Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia e mais precisamente em Salvador. Dali se irradiou para os demais estados do Nordeste.
A pergunta que mais inquieta e intriga os nossos pesquisadores é "Por que exatamente no nordeste?". A resposta não está distante do raciocínio livre nem dos domínios da razão. Como é sabido, a primeira capital da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de todas as culturas, permanecendo assim até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro.
Na indagação dos pesquisadores no entanto há lógica, porque os poetas de bancada ou de gabinete, como ficaram conhecidos os autores da literatura de cordel, demoraram a emergir do seio bom da terra natal. Mais tarde, por volta de 1750 é que apareceram os primeiros vates da literatura de cordel oral. Engatinhando e sem nome, depois de relativo longo período, a literatura de cordel recebeu o batismo de poesia popular.
Foram esses bardos do improviso os precursores da literatura de cordel escrita. Os registros são muito vagos, sem consistência confiável, de repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão ou Mergulhão, mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia 19 de Novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo, em fins do século passado.
Sua afirmação, na última estrofe desta peleja (ver em detalhe) é um rico documento, pois evidencia a não contemporaneidade do Riachão com o rei dos autores da literatura de cordel. Ele nos dá um amplo sentido de longa distância ao afirmar: "Um velho daquela época a tem ainda gravada".
Palavras-chave: Cordel, Literatura de Cordel, Nordeste
LUCIANO CARNEIRO
Luciano Carneiro
Poeta, carroceiro, violeiro, autor de vários cordéis, Luciano Carneiro, 63 anos, tornou-se tipógrafo. Abraçado com uma velha impressora da marca Consani, importada da Itália, Luciano passa o dia imprimindo cordéis na sede da Academia dos Cordelistas, localizada ao lado do Cemitério do Crato. O sonho do poeta é colocar em funcionamento uma Intertype, ou linotipo, compositora mecânica que grava as palavras em chumbo, substituindo a composição manual letra por letra. Esse trabalho é feito pelo chapista Vicente Nascimento Silva, 49 anos, remanescente da Empresa Gráfica Ltda., que editava o jornal "A Ação", órgão da Diocese de Crato.
Luciano Carneiro
Por enquanto, a Academia dos Cordelistas está editando, no máximo, três cordéis por semana. O custo fica em torno de R$ 0,30, cada um. "Não temos condições de competir com os cordéis feitos em computadores", lamenta. Mas o bom cordelista prefere o método tradicional. "É mais romântico, mais fiel às sua origens", diz.
Luciano explica que há vários tipos de cordéis. O encomendado é aquele que trata de um determinado assunto social ou político. "O interessado diz o assunto e a gente transforma em versos. Recentemente, foi feito um sobre a dengue", lembra. O bom cordel é aquele que nasce da inspiração. Ao fazer essa diferença, Luciano diz que costuma produzir seus cordéis durante a madrugada, das 4 às 6 horas. São geralmente histórias da infância, ou lendas medievais, evolvendo reis e rainhas.
Em um dos seus cordéis, Luciano diz:
Zefa acende o candieiro
Bota logo a janta minha
Um arrozim cum galinha
Quela cria no chiqueiro
E assim qui eu acabo
Acendo um cigarro brabo
E vou pofá no terreiro
Chamo Joaquim ou Mané
E mando lê um cordé
Qui fala de cangaceiro
História de Lampião
Ou então de Pade Ciço
Qui o povo aqui gosta é disso
De pade e de valentão
Qui ajunta a viziança
E nós cunversa lambança
Até a lua pendê
Adispois nós vai dromi
Qui a gente qui mora aqui
Temo muito o qui fazê.
Tem seica pra remontá
Vaca pra curá bicheira
Conserto de cambiteira
E roçado pá limpá
Um vai arrancá mandioca
E outro vai quimá broca
Outro tem mi pra cuiê
Ninguém faz é inricar
Mais se agente trabaiá
Nunca farta o qui comê.
Bota logo a janta minha
Um arrozim cum galinha
Quela cria no chiqueiro
E assim qui eu acabo
Acendo um cigarro brabo
E vou pofá no terreiro
Chamo Joaquim ou Mané
E mando lê um cordé
Qui fala de cangaceiro
História de Lampião
Ou então de Pade Ciço
Qui o povo aqui gosta é disso
De pade e de valentão
Qui ajunta a viziança
E nós cunversa lambança
Até a lua pendê
Adispois nós vai dromi
Qui a gente qui mora aqui
Temo muito o qui fazê.
Tem seica pra remontá
Vaca pra curá bicheira
Conserto de cambiteira
E roçado pá limpá
Um vai arrancá mandioca
E outro vai quimá broca
Outro tem mi pra cuiê
Ninguém faz é inricar
Mais se agente trabaiá
Nunca farta o qui comê.
Antônio Vicelmo
"Diário do Nordeste", 25-5-2005
"Diário do Nordeste", 25-5-2005
Luciano Carneiro Lima
Atividade: Cordelista e Tipógrafo
Endereço: Travessa Potengi,496/Crato-CE
Nascimento: 07 de janeiro de 1942
"Seu Luciano Carneiro:
Parabenizo-lhe por ter escolhido esta profissão fantástica, juntar-se letra por letra e depois ver a grande arte que a gente fez, com estética.
Fui tipógrafo durante 12 anos, iniciando "chapista", mãos ao velho componidor e bolandeira. Posteriormente assumir a função de "linotipista", só tendo uma diferença do senhor, não sou poeta.
Sobre a velha e quase extinta tipografia, conheço tudo, e apesar de tantos anos não mais exercer esta atividade, ainda faço algumas chapas com rapidez, na tipografia pé duro do meu irmão Antonio Mendes Sobrinho.
Mais uma vez parabenizo-lhe!
José Mendes Pereira"
Nenhum comentário:
Postar um comentário