Por: José Romero Araújo Cardoso(*)
Luiz era seu nome de batismo, mas foi
imortalizado tragicamente nas crônicas da violência do século dezenove pelo
apelido cangaceiro de Rio Preto. Não tinha bando próprio, agia sozinho, pois preferiu
destilar seu ódio solitário pelas quebradas do sertão.
Luiz nasceu em Pombal (PB), foi
criado, melhor dizer acolhido na humilhação extrema, pelo sacerdote católico
Amâncio Leite, que não poupou em nenhum momento o pobre Luiz das mais
vexatórias e ignominiosas manifestações de escárnio visando massagear ego
doentio condicionado pelo histórico racismo que marca o imaginário de pessoas
sem formação e detentor de falsa devoção a Deus, que não difere negros,
brancos, amarelos ou vermelhos.
Não seria de estranhar que nêgo Luiz
despertasse revolta incontida contra a sociedade de sua época. Ganhou as
caatingas sertanejas feito fera bravia sem limites para a violência que
disseminou.
Sequestrava mocinhas brancas, seviciava-as e
depois de torturá-las ao extremo, reservava-lhes morte cruel e desumana. O
covil no qual se homiziava era cheio de ossos dessas infelizes que tiveram a
desdita de cair em suas garras tenebrosas.
Imitava com
invulgar perfeição o rincho de um jumento, razão pela qual o terror era
instalado no coração das pessoas quando ouviam o som estridente do animal que
conduziu Jesus quando da fuga para o Egito, fugindo das perseguições romanas impostas
por Heródoto.
Rio Preto foi um cangaceiro semelhante a Lucas
da Feira, cuja perversidade marcou época na Bahia. O modus operandi de ambos
foi marcado pela ferocidade como agiam, pela forma como extravasou o ódio contra
as estruturas da sociedade de suas épocas.
Diziam que Rio Preto tinha feito pacto com o
demônio, pois se propalou que o cangaceiro era imune a facas e balas, nada o
atingia, pois além de tudo era dotado de “encantamentos”, transformando-se em
tocos ou pedras quando alguma força volante estava em diligência a fim de
capturá-lo.
Rio Preto tinha inúmeras mortes nas
costas, era o terror de Pombal (PB) e áreas fronteiriças das Províncias
Parahybana e norte-riograndense. A ira implacável de nêgo Luiz fez muitos
sertanejos tremerem de medo durante décadas.
Afirmo categoricamente que o
responsável pela gênese do malvado cangaceiro paraibano foi o Padre Amâncio
Leite. Esse foi o principal responsável pelo terror instalado no sertão devido
a forma extremamente perversa como tratou a criança desde a mais tenra idade,
infringindo-lhe castigos terríveis que forjaram a personalidade doentia e
criminosa de Rio Preto.
Mas nêgo Luiz não tinha o corpo
fechado como se dizia. Responsável pela morte de um fazendeiro em Pombal (PB),
Rio Preto foi alvo de uma tocaia montada pelos filhos do sertanejo assassinado.
Chovia aos tântaros quando os adolescentes escalaram os clavinotes em direção
ao cangaceiro. Haviam colocado algodão nas agulhas das armas, para facilitar os
disparos na enxurrada.
A fama de mau de Rio Preto era tão
conhecida que os dois rapazes não esperaram para constatar se havia consumado a
vingança. Mas Rio Preto resistiu com estoicismo aos disparos, sendo encontrado
por forças policiais estertorando. Conduzido à cadeia de Pombal (PB),
considerada a mais segura do sertão setentrional, Rio Preto faleceu em uma das
celas, morrendo sem se arrepender dos crimes abomináveis que cometeu em suas
estrepolias violentas pelas veredas da terra do sol.
(*) José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto do Departamento de Geografia
da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Especialista em geografia e Gestão Territorial e em
Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Membro do
Instituto do Oeste Potiguar (ICOP). Contato: romero.cardoso@gmail.com.
Enviado pelo o autor: José Romero Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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