Por Clerisvaldo B.
Chagas, 18 de julho de 2014 - Crônica Nº
1.223
Durante a
Idade Média, pessoas compunham trovas, geralmente estrofes de quatro versos,
recebendo a denominação de trovadores. As trovas, entretanto, eram cantadas por
outros artistas chamados jograis e menestréis. A trova era acompanhada por música.
Geralmente os menestréis usavam o alaúde, instrumento de corda de origem árabe,
semelhante ao bandolim.
Estátua
ao vaqueiro. Foto divulgação (Portal Serrita).
Os temas
giravam em torno de relações extraconjugais, amores impossíveis e amores
secretos.
Na época a
língua culta era o latim, usado nas missas e em documentos oficiais. O povo
falava uma mistura de língua culta com as linguagens bárbaras. Aqui no Brasil
acontece coisa parecida entre a linguagem culta e o palavreado dos analfabetos.
Mas, textos
importantes da literatura foram escritos em linguagem popular. Vários poemas
foram mostrados no século XI, com temas de bravuras por parte de frêmitos
cavaleiros. Muito famoso no Brasil foi a Canção de Rolando que fala
da vida do cavaleiro Rolando, sobrinho de Carlos Magno.
Aqui no
Nordeste e no Brasil em geral, parece que o povo busca novos heróis como se
eles dessem sentido à vida. Em um país onde os ratos do poder levam tudo que é
do povo, a massa procura algo em que se apoiar. Não se confia nem mesmo na
Justiça que os escândalos apontam como comprometida e arrogante, em grande
parte. Por isso um Neymar, um Felipão, poderiam ter sido válvulas de alívio
imediato, os novos salvadores da pátria.
Aqui no
Nordeste, sem padre Cícero, sem Frei Damião, sem Luiz Gonzaga, os menestréis
modernos fabricam seu próprio ídolo. O vaqueiro da fazenda, rasgado, sujo,
remendado e miserável de outrora, empresta seu nome. Empresta para os
corredores de mourão da cidade, vestidos normalmente, com boné de propaganda, o
nome “vaqueiro”, onde o mourão rouba também o termo “vaquejada” e, o cavalo
esquelético da caatinga transforma-se em corcel alto, comprido e roliço com
valor milionário.
Sendo assim,
compositores nordestinos (novos jograis) vão pintando letras musicadas
exaltando as qualidades de um vaqueiro que nunca existiu. O vaqueiro romântico
do imaginário; indígena aureolado de José de Alencar; Rolando, da Idade Média
de capa e espada.
Não é somente
no Nordeste. O Brasil já fincou a tabuleta: PROCURAM-SE HERÓIS.
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