Publicado em 18/07/2014 por Rostand Medeiros
Com João
Ubaldo Ribeiro na Ilha de Itaparica
Hoje o Brasil,
a Bahia, mais especificamente a bela Ilha de Itaparica, estão mais tristes. Na
madrugada desta sexta-feira (18/07) faleceu o escritor João Ubaldo
Ribeiro.
Eu fui pego de
surpresa e confesso fiquei triste. Fui a minha estante e peguei os livros que
possuo deste maravilhoso autor e fiquei lembrando de 1985. Lembrei de quando
era estudante do 2º grau em uma Natal muito mais tranquila, em um período de
tremendas mudanças econômicas e políticas, onde a esperança era a palavra de
ordem e a gente lia muito mais.
Eu tinha um
amigo mato-grossense que morava por aqui e se chamava Alberto. Era um leitor
assíduo, quase fanático, que andava sempre com um livro embaixo do braço. Eu
adorava conversar com ele sobre os textos consagrados e os lançamentos. Um dia,
um tanto eufórico, ele me contou sobre um livro chamado “Viva o povo
brasileiro”, cujo autor era um baiano “risonho, que tem uns óculos grandes,
tipo fundo de garrafa” e que o tal livro era um grande sucesso de vendas, era
muito bom, etc.
Apesar de ter
lido muitos livros de Jorge Amado, de ter uma relação muito positiva com
Salvador e a Bahia, não me mostrei muito interessado. Acho que meio chateado,
Alberto me entregou seu exemplar e disse que eu iria ter uma surpresa. Em casa,
à noite, o livro foi verdadeiro golpe para mim que gosto de história.
Para mim “Viva
o povo brasileiro” possui ótima narrativa, sendo uma verdadeira epopeia de uma
gente que ama a liberdade. É baseado em três séculos e meio de fatos reais da
história brasileira, com vários personagens fictícios do Recôncavo e da bela
Itaparica. Depois li “Sargento Getúlio”, que em minha opinião um romance duro,
violento, até exacerbado, mas poético e apaixonante. Depois foi a vez de
conhecer “O sorriso do lagarto” e me tornei fã de carteirinha do baiano de riso
largo!
Depois de
haver lido tanta coisa sobre a Bahia, o Recôncavo e Itaparica, decidi que um
dia iria percorrer a região. Mas demorou um pouco. Só em janeiro de 2011, já
casado e com uma filha, pude conhecer esta interessante parte do Brasil.
Em 23 de
janeiro daquele ano me encontrava na bela ilha de Itaparica, quando soube
através de um amigo que lá conheci, que o escritor João Ubaldo Ribeiro estava
comemorando o seu aniversário na ilha e iria receber várias homenagens. Este
amigo, o dono da pousada onde estava hospedado, sem nenhuma cerimônia me
convidou para ir ao evento e conhecer o escritor que tanto admirava. Fiquei
surpreso com a tranquilidade do convite, mas nem pensei em recusar!
E já que era
um aniversário, decidi presentear João Ubaldo Ribeiro com um exemplar do meu
livro “Os cavaleiros dos céus – A saga do voo de Ferrarin e Del Prete”.
A homenagem
que o povo itaparicano fez ao ilustre e imortal filho da terra ocorreu no pátio
da Biblioteca Juracy Magalhães Jr., na Rua Rui Barbosa, no centro de Itaparica
e a programação foi realizada pela Fundação Pedro Calmon e pela Secretária de
Cultura da Bahia. Durante o evento ocorreu a exibição de um interessante
documentário realizado na ilha, onde diante das lentes o povo da terra teceu
comentários, narrou causos e histórias pitorescas sobre o autor de“Sargento
Getúlio” e “O sorriso do lagarto”.
As
apresentações culturais foram maravilhosas, mas o melhor foi a palestra
realizada pelo escritor. Ele falou basicamente de sua Itaparica querida.
Relembrou casos, da sua família, de pessoas amigas, de figuras que serviram de
inspiração para seus personagens. Estava alegre, tranquilo e em nenhum momento
deixou de apresentar seu sorriso característico.
Outra coisa
que me chamou atenção foi a tranquilidade e o extremo nível de informalidade do
evento.
Não é que ele
tenha sido desorganizado, mas o próprio João Ubaldo Ribeiro, um consagrado
escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, que teve sua obra “Sargento
Getúlio” traduzida em 12 idiomas, foi qualificado pelo jornalThe New York Times como
“gênio”, estava muito a vontade de chinelos e bermudas. Os quitutes oferecidos
não eram imitações sem gosto de iguarias da culinária francesa, era tudo típico
da culinária baiana. Já as bebidas eram sucos de frutas da região e cachaça.
Não havia ninguém de paletó e gravata. Apesar de o aniversariante ser quem ele
era, houve apenas dois rápidos discursos. Até a representante do governador da
Bahia não falou sequer três minutos e houve mais ênfase nas apresentações
culturais de grupos da região de Itaparica.
Tudo bem
simples e tremendamente organizado, com um clima tranquilo e aberto. Bem
diferente com os formalismos tacanhos, verdadeiramente paroquianos e quase
militarizados a que estamos acostumados a ver em muitos dos eventos ditos
“culturais” na nossa terra potiguar.
Passado o
evento fui até João Ubaldo e tranquilamente lhe dei os parabéns, lhe desejei
felicidades e lhe entreguei meu livro. Ele ficou um pouco surpreso de ver um
potiguar por ali, mas no meio do burburinho me comentou que adorava Natal, que
gostava da terra potiguar e do seu povo. Perguntou-me sobre o que tratava meu
trabalho e me comentou que tudo que envolvia a época retratada no meu livro era
do seu interesse. Recebeu minha obra com tranquilidade e satisfação.
No contato que
tive com João Ubaldo Ribeiro ele se apresentou como um ser humano tranquilo,
sem o mínimo sentido de grandeza e bastante aberto ao diálogo. Coisa que
poderíamos ver com maior frequência entre aqueles que escrevem na terra de
Cascudo!
Deixando
Salvador e seguindo para a ilha de Ferry Boat
João Ubaldo
Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Ilha de Itaparica no dia 23 de janeiro
de 1941. Mais tarde foi levado para o estado de Sergipe, onde ele viveu
até os 11 anos de idade com seu pai, um professor e político. No início da
década de 1960 estudou Direito, mas não chegou a exercer esta profissão e aos
21 anos escreveu seu primeiro livro, “Setembro não tem sentido”. Fez
pós-graduação em Administração Pública pela mesma instituição e mestrado de
Administração Pública e Ciência Política pela Universidade da Califórnia do
Sul, nos Estados Unidos. Entre outras atividades, foi professor da Escola de
Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e
professor da Escola de Administração da Universidade Católica de Salvador. Seu
primeiro emprego foi como repórter no Jornal da Bahia, aonde também viria a
atuar mais tarde como redator, chefe de reportagem e colunista.
Homem de
inteligência ágil, ocupava a 34ª cadeira da Academia Brasileira de Letras e em
2008 foi agraciado com o Prêmio Camões, considerado o maior reconhecimento da
língua portuguesa. Foi um dos autores brasileiros mais traduzidos no exterior.
Morava no Rio
de Janeiro, mas todo o ano passava férias na sua casa na Ilha de Itaparica,
onde sempre levantava cedo, despreocupadamente ficava lendo jornais, realizava
uma pescaria, ou saia simplesmente caminhando pelas ruas da ilha reencontrando
amigos.
No outro dia
após o evento realizado na Biblioteca Juracy Magalhães Jr., tive a
oportunidade de ver o escritor na pitoresca pracinha em frente ao Centro
de Artesanato de Itaparica, defronte ao mar. Tal como no dia anterior ele
estava muito tranquilo, sentado em uma mesinha do “Restaurante do Negão”,
conversando animadamente com amigos e parecia um homem feliz!
Sem dúvida foi
uma grande perda para nossa cultura.
Artes e Artistas, Brasil, Opiniões, Viagens Academia
Brasileira de Letras, Bahia, Biblioteca
Juracy Magalhãe Jr., Brasil, Centro
de Artesanato de Itaparica, Escola
de Administração da Universidade Católica de Salvador, Escola
de Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, Escritor, Fundação Pedro
Calmon, Ilha
de Itaparica, João
Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, João Ubaldo Ribeiro, Jorge Amado, O sorriso do
lagarto,Os
cavaleiros dos céus - A saga do voo de Ferrarin e Del Prete, Recôncavo, Rio de Janeiro, Salvador, Sargento Getúlio, Secretária
de Cultura da Bahia, The New York Times, Viva o povo
brasileiro
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand medeiros
http://tokdehistoria.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Pois é caro Escritor Medeiros, o João Ubaldo Ribeiro, é sem sombra de dúvida um renomado personagem aqui da nossa Terra. Deixou-nos relativamente cedo, e fará falta com certeza.
ResponderExcluirAbraços companheiro Mendes,
Antonio Oliveira - Serrinha