda insistir neste propósito de querer ofuscar sua sapiência neste aspecto, mesmo  sabendo destas filigranas pertencentes ao vilabelense Virgulino;  uma coisa é certa: Ou age de má-fé ou no mínimo não teve a capacidade necessária para assimilar no  devido grau os verdadeiros conhecimentos dos fatos e feitos relacionados à palpitante  história de sangue, suor e lágrimas de Lampião e os seus comandados. 

           Um verdadeiro exército cangaceirista, que por  quase  duas décadas, pontuou  de grandes acontecimentos os imensos rincões de boa parte dos mais importantes  estados nordestinos. Contudo, para os que procuraram  ir além do que dizem friamente os livros, isto é,  lê-lo em sua autêntica psicologia de homem do sertão. Ainda, muito mais por dentro do que por fora, a partir das suas atitudes, gestos e ações amiúde hão de perceber forçosamente que o título de  rei do cangaço, não lhe foi dado à toa e, tampouco em vão.

             Quem teve a infinda paciência de ler  com afinco e denodo todos os sérios narradores e pesquisadores da grande saga lampiônica, certamente se aperceberam que ali estava mais que um cangaceiro revoltado contra a sua  sorte. Ali estava mais que um facínora, na expressão mais lídima do termo. Ou mesmo uma boa-índole, sofredor, bandido ou herói.  Posto que não será possível construir o perfil de Lampião numa direção meramente linear.  Porque Lampião é uma cocha de retalho que ainda está sendo(até hoje) montada aos poucos, pacientemente, há várias mãos. Lampião por tudo isso é atemporal...


             Todavia, quem procurou entendê-lo nas minúcias das descrições mais  verdadeiras, talvez deva ter se deparado com um simples homem sertanejo muito parecido com todos os demais. Quiçá diferente mais pela decisão ousada que tomou para si do que por qualquer outra coisa. Um homem profundamente identificado com os seus irmãos de sangue,  de agruras, desesperanças e sofrimento, por quem os exageros fizeram com que muito de nós o visse até hoje de certo modo enviesado, pelo avesso do avesso. Um pária de certo modo(até) deslumbrado diante da opção que fez pela vida de violência que de certo modo quis retribuir à guisa de vingança e troco aos poderosos do seu tempo. Ou quem sabe, na  ânsia louca de sobreviver como  que a nado,  ao oceano de injustiças e dificuldades outras  em que se transformaram os sertões do Nordeste para o todo e sempre, desde que Virgulino veio ao mundo pela primeira vez.  

             Vaqueiro-almocreve que por este penoso ofício se tornara um especialista  em sobreviver e vencer  as mais distantes e inóspitas lonjuras da caatinga em sua geografia mais dantesca, espalhadas sobre as almas cangaceiras em léguas tiranas. Numa época das mais difíceis  em que os sertões não passavam de uma verdadeira nação dos esquecidos. Onde a lei quando muito, pertencia aos coronéis do latifúndio. Em muitos casos, bandidos piores travestidos de cordeiros. Razão de toda sorte de injustiça e sofrimento a se abater por sobre os pobres e miseráveis filhos da terra, em cuja legião também  fazia parte o então ilustre desconhecido Virgulino Ferreira da Silva. Aquele que mais tarde pelos seus feitos, ganharia a histórica alcunha de Lampião, reio do cangaço e até mesmo, a discutível patente de capitão abiscoitada um dia no Juazeiro do padre Cícero.
 

José Cícero
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