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quinta-feira, 4 de julho de 2019

PAVILHÃO DO MUSEU DO SERTÃO SOBRE AS ATIVIDADES PROFISSIONAIS – PARTE 1


Por Benedito Vasconcelos Mendes

Nas fazendas, vilas e cidades primitivas do sertão, os habitantes poderiam ser divididos em artesãos; trabalhadores braçais, que executavam serviços gerais, principalmente nas agroindústrias; vaqueiros; jangadeiros; pescadores; coletores de mel; lenhadores; prestadores de serviços específicos à comunidade; profissionais da área da saúde e os que desenvolviam atividades religiosas.

Os principais artesãos eram os ferreiros, flandreiros, cuteleiros, armeiros, carpinteiros, marceneiros, santeiros, tanoeiros, louceiras, cesteiros, seleiros, pedreiros, oleiros, sapateiros, costureiras, bordadeiras, rendeiras, crocheteiras, labirinteiras, fiandeiras e tecelãs. Com exceção das louceiras e dos cesteiros, que herdaram suas técnicas de fazer artesanatos dos indígenas, os demais artesãos vieram com os colonizadores portugueses.

Os profissionais que prestavam serviços específicos à sociedade eram os que exerciam as atividades de mestre-escola (professor para ensinar a ler, escrever e contar), bodequeiro, barbeiro,
alfaiate e coveiro.

Dos profissionais da área da saúde, somente os médicos possuíam nível superior e eram raros, apenas as cidades maiores possuíam médicos. Os outros profissionais da saúde, como a parteira, enfermeiro, curandeiro, raizeiro, tiradentes e encanadores de braço, eram práticos, sem nenhum estudo formal.

Os artistas populares, como os rabequeiros, violeiros, tocadores de pífanos de taboca, escultores, pintores, cancioneiros e repentistas, eram amadores, geralmente exerciam outras profissões e nas horas vagas, por diletantismo, se tornavam cancioneiros, músicos, poetas, pintores ou escultores.

Os trabalhadores braçais que trabalhavam nas agroindústrias, geralmente, eram diaristas ou trabalhavam no sistema de mutirão. Estas indústrias tinham época certa para entrarem em funcionamento, não funcionavam continuamente, mas somente após o período chuvoso, no segundo semestre do ano. Somente a produção de queijo de coalho e de manteiga do sertão era desenvolvida, principalmente, no período das chuvas. As principais agroindústrias sertanejas eram a casa de farinha, engenho de rapadura, alambique de cachaça, descaroçador de algodão, oficina de carne de charque, cozinha de queijo de coalho e de manteiga da terra, casa de beneficiamento de cera de carnaúba, usina de beneficiamento de óleo de oiticica, galpão de beneficiamento de borracha demaniçoba, galpão de beneficiamento de fibra de caroá e sala de fiar e tecer.

As atividades domésticas ou desenvolvidas para o lar, visando a manutenção da família, como as atividades de caçador, pescador, agricultor de subsistência, coletor de mel, lenhador, apanhador de frutos silvestres, botador d’água, cozinheira e outras, eram desenvolvidas por qualquer um dos membros da família. Eram tarefas aprendidas por todos e passadas de pai para filho, pela tradição oral.
A vida espiritual da população era orientada por padres, catequistas, sacristãos, beatos, penitentes e carpideiras. Destes, os que chamavam mais a atenção eram os penitentes e as carpideiras. Os penitentes são fiéis da Igreja Católica que com seus capuzes, bandeira e
indumentária própria, sob a liderança do Decurião (líder espiritual da ordem dos Penitentes), percorriam as Igrejas, Cruzeiros e Cemitérios sertanejos durante a Quaresma, entre a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira da Paixão, rezando para as almas dos mortos e se martirizando com chicotes providos de lâminas de ferro na ponta, provocando ferimentos nas costas, com a finalidade de apagar os pecados.

As carpideiras eram mulheres que choravam, rezavam e cantavam as incelências nos velórios sertanejos. Elas mostravam seus prantos e suas lágrimas sem nenhum sentimento, apenas por dinheiro.

COMENTÁRIOS SOBRE ALGUNS DESTES PROFISSIONAIS

1. Ferreiros, Armeiros e Cuteleiros

Praticamente, em todas as vilas e cidades nordestinas havia, no mínimo, uma tenda de ferreiro, onde eram produzidos ou afiados fações, facas, foices, roçadeiras, alavancas, machados,picaretas, chibancas e muitas outras ferramentas de uso comum na zona rural.

Os ferreiros manufaturavam e consertavam tudo que fosse feito de ferro, aço ou metal, desde delicadas peças de uma espingarda ou de um cabo de punhal de prata e marfim, de fino acabamento, até os grandes equipamentos e máquinas para as agroindústrias primitivas do sertão. 

Às vezes, os mestres ferreiros se especializavam na feitura de determinados objetos. Surgiram, assim, os armeiros e os cuteleiros. Os armeiros faziam espingardas, garruchas e outras armas de fogo. 

Os cuteleiros idealizavam e produziam facas de ponta, punhais, trinchetes, cutelos, quicés e facões. As facas de ponta e punhais constituíam-se verdadeiras obras de arte, com seus cabos de rodelas de
chifre, osso ou marfim e carretéis de alpaca ou latão, de fino acabamento. As facas de ponta maiores mediam 12 polegadas e serviam, ao mesmo tempo, de instrumento utilitário e de arma. As facas
bem amoladas eram úteis tanto na lida diária, para cortar um galho de árvore, sangrar uma rês ou tirar o couro de uma ovelha, quanto como arma de proteção. Os cuteleiros, malhando o aço incendido, limando e polindo, faziam punhais e facas de ponta que eram verdadeiras jóias.

Enquanto a lâmina era feita de aço, comprado em sucata de trem ou confeccionada de ponta de espada, o cabo trabalhado era produzido de chifre de boi, osso, marfim, ouro, prata, latão ou alpaca.

Alguns ferreiros se especializavam em produzir chocalhos para animais. 

Dos apetrechos tradicionais de uma tenda de ferreiro, sobressaíam a safra ou bigorna, o torno manual de ferro (morsa), a fornalha, atiçada por um fole de couro e as ferramentas pequenas, como marretas, marrões, martelos, tenazes, alicates, talhadeiras, punções, escalas, lima triângulo, lima chata e limatão. Na tenda do ferreiro, não podia faltar a tina com água, para arrefecer o ferro incandescente e a tina com óleo, para temperar o ferro. As principais matérias-primas do ferreiro eram as barras de ferro, chapas, cantoneiras, canos, trilho de trem, parafusos, porcas e arruelas.

2. Flandreiros

Com o surgimento da folha de flandres, da folha de cobre e da folha de zinco, no comércio regional, muitos utensílios domésticos passaram a ser feitos com estas matérias-primas. As folhas de flandres são folhas de ferro estanhadas e as folhas de zinco são folhas de ferro galvanizadas com zinco. As folhas de cobre são de metal puro.

Flandreiro era o profissional que manufaturava os mais diversos objetos com estas folhas metálicas, sobretudo funis, lamparinas, candeias, candeeiros, baldes, panelas, bacias, alguidares, ralos de ralar milho verde, canecos de beber água, litros para medir leite, canadas para medir cachaça, fogareiros, bocas de jacaré, biqueiras e calhas para escorrer água da chuva nos beirais e outros inúmeros produtos. A principal ferramenta do flandreiro era um tipo de bigorna de pontas muito compridas, utilizadas para dobrar as folhas metálicas, fazer tubos, canaletas, vincos e outras coisas. Ele utilizava também um outro tipo de dobradeira, feita de chapa espessa de ferro, para conseguir realizar vários tipos de dobra. Outras ferramentas usadas por este profissional era a tesoura de gume curvo, em forma de meia lua, usada para cortar as folhas metálicas; o martelo e o ferro para solda branca. Quando começaram a ser comercializados na região, os produtos de ferro esmaltado (ágata), como panelas, chaleiras, canecas, bacias, penicos e outros recipientes, o flandreiro passou a consertar estes utensílios com solda branca, especialmente as aselhas, que se
desprendiam ou remendando partes estragadas. A substituição de fundos de tachos de cobre e deutensílios de Ágata, como panelas e bacias, era feita com solda branca ou apenas malhetado.

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