Autor: Rostand Medeiros
O natalense de maneira geral gosta de carro novo?
Ah como Gosta!
Gosta tanto que em recente pesquisa divulgada pelo setor de Estatística do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Norte (Detran/RN), o aumento no número de veículos no estado é maior que próprio crescimento populacional.
Militares americanos e brasileiros da FAB no portão da guarda da base de Parnamirim Field.
Segundo o site
Nominuto.com, a pesquisa mostra que entre 2010, até outubro de 2013, a
população norte-rio-grandense cresceu 6,5%, enquanto a quantidade de veículos
automotores foi ampliada para a incrível cifra de 29,99% (para ver mais
detalhes desta pesquisa veja http://nominuto.com/noticias/cidades/frota-de-veiculos-no-rn-cresce-quatro-vezes-mais-que-a-populacao/104434/).
A cada mês uma
média superior a 2.500 veículos novos deixam as concessionárias e passam a
circular nas ruas de Natal. Logicamente que este fluxo contínuo cria sérios
problemas de mobilidade urbana.
Para quem
dirige em Natal isso não é nenhuma novidade. Há uns quinze anos atrás se dizia
que você atravessava toda a capital potiguar em parcos 20 minutos. Hoje, se
você tiver um compromisso importante, dependo da hora e onde você mora, se não
sair de casa com muita antecedência vai chegar atrasado.
Mas está
errado as pessoas buscarem comprar um veículo novinho?
Não, de forma
alguma! Além do ditado popular comentar que “tudo que é novo é bom”, para uma
cidade que tem um terrível, anacrônico e atrasado sistema de transporte urbano,
um veículo automotor privado acaba sendo uma necessidade em Natal.
Mas a questão
que eu quero abordar não está na validade de se possuir um veículo, mas na
intensa rotatividade e na quantidade de veículos novos que circulam aqui.
Uma História
Sobre Rodas
Não sei quando
o primeiro veículo automotor circulou pelas ruas de barro de Natal, certamente
nos primeiros anos do século XX.
Poucos
veículos circulavam por Natal nas primeiras décadas do séc. XX.
Mas sei que
483 veículos percorriam os caminhos do Rio Grande do Norte no ano de 1924. Em
1925 a quantidade passou para 539 e em 1926 chegou a 607 veículos. Neste último
ano, exclusivamente em Natal, circulavam 218 dos chamados “modelos de
autopropulsão”, para uma população em torno de 40.000 habitantes. Estes dados
faziam parte de uma pesquisa a nível nacional do extinto Ministério da Viação,
junto aos 1.407 municípios que oficialmente existiam no Brasil (ver jornal A
República, pág. 3, 10 de julho de 1928).
Publicada em
1939, a Sinopse Estatística do Estado, produzida pelo Departamento Estadual de
Estatística, traz na página 53 a informação que o número de automóveis de
passeio, motocicletas, caminhões e veículos especiais circulando em Natal no
ano de 1938 eram de 377 veículos, para uma população que superava 50.000
habitantes. Ou seja, de certa forma o crescimento foi proporcional durante
algum tempo.
Natal vazia de
veículos
Mas em algum
momento de nossa história isso mudou e dizem que os grandes responsáveis foram
os americanos na época da Guerra.
Será?
E Os
Americanos Chegaram…
Natal e o Rio
Grande do Norte assistiram a grande máquina militar americana construir e
utilizar as instalações da grande base de Parnamirim Field. Deste ponto
estratégico, um dos aeródromos mais movimentados do mundo durante o conflito,
partiam e chegavam centenas de milhares de militares Aliados em direção as
áreas de combate.
Em Parnamirim
Field e na Naval Air Station Natal (NAS Natal), que conhecemos como Rampa, uma
cifra muito elevada de militares estadunidenses ficaram baseados durante certo
período. Eram homens que trabalhavam em várias funções, exercendo muitas
responsabilidades e num ritmo frenético.
Isso tudo são
fatos mais que conhecidos. Entretanto existe a ideia que os militares
estrangeiros em Natal tinham um grande número de veículos a sua disposição.
Havia Fords, Chevrolets, Lincolns, Buicks e Mercurys, típicos sedans americanos
da década de 1940. A maioria deles ostentando uma estrela branca nas laterais,
padrão do exército americano.
Tripulação de
uma B-17 em seus trajes de voo, recebendo instruções. Muitos destes aviões
passaram por Parnamirim Field.
Com o fim da
guerra e a saída destas tropas de nossa terra, comenta-se que os americanos
deixaram uma grande quantidade de materiais excedentes e que a maior parte dos
materiais que aqui ficou eram veículos seminovos. Estes seriam carros com pouco
tempo de uso e que foram vendidos por preços baixíssimos. Para alguns o preço
teria sido uma verdadeira “mixaria”.
Logo vários
natalenses estavam dirigindo veículos de ótima qualidade, ainda “cheirando a
novo” e comprados por preços baixíssimos. Pessoas que andavam a pé, de
bicicleta, ou de bonde, logo estavam rodando em um reluzente carrão americano,
matando de inveja a vizinhança, principalmente quando ficavam lavando e limpado
o possante por horas na porta de casa.
Seria Esta a
Razão?
Pessoalmente
nunca acreditei nesta versão.
Ao pesquisar o
tema não descobri nas páginas do jornal potiguar “A República”, nenhuma
referência, que os militares americanos publicaram convites a pessoas
interessadas em participar da compra de lotes de carros de passeio.
Mas vamos
partir do princípio que realmente os americanos venderam muitos destes tipos de
carros por aqui. Aí logo surge uma questão básica – Militares em missões
utilizam quais tipos de carros?
Parnamirim
Field era um aeródromo que servia como um grande ponto de apoio para tropas e
aviões.
Concordo, até
por possuir fotos do período, que os americanos tinham os tipos de veículos que
supostamente venderam em quantidade e a preços baixos na nossa cidade.
Provavelmente utilizavam estes carros no trajeto entre Natal e a base aérea,
transportando oficiais de alta patente, autoridades, visitantes, jornalistas e
outros. Mas certamente eram poucos veículos, pois o grosso da missão deles aqui
era principalmente apoiar aeronaves militares. Para isso se utiliza jipes,
caminhões de transporte, camionetes, caminhões de transporte de combustíveis,
carros guinchos, ambulâncias e outros veículos especializados.
Sem
Resposta,,,
Na busca de
uma resposta fui atrás de quem conhece muito, embora ele diga que não, sobre a
presença dos americanos no Rio Grande do Norte durante a Segunda Guerra
Mundial. Entrei em contato com o amigo Laélio Ferreira de Melo para debatermos
sobre o tema.
Parnamirim
Field em 1944, Othoniel é o primeiro, em pé, à esquerda. Trabalhava no
Posto de Engenharia. Coincidentemente um veículo de passeio de fabricação
americana está atrás das pessoas na foto – Fonte – glosandoomundo.blogspot.com.br
Laélio era
garoto na época da Guerra, filho de Othoniel Menezes, que trabalhava na base de
Parnamirim junto aos americanos. Othoniel Menezes é uma figura mais do que
conhecida e respeitada no Rio Grande do Norte. Poeta, membro da Academia
Norte-rio-grandense de Letras e criador dos versos da canção “Praieira”, de
1922, cuja musica foi composta pelo maestro Eduardo Medeiros no ano seguinte e
considerada durante muitos anos a canção tradicional da cidade de Natal.
Laélio me
comentou que seu pai trabalhava no posto de engenharia de Parnamirim Field e
ocasionalmente o levava para ver o movimento na base. Para ele é fantasia esta
história que os americanos venderam muitos veículos de passeio para os
natalenses, até porque eles tinham poucos destes carros. Corroborando
minhas suspeitas, Laélio me confirmou que os americanos tinham principalmente
utilitários, veículos militares e uns poucos carros de passeio utilizados no
transporte de autoridades, principalmente Chevrolets ou Mercurys. Estes tinham
realmente a estrela branca nas laterais, eram pintados com uma cor fosca e
possuíam nos faróis materiais próprios para veículos que circulavam em áreas em
regime de blackout.
Laélio me
comentou que mesmo existindo estes poucos veículos, muitas autoridades
circulavam pela cidade em veículos militares. Assim como os presidentes
Franklin Delano Roosevelt e Getúlio Dorneles Vargas transitaram por Natal de
jipe, Laélio testemunhou a passagem da Sra. Soong May-ling, esposa do general
Chiang Kai-shek e primeira dama da República da China, passando próximo a Rua
Felipe Camarão, no centro da cidade, sentada na traseira de um simples jipe.
Quando os
americanos foram embora eles levaram o que puderam e venderam (mas não doaram)
veículos para nossas forças armadas. Para Laélio somente anos depois estes
mesmos veículos, já bastante usados, foram revendidos a particulares. Como
nunca vi uma documentação que traga os números, e os tipos dos veículos
negociados pelos militares americanos ao deixarem o Rio Grande do Norte, só
posso concordar com o amigo Laélio.
Para mim o
gosto dos natalenses pela frequente compra de veículos novos está ligado a
outras razões, que não sei quais são. Mas sei que esta necessidade do carro
novo já afundou muita gente em dívidas e infindáveis renegociações de
financiamentos com juros acachapantes.
Aqui é comum
se ver um tremendo carrão na porta, diante de uma habitação simples, onde
normalmente não se encontra nenhum livro dentro dela.
P.S. – Sobre
as memórias do amigo Laélio Ferreira de Melo durante o período da guerra em
Natal, veja este interessante artigo de sua autoria. – http://www2.uol.com.br/omossoroense/220806/conteudo/laelio_ferreira.htm
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Grande do Norte, Segunda Guerra Mundial Arquivo
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Field, Problemas
de mobilidade urbana, Rampa, Segunda
Guerra Mundial, Soong May-ling,
visitantes
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/11/30/o-prazer-nosso-pelo-carro-novo-sao-os-militares-americanos-os-responsaveis-por-isso/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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