Por: José Romero Araújo Cardoso
Em uma época marcada pela violência e
ousadia, Manuel Benício encarnou de forma extraordinária a valentia, a astúcia
e a sagacidade a fim de enfrentar provas de fogo inauditas pelos ermos distantes
das quebradas do sertão.
As táticas cangaceiras eram tão complexas
que somente alguém com o mesmo sangue frio dos bandoleiros poderia alcançar
sucessos quando das diligências para fazer valer a lei e a ordem em uma terra
marcada pela absoluta ausência de amor ao próximo.
Manuel Benício sintetizou tudo isso,
pois com coragem extrema alcançou seus objetivos militares em diversos momentos
históricos que marcaram o sertão paraibano. Em 1912, quando da campanha
política que envolveu Rêgo Barros e Castro Pinto, através da mazorca promovida
pelos chefes políticos de Alagoa do Monteiro, representado pelo Dr. Augusto
Santa Cruz, e de Teixeira, com o Dr. Franklin Dantas, pai do bacharel João
Duarte Dantas, assassino do Presidente João Pessoa em julho de 1930, Manuel
Benício conseguiu ludibriar um piquete formado por jagunços dos caudilhos,
matando sete inimigos, de uma forma que apenas quem tinha profunda insensibilidade
poderia conseguir, pois uma das características do Coronel Manuel Benício era justamente total apatia
à vida e à morte.
O comandante paraibano de forças
volantes guardou até a morte um rosário de orelhas dos cangaceiros mortos em
combate. Cada membro tinha precisa identificação, pois dotado de memória
prodigiosa Manuel Benício sabia a quem pertencia e em qual combate conseguiu
matar determinado bandoleiro, cuja “lembrança” era mantida como troféu de
guerra.
Exemplo de como Manuel Benício era
frio e calculista encontramos na história de uma perseguição a cangaceiro no
vale do Piancó. Altas horas da madrugada, Manuel Benício teve um encontro
inesperado com o bandido que perseguia. Era questão de milésimo de segundos
para decidir a sorte. Gritando bem alto que não atirassem pelas costas no homem
à sua frente, sem ninguém na retaguarda, o valente militar conseguiu a distração
necessária do inimigo para abatê-lo com certeiro tiro.
Em boa parte da história da Polícia
Militar do Estado da Paraíba no século XX encontra-se a constante presença de
Manuel Benício. Não obstante a amizade com Francisco Pereira Dantas, foi Manuel
Benício quem comandou a tentativa de captura do cangaceiro paraibano no sítio
Pau ferrado, na época pertencente ao município de Pombal (PB). No tiroteio do
sítio Tataíra, entre Princesa (PB) e Triunfo (PE), quando o cangaceiro Meia-Noite
foi cercado, tendo se imortalizou nas crônicas cangaceiras, também foi Manuel
Benício quem comandou a diligências, auxiliado pela tropa de “cachimbos” contratada
pelo “Coronel” José Pereira Lima.
Em Princesa (PB), quando da
deflagração da guerra civil em 1930, contra o governo de João Pessoa, Manuel
Benício se destacou como bravo combatente, tendo participado de combates
importantes, a exemplo de Tavares (PB), quando a tropa comandada pelo Capitão
João Costa ficou literalmente sitiada durante os seis meses de luta, comendo
“pipoca e pipoco”.
Atendendo os requisitos necessários
exigidos por sua época, ou seja, matar o maior número possível de adversários,
Manuel Benício chegou ao coronelato na Polícia Militar paraibana, destacando-se
entre bravos que enfrentaram verdadeiras feras, bandoleiros e insurrectos que,
ao lado dos volantes, protagonizaram façanhas impressionantes que marcaram uma
época atribulada no sertão nordestino.
(*) José Romero Araújo
Cardoso. Geógrafo. Professor da UERN.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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