Publicado em 16/11/2013 por Rostand Medeiros
Robert Capa
Testemunha dos
principais conflitos bélicos do século XX, o fotojornalista Robert Capa ajudou
a construir o imaginário visual de guerra contemporâneo.
Autora – Eliza Casadei
“A guerra era como uma atriz que envelhece”, definiu o fotojornalista Robert Capa (1913-1954), em um texto publicado na revista Life, em 1944. Para ele, que morreu aos 41 anos cobrindo um conflito bélico, a guerra era “cada vez menos fotogênica e cada vez mais perigosa”. Conhecido por suas fotografias brilhantes e pelo estilo de vida pouco usual, o fotógrafo foi responsável por grande parte do imaginário visual da guerra que temos atualmente.
Testemunha dos principais conflitos do século XX, Capa não era reconhecido pela beleza das composições em suas fotografias, mas sim, por colocar a sua própria vida em risco com o objetivo de estar o mais próximo possível dos acontecimentos.
Autora – Eliza Casadei
“A guerra era como uma atriz que envelhece”, definiu o fotojornalista Robert Capa (1913-1954), em um texto publicado na revista Life, em 1944. Para ele, que morreu aos 41 anos cobrindo um conflito bélico, a guerra era “cada vez menos fotogênica e cada vez mais perigosa”. Conhecido por suas fotografias brilhantes e pelo estilo de vida pouco usual, o fotógrafo foi responsável por grande parte do imaginário visual da guerra que temos atualmente.
Testemunha dos principais conflitos do século XX, Capa não era reconhecido pela beleza das composições em suas fotografias, mas sim, por colocar a sua própria vida em risco com o objetivo de estar o mais próximo possível dos acontecimentos.
Capa
fotografou o desembarque nas praias francesas da Normandia, no dia 6 de junho
de 1944
Entre as suas
coberturas fotográficas estão a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra
Mundial (cujas imagens da batalha da praia de Omaha serviram de base para a
reconstrução do filme O resgate do soldado Ryan), a Guerra Sino-Japonesa e
a Guerra da Indochina, seu último e fatal conflito.
Sobre seu trabalho na praia de Omaha, Capa escreveu certa vez que “eu diria que o correspondente de guerra consegue mais drinques, mais garotas, um salário melhor e mais liberdade para escolher onde ficar e poder ser um covarde.
Sobre seu trabalho na praia de Omaha, Capa escreveu certa vez que “eu diria que o correspondente de guerra consegue mais drinques, mais garotas, um salário melhor e mais liberdade para escolher onde ficar e poder ser um covarde.
Outra imagem
de Capa durante o “Dia D”
O
correspondente de guerra tem as suas apostas – sua vida – nas próprias mãos e
pode preferir esse ou aquele cavalo, ou então resolver ficar na sua no último
minuto”. Mesmo assim, “eu sou um jogador. E decidi partir com a primeira leva”.
Por essa postura, Capa acabou transformando-se na personificação do
fotojornalismo, em imagens que misturam a crueza da violência com o fascínio
que sentimos por ela.
Robert Capa, contudo, não nasceu como Robert Capa: o seu nome de batismo era Endre Friedmann. O nome artístico surge apenas depois de ele trocar a sua cidade natal, Budapeste, por Paris e, após vários meses de dificuldade financeira, decidir que um nome norte-americano o faria conseguir um pagamento melhor por suas fotografias.
Robert Capa, contudo, não nasceu como Robert Capa: o seu nome de batismo era Endre Friedmann. O nome artístico surge apenas depois de ele trocar a sua cidade natal, Budapeste, por Paris e, após vários meses de dificuldade financeira, decidir que um nome norte-americano o faria conseguir um pagamento melhor por suas fotografias.
O início da
carreira como fotógrafo freelancer não havia sido muito gentil com
Capa e conta-se que, em 1934, aos 21 anos, era comum encontrá-lo em casas de
penhores do Quartier Latin, onde ele negociava a sua preciosa Leica em troca de
alguns trocados. De acordo com um de seus biógrafos, o jornalista Alex Kershaw,
a câmera passava três semanas penhorada para cada semana que ficava nas mãos de
Friedmann.
Foi justamente a dificuldade em conseguir trabalho que fez com que Capa mudasse de nome. Em uma de suas entrevistas, para a rede radiofônica WNBC, em 1947, o fotojornalista dizia que Capa nasceu como um fotógrafo inventado, imaginado como “um famoso fotógrafo americano que veio para a Europa e não queria se aborrecer os editores franceses por não pagarem o suficiente”. E assim, “simplesmente fui chegando com a minha pequena Leica, tirei algumas fotos e escrevi em cima Bob Capa, conseguindo vendê-las pelo dobro do preço”.
No instante da morte
Embora isso o tenha ajudado a conseguir um pouco de dinheiro, a fama chega para Capa junto com a Guerra Civil Espanhola e com uma das mais polêmicas fotos da história do jornalismo, O soldado caído.
Foi justamente a dificuldade em conseguir trabalho que fez com que Capa mudasse de nome. Em uma de suas entrevistas, para a rede radiofônica WNBC, em 1947, o fotojornalista dizia que Capa nasceu como um fotógrafo inventado, imaginado como “um famoso fotógrafo americano que veio para a Europa e não queria se aborrecer os editores franceses por não pagarem o suficiente”. E assim, “simplesmente fui chegando com a minha pequena Leica, tirei algumas fotos e escrevi em cima Bob Capa, conseguindo vendê-las pelo dobro do preço”.
No instante da morte
Embora isso o tenha ajudado a conseguir um pouco de dinheiro, a fama chega para Capa junto com a Guerra Civil Espanhola e com uma das mais polêmicas fotos da história do jornalismo, O soldado caído.
A versão
oficial de Capa de que a foto retratava um homem no instante de sua morte
iminente, no exato momento em que ele era alvejado por um tiro, é contestada
por muitos outros que afirmam que a foto não retratava mais do que um homem
simplesmente caindo. A fotografia suscitou as mais curiosas teorias da
conspiração, desde que se tratava de um treinamento militar (e não de um
combate) até a especulação de que a foto nem ao menos teria sido tirada por
Capa (e sim por sua namorada Gerda Taro que, muitas vezes antes de tornar-se
famosa, publicava suas fotografias com a assinatura de Robert Capa para
conseguir um pagamento maior). O próprio Capa contribuiu para as polêmicas em
torno da foto, tendo contado diferentes versões do fato em ocasiões diversas.
Na citada
entrevista para a WNBC, ao comentar sobre O soldado caído, Capa chegara a
afirmar que “a foto rara nasce da imaginação dos editores e do público que a
vê”. Tendo se tornado famoso aos 24 anos, Capa demonstra em seus trabalhos
posteriores a excelência de seu estilo fotojornalístico, em que a força da cena
representada se encontra na proximidade do momento retratado. A beleza plástica
de composição, em Capa, não se apoia nas técnicas da arte, mas na própria
crueza dos acontecimentos, mesmo que as fotos pudessem estar ligeiramente
fora de foco, como é o título de seu mais famoso livro.
A intensidade do trabalho de Capa se espelhava em sua vida pessoal: apesar de sua fama ter lhe trazido bastante dinheiro, ele era conhecido por perder grandes quantias ao jogar cartas com soldados, artistas e milionários e por beber muito. Dizia-se que ele extremamente atraente e charmoso, tendo namorado atrizes e modelos famosas como Ingrid Bergman (na época, casada com Petter Lindstrom), Hedy Lamarr e Jemmy Hammond.
A intensidade do trabalho de Capa se espelhava em sua vida pessoal: apesar de sua fama ter lhe trazido bastante dinheiro, ele era conhecido por perder grandes quantias ao jogar cartas com soldados, artistas e milionários e por beber muito. Dizia-se que ele extremamente atraente e charmoso, tendo namorado atrizes e modelos famosas como Ingrid Bergman (na época, casada com Petter Lindstrom), Hedy Lamarr e Jemmy Hammond.
Capa registrou
aqui um soldado de um grupo de reconhecimento, atuando perto de Troina, na
Sicília, Itália, em 4 ee agosto de 1943
Ele também foi
um dos fundadores da agência Magnum, que mudou a forma como os fotojornalistas
se relacionavam com os seus empregadores. Para ele, um fotojornalista que não
tivesse controle sobre os seus negativos, estava perdido e, por isso, ele se
empenhou em construir um lugar onde as relações de trabalho fossem mais
vantajosas para os fotógrafos.
Em um depoimento publicado pela Popular Photograpgy, o escritor americano John Steinbeck disse que “realmente me parece que Capa demonstrou sem sombra de dúvida que a câmera não precisa ser um instrumento mecânico frio. Como a pena, ela tem as qualidades daquele que a usa. Pode ser a extensão da mente e do coração”. Para também fotógrafo Cartier-Bresson, Capa “envergava o traje deslumbrante do toureiro, mas nunca investiu contra o bicho para matar de verdade; grande jogador, ele lutava por si mesmo e pelos outros num turbilhão. Mas o destino tinha decidido que ele fosse abatido no auge da glória”.
Em um depoimento publicado pela Popular Photograpgy, o escritor americano John Steinbeck disse que “realmente me parece que Capa demonstrou sem sombra de dúvida que a câmera não precisa ser um instrumento mecânico frio. Como a pena, ela tem as qualidades daquele que a usa. Pode ser a extensão da mente e do coração”. Para também fotógrafo Cartier-Bresson, Capa “envergava o traje deslumbrante do toureiro, mas nunca investiu contra o bicho para matar de verdade; grande jogador, ele lutava por si mesmo e pelos outros num turbilhão. Mas o destino tinha decidido que ele fosse abatido no auge da glória”.
Robert Capa,
durante a cobertura da Guerra Civil Espanhola, em 1937 – Foto – Gerda Taro /
Wikimedia
Um de seus biógrafos,
Alex Kershaw, conta uma história que talvez resuma a importância de Capa para o
fotojornalismo: ao ser perguntada por Eve Arnold sobre o que achava das
fotografias de Capa, a editora da revista New Yorker, Janet Flanner, teria
respondido que “bem, não acho que sejam muito bem concebidas”. Nisso, a outra
respondeu de imediato: “minha cara, a história também não é bem concebida”.
Eliza Casadei é
professora de fotojornalismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Fonte –
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/entre-o-clique-e-a-morte
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/11/16/entre-o-clique-e-a-morte-robert-capa-o-fotografo-que-odiava-a-guerra/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro Mendes: é mais uma história do grande Historiador Rostand Medeiros com seu profundo conhecimento, em especial na história das guerras. Grato ao professor Medeiros; parabéns ao Mendes pela publicação.
ResponderExcluirAntonio José de Oliveira