Material do acervo do Ruy Lima
O matuto está
no portão do céu, esperando para entrar, enquanto São Pedro folheia o
livro sagrado, checando toda a vida dele para ver se é um cabra de valor.
Depois de um bom tempo, São Pedro olha-o severamente e lhe diz:
— Não vejo nada que seja realmente ruim em sua vida, mas, também, não há nada que seja especialmente bom. Se me provar que fez algo muito bom, você está dentro.
O matuto
pensou por alguns instantes e disse a São Pedro:
“Ah, teve uma
vez que estava indo pela estrada, quando vi um bando de cangaceiros mexendo com
uma garotinha indefesa. Diminuí a velocidade do meu burro para ter
certeza do que estava acontecendo. Vi uns cinquenta cabras tentando
tirar as roupas da menina. Parei o burro, desci, peguei um facão e fui em
direção ao chefão do bando.
O cabra,
quando me viu, puxou um punhal duas vezes mais comprido do que o meu facão
e gritou: - Tá querendo o que, cabra safado?
Enquanto eu me
aproximava dele, os outros foram fazendo uma roda em volta de mim.
Mas eu tava
cego de raiva e com muita pena da menina, e lembrei-me doque que meu velho
pai dizia: “não tem ninguém frouxo nesta família.” E para não decepcionar o meu
véi, levantei meu braço com o facão e gritei: - Deixem essa menina em paz!
Vocês não passam de um bando de covardes! Voltem pra suas tocas antes que eu
perca a paciência e acabe com suas raças, seus animais!”
São Pedro,
realmente impressionado, perguntou-lhe:
— E quando
isso aconteceu?
— Ah, faz uns
dois minutos, São Pedro!
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