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terça-feira, 5 de agosto de 2014

NÃO PRECISO QUE ME DIGAM DE QUE LADO NASCE O SOL

Por Rangel Alves da Costa*

Igualmente a Belchior, não preciso que me digam de que lado nasce o sol. Conheço bem esse lugar, sei muito bem onde fica. Mesmo de olhos vendados conseguiria encontrá-lo, bem como a qualquer instante e circunstância. No leste do corpo fica o meu coração, os meus sentimentos, a moradia do amor e da fé, o templo maior de um ser.

A própria música confirma que o coração bate no lado que nasce o sol. No lado esquerdo do peito, no lugar mais primoroso do corpo, aí bate o coração e nasce todo o sol da vida, sempre pujante, sempre radiante. E mesmo as nuvens enegrecidas que insistem em aparecer não conseguem afastar sua presença.

Contudo, também sei que o sol não nasce no mesmo lugar, pois em pontos diferentes a cada dia. Assim acontece porque nem sempre surge no ponto cardeal leste, mas do lado leste onde a pessoa está. É como se o indivíduo estivesse mirando o lado oeste e lá pudesse encontrá-lo. Não porque ele nasça lá, mas porque o leste do coração segue a pessoa e é o mesmo em qualquer direção.

Mas de todo modo ele nasce sempre no lado esquerdo do peito, pois num horizonte leste que não é outro senão o do coração. E tudo de bom na existência parece partir desse ponto, desse horizonte ensolarado, eis que o coração é porta e caminho de onde a pessoa sai em busca das grandes realizações.

E assim porque só é bom e desejado ao indivíduo se anteriormente for confirmado pelo coração. Absolutamente nada possui validade na vida se não estiver em conformidade com os desejos da alma e a benção do coração. Este é o primeiro a ser ouvido porque é primeiro que sabe o que realmente é desejado.

Assim, nenhum passo, nenhum querer, nenhuma aspiração, absolutamente nada deve ser imaginado e feito contrariando o seu comando. Ora, diferentemente do que ocorre nas ações exteriores do indivíduo, o coração nunca erra. Por mais que o indivíduo ache que não, por mais que o veja sentimentalista demais, ainda assim será comprovado que a razão do homem está mesmo no templo de seu íntimo.


A ação do indivíduo nem sempre tem a ver com o que o seu coração assinalou, silenciosamente ensinou a fazer. É próprio do ser humano agir por impulsos, sem ponderações e cuidados maiores. Mas toda vez que age em desconformidade com o melhor para si, cuja lição continua sendo repassada por aquela voz interior, estará se distanciando de sua própria humanização.

É preciso, pois, ouvir atentamente a voz do coração. Sim, o coração tem voz, dialoga com o indivíduo, repassa-lhe as lições necessárias. O termo “ouvir a voz do coração” não é mera força de expressão, mas uma verdade que deve ser sempre considerada. E são muitas as consequências neste sentido, nascidas da obediência ao não às suas sempre sábias palavras.

Geralmente se ouve que o coração não desejava, porém acabou agindo por conta própria. E também que o coração apertava dizendo não, mas a pessoa deixou de lado toda prudência e agiu quase por impulso. E ainda que por não ouvir o coração fez a escolha menos desejada. Quer dizer, todas as ações foram irracionais e suas consequências danosas. E fazendo sofrer também ao coração que só desejava a felicidade.

Não há erro maior no ser humano que agir contrariamente aos desejos daquele que verdadeiramente o guia. E não ouvi-lo, não considerá-lo, também vai definhando toda a sua sensibilidade. E aos poucos o coração tão pulsante, tão vivaz, vai perdendo sua força e encorajamento e vai se tornando apenas uma máquina que bate cada vez mais lentamente. Até parar.

Por isso mesmo que a pessoa não deve esquecer-se de olhar para o lugar onde nasce o sol, e a cada dia, a cada instante. Ali está o seu coração. Ali bate o seu coração. Deste retire sua luz, sua força vital e viva a plenitude possível.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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