ARTIGO DE ROBERTO MALVEZZI (GOGÓ)
Vários
retrocessos vieram junto com o governo interino desde o primeiro dia. Um
ministério do tempo do Brasil Império – só homens de bens e brancos, sem
negros, mulheres e indígenas -, o anúncio do corte na saúde, na educação,
encolhimento do SUS, desvinculação do salário dos aposentados em relação ao
salário mínimo, eliminação do MINC, daí prá frente.
Dentre esses
retrocessos os que mais impactam o Semiárido são o da educação, saúde e a
desvinculação do salário mínimo, do qual dependem aproximadamente 100 milhões
de brasileiros.
Porém, há
retrocessos que o Brasil em geral não vê, a não ser nós que moramos por aqui,
na busca de vida melhor para a população nordestina que sempre esteve à margem
dos avanços brasileiros.
O paradigma da
“convivência com o Semiárido”, ganhou carne com os programas “Um Milhão de
Cisternas” (P1MC) e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA. O
primeiro visando a captação da água de chuva para beber e o segundo para
produzir.
Em
aproximadamente 15 anos 1 milhões de famílias recebeu a cisterna para beber e
cerca de 160 mil famílias uma segunda tecnologia para produzir. É
lindo, até emocionante, quando em plena seca vemos espaços tomados de verde com
hortaliças ao redor de uma cisterna de produção. Essas tecnologias ainda teriam
que ser replicadas ao milhões para garantir a água para beber e produzir,
ofertada gratuitamente pelo ciclo das chuvas.
Junto com
esses programas veio a expansão da infraestrutura social da energia, adutoras
simples, telefonia, internet, melhoria nas habitações rurais, estradas, etc.
A valorização
do salário mínimo e o Bolsa Família injetaram dinheiro vivo nos pequenos
municípios, movimentando o comércio local, o maior beneficiário desses
programas.
Houve também
contradições profundas, como a opção pela mega obra da Transposição de Águas do
São Francisco ao contrário de adutoras simples e a implantação das cisternas de
plástico por Dilma no seu último governo. Além do mais, ela estava encerrando o
programa de cisternas para beber, alegando que já tinha atingido o número de
famílias necessitadas.
Detalhe, o
ministro para o qual ela liberou as cisternas de plástico, orientou o filho
para votar contra ela na Câmara dos Deputados e agora ele é ministro das Minas
e Energia.
Mas, esse
avanço pressupôs a organização da sociedade civil articulada na ASA e a chegada
ao poder de governos estaduais menos coronelísticos e corruptos. Sobretudo,
supôs o apoio do governo federal a esses programas da sociedade civil.
Acabou. Se
perguntarem ao atual presidente onde fica o Semiárido Brasileiro, é provável
que ele diga que fica no Marrocos. Como não tem base na região, vai entrar
pelas mãos dos velhos coronéis ou de seus descentes.
Não é possível
destruir a infraestrutura construída. Ela tornou o Semiárido melhor, sem fome,
sem sede, sem migrações, sem mortalidade infantil. Mas, há muito ainda a ser
construído para não haver mais retorno ao ponto da miséria. Uma delas é a
geração de energia solar de forma descentralizada, a partir das casas. Dilma
não quis dar esse passo.
Os velhos
problemas poderão voltar? No que depender das políticas públicas federais, sem
dúvida nenhuma. Quem está no poder não enxerga o Semiárido.
Tempos
estranhos, quando setores da sociedade brasileira preferem retroceder aos
tempos da miséria total e parte da população se alegrar com esses
retrocessos.
Roberto
Malvezzi (Gogó é membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Bahia.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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