Fonte – http://www.itribuna.com.br
Parece
estranho falarmos de Cangaço e termos que recorrer a conceitos próprios do
ambiente empresarial moderno; mas, nos aprofundando um pouco mais na história
intrigante de Virgulino Ferreira, não nos parece exagero considerar que já
naquela época o engenhoso bandido das caatingas conhecia muito bem o valor do
Marketing Pessoal, da Política da Boa Vizinhança, Lobby e Tráfico de
Influência, até mesmo noções de Logística Empresarial; na verdade não
conseguimos conceber um reinado tão extenso de uma vida fora da lei em
circunstâncias tão adversas, sem que boa parte desses conceitos não fizesse
parte da mente prodigiosa de Lampião.
Desde cedo
pela própria profissão da família; eram almocreves; Virgulino e os irmãos
passaram a conhecer toda a região e fazer um grande ciclo de relacionamentos,
que mais tarde, unido a ingredientes como o medo e o favor, seriam de muita
valia. Sem falar que essa espetacular rede de “apoiadores” ou coiteiros,
formada de gente miúda e graúda, foi fundamental para a sobrevivência por tanto
tempo do famoso grupo.
Fonte –
canalcienciascriminais.com.br
As condições
inóspitas e hostis da caatinga exigiam, além da extrema capacidade física, um
exagerado instinto de sobrevivência. Comida, água, descanso, dormida, eram
luxos muitas vezes esperados por dias a fio. Andanças intermináveis, muitas
vezes em círculos, passando por vários estados em poucos dias carecia de um
mínimo de organização e senso de direção, sem falar na constante perseguição
por parte da polícia volante, de sete estados nordestinos.
Um líder
sempre atento a seus próprios movimentos.
Outro fator
preponderante era o acesso à munição. Até os mais próximos do grande chefe do
grupo, não sabiam de onde vinha tamanha carga de armamento, inclusive recebendo
o que havia de mais moderno na época, exclusividade que nem as forças policiais
recebiam.
Penso que o maior de todos os diferenciais entre Lampião e os outros grandes
chefes do cangaço, como Jesuíno Brilhante, Antonio Silvino e mesmo Sinhô
Pereira, sem dúvidas era o seu cérebro privilegiado. Mesmo compreendendo a
posição de amigos pesquisadores quando defendem a desconstrução do mito de que
Lampião não tinha nada de estrategista militar e que seu sucesso e longevidade
na vida cangaceira se deveu a uma “mistura de incompetência e corrupção, por
parte dos governos, e instinto de sobrevivência da parte dele, Lampião”; as
espetaculares técnicas desenvolvidas para a “guerrilha” na caatinga, muitas
vezes foram determinantes para salvar vidas e vencer batalhas, muitas delas
beirando ao absurdo do desequilíbrio de forças, como a de Serra Grande onde uma
força volante de perto de 400 homens não conseguiu dá cabo do grupo cangaceiro
com pouco mais de 70 cabras, que se valiam desde o ousado enfrentamento em
nítida desvantagem, à retirada estratégica quando lhe era conveniente, muitas
vezes o bando simulava o abandono do embate e voltava pela retaguarda e
encontrava a força volante totalmente desprevenida, fatos confirmados por
exemplo nos combates do Serrote Preto e Maranduba…
No cangaço de
Virgulino, cada peça se encaixava em seu lugar…
Fonte – http://www.onordeste.com
Na verdade, o
próprio estilo de vida cangaceira; uma espécie de nômade das caatingas, o
profundo conhecimento da região e suas sólidas redes de apoio logístico, lhes
conferiam um grande poder de mobilidade, como também maiores condições de
escaparem da polícia.
Um dos maiores
cuidados do grupo era evitar o movimento pelas estradas, e mesmo dentro da
caatinga tomavam cuidados excessivos com relação aos rastros. O ato de andar em
fila indiana, todos seguindo na mesma pegada, até o mito de calçar alpercatas com
o salto na frente e o último do grupo apagar as pegadas com galhos de plantas
eram providências costumeiras para dificultar o trabalho dos rastreadores das
volantes, o cuidado em acender o fogo para a comida e até mesmo em enterrar os
restos de animais sacrificados e restos de comida eram costumais, além do uso
de cães para a sentinela e um entrançado de fios e chocalhos ligados entre si
pela catinga, para denunciar a presença indesejada. Ao invadir os lugarejos o
primeiro alvo eram sempre os fios do telégrafo.
Um líder
consciente do poder de sua própria imagem e mito…
Manoel Severo
Barbosa, Curador do Cariri Cangaço
Outra tática
que visava confundir o trabalho das volantes era não deixar os corpos de seus
companheiros abatidos em combate, quando era inevitável, cortavam as cabeças
dos mesmos para evitar que fossem identificados. O grupo também possuía o
hábito de para os novos membros adotar a alcunha ou apelido de outro companheiro
morto, também na intenção de confundir a polícia, perpetuando o personagem
abatido.
Dessa forma
não seria exagero nenhum, declinar Virgulino Ferreira como um dos cérebros mais
privilegiados de sua época, razão sem dúvidas que permitiu seu “reinado” por
quase vinte anos; de sua simpática Vila Bela em 1918 até o fatídico julho de
1938, em Angico.
TEXTO – Manoel
Severo Barbosa – Curador do Cariri Cangaço
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo Rostand Medeiros
https://tokdehistoria.com.br/2016/05/19/lampiao-empresario/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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