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quinta-feira, 11 de julho de 2013

ZÉ OLÍMPIO, ZÉ DE JULIÃO, A PRÉ-ESTREIA NO CINEMA DO CABRA DE LAMPIÃO (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

ZÉ OLÍMPIO, ZÉ DE JULIÃO, A PRÉ-ESTREIA NO CINEMA DO CABRA DE LAMPIÃO 

Aracaju, 10 de julho de 2013. Noite fria, chuvisquenta, já passava das seis e meia da noite quando cheguei pelos arredores do Cine Vitória, na Rua do Turista, centro da capital sergipana, para assistir à pré-estreia nacional do filme “Aos ventos que virão”, do premiado cineasta Hermano Penna. Amanhã a exibição será na Praça de Eventos da cidade de Poço Redondo, a partir das oito da noite. E justo que seja assim. Mais adiante direi por quê.

Desde muito que eu esperava por esse momento, ansiava para ver na tela a história baseada na saga de José Francisco de Nascimento, ou Zé de Julião, ou ainda Cajazeira, alcunha recebida quando, ao lado de sua esposa Enedina, integrou o bando de Lampião. Sua amada acabou sendo uma das vítimas da Chacina de Angico, a 28 de julho de 38. Ele conseguiu e escapar, mas daí em diante viveria outros martírios.

O cangaceiro Zé de Julião
P
or diversas razões esperava a estreia do filme do Penna. Em primeiro lugar, porque abordando a vida de um ex-cangaceiro e seu reencontro com um mundo não menos injusto daquele vivenciado no bando do Capitão; em segundo lugar porque quase totalmente filmado nas terras de meu berço de nascimento, minha querida Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, ou apenas Poço Redondo, como tantas vezes é citado na película. E contando com a participação de muitos conterrâneos.


Em terceiro lugar - e primordialmente - porque naquele filme e naquela trama estavam muito de meu pai Alcino Alves Costa. Ora, foi ele quem foi buscar nos escondidos da história a saga desse seu conterrâneo e a trouxe, nas letras de primorosa pesquisa, para o conhecimento da geração da desmemória e do esquecimento. Foi ele quem fez reviver Zé de Julião para o mundo e chegar ao conhecimento de Hermano Penna.

Ana Lúcia e Alcino Alves Costa

Com efeito, foi a partir de conversas entre Alcino e o cineasta que este tomou conhecimento da saga desse sertanejo de família abastada, sonhador, e que um dia resolveu entrar para a vida cangaceira como forma de mostrar sua insatisfação com as injustiças e perseguições policiais de então. Ao sobreviver à morte do líder cangaceiro, buscou na política dar voz aos seus anseios de transformação. E pagou com a própria vida o sonho de ser prefeito de seu recém criado município.

O cineasta, que em Poço Redondo filmou o documentário “A mulher no cangaço” (1976) e o premiadíssimo longa “Sargento Getúlio”, ouviu de Alcino aquela história e prometeu que se debruçaria num projeto para transformar em filme as desventuras desse jovem sertanejo. Assim surgia o renascimento, dessa vez cinematográfica, daquele que percorreu os caminhos do idealismo, da vida cangaceira e da política. Chegou a ser candidato a prefeito por duas vezes, e nas duas sendo perseguido e fraudado pelas forças políticas de então. Mas cuja persistência o levaria a ser covardemente assassinado.

Contudo, não é essa história, ao menos na sua inteireza e realidade, que é mostrada no filme “Aos ventos que virão”. É sabido que o cineasta encontrou diversos problemas para levar adiante seu projeto, e dificuldades criadas por alguns familiares do próprio Zé de Julião e também para evitar reacender rixas e suspeitas antigas, vez que as causas do assassinato ainda não foram totalmente reveladas. Todos conhecem a verdade, mas preferem não mexer em palheiro adormecido no silêncio das vinditas.

Os problemas encontrados para filmar fizeram com que Penna modificasse sensivelmente a história. Zé de Julião se transformou em Zé Olímpio; no filme, o seu casamento se dá após o fim do bando de Lampião, quando já estava acompanhado de sua esposa na vida cangaceira; o seu destino sulista é o Rio de Janeiro, mas a película opta por São Paulo; foi candidato a prefeito por duas vezes, quando apenas uma é considerada por Penna; não morreu assassinado na prisão, mas nas caatingas de Poço Redondo, enquanto retornava do sul do país para retomar sua vida política, vez que continuava sendo perseguido pela sua condição de ex-cangaceiro e, principalmente, como forte liderança partidária.

Os que se debruçam sobre a história na tela sem conhecer mais profundamente a verdadeira saga de Zé de Julião, certamente que encontram um filme perfeito, refletindo a maestria do cineasta. Contudo, quem já enveredou pela trama verdadeira sente um pouco de desapontamento. Principalmente porque a história verdadeira é mais bonita e intrigante.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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