Por Rangel Alves
da Costa*
Igualmente a
Belchior, não preciso que me digam de que lado nasce o sol. Conheço bem esse
lugar, sei muito bem onde fica. Mesmo de olhos vendados conseguiria
encontrá-lo, bem como a qualquer instante e circunstância. No leste do corpo
fica o meu coração, os meus sentimentos, a moradia do amor e da fé, o templo
maior de um ser.
A própria
música confirma que o coração bate no lado que nasce o sol. No lado esquerdo do
peito, no lugar mais primoroso do corpo, aí bate o coração e nasce todo o sol
da vida, sempre pujante, sempre radiante. E mesmo as nuvens enegrecidas que
insistem em aparecer não conseguem afastar sua presença.
Contudo,
também sei que o sol não nasce no mesmo lugar, pois em pontos diferentes a cada
dia. Assim acontece porque nem sempre surge no ponto cardeal leste, mas do lado
leste onde a pessoa está. É como se o indivíduo estivesse mirando o lado oeste
e lá pudesse encontrá-lo. Não porque ele nasça lá, mas porque o leste do
coração segue a pessoa e é o mesmo em qualquer direção.
Mas de todo
modo ele nasce sempre no lado esquerdo do peito, pois num horizonte leste que
não é outro senão o do coração. E tudo de bom na existência parece partir desse
ponto, desse horizonte ensolarado, eis que o coração é porta e caminho de onde
a pessoa sai em busca das grandes realizações.
E assim porque
só é bom e desejado ao indivíduo se anteriormente for confirmado pelo coração.
Absolutamente nada possui validade na vida se não estiver em conformidade com
os desejos da alma e a benção do coração. Este é o primeiro a ser ouvido porque
é primeiro que sabe o que realmente é desejado.
Assim, nenhum
passo, nenhum querer, nenhuma aspiração, absolutamente nada deve ser imaginado
e feito contrariando o seu comando. Ora, diferentemente do que ocorre nas ações
exteriores do indivíduo, o coração nunca erra. Por mais que o indivíduo ache
que não, por mais que o veja sentimentalista demais, ainda assim será
comprovado que a razão do homem está mesmo no templo de seu íntimo.
A ação do
indivíduo nem sempre tem a ver com o que o seu coração assinalou,
silenciosamente ensinou a fazer. É próprio do ser humano agir por impulsos, sem
ponderações e cuidados maiores. Mas toda vez que age em desconformidade com o
melhor para si, cuja lição continua sendo repassada por aquela voz interior,
estará se distanciando de sua própria humanização.
É preciso,
pois, ouvir atentamente a voz do coração. Sim, o coração tem voz, dialoga com o
indivíduo, repassa-lhe as lições necessárias. O termo “ouvir a voz do coração”
não é mera força de expressão, mas uma verdade que deve ser sempre considerada.
E são muitas as consequências neste sentido, nascidas da obediência ao não às
suas sempre sábias palavras.
Geralmente se
ouve que o coração não desejava, porém acabou agindo por conta própria. E também
que o coração apertava dizendo não, mas a pessoa deixou de lado toda prudência
e agiu quase por impulso. E ainda que por não ouvir o coração fez a escolha
menos desejada. Quer dizer, todas as ações foram irracionais e suas
consequências danosas. E fazendo sofrer também ao coração que só desejava a
felicidade.
Não há erro
maior no ser humano que agir contrariamente aos desejos daquele que
verdadeiramente o guia. E não ouvi-lo, não considerá-lo, também vai definhando
toda a sua sensibilidade. E aos poucos o coração tão pulsante, tão vivaz, vai
perdendo sua força e encorajamento e vai se tornando apenas uma máquina que
bate cada vez mais lentamente. Até parar.
Por isso mesmo
que a pessoa não deve esquecer-se de olhar para o lugar onde nasce o sol, e a
cada dia, a cada instante. Ali está o seu coração. Ali bate o seu coração.
Deste retire sua luz, sua força vital e viva a plenitude possível.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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