Material do
acervo de Antonio Corrêa Sobrinho
LUIZ PEDRO,
SUPERIOR A LAMPIÃO
A janela, a
pedido de um amigo comum, se fecha. Oferecemos um copo de água mineral ao
entrevistado e ele recusa: “Por ora, não”. Em sequência, entrando propriamente
no objeto da reportagem garante:
- Homem, o bandido que criou nome foi Lampião, mas no grupo dele havia estrategistas mais hábeis, como Luiz Pedro, que também era mais valente e mais esperto do que o chefe.
O coronel João Bezerra percebe o nosso espanto e adita:
- Todavia, lampião também era um cabra valente da peste.
DETALHES
INÉDITOS SOBRE O FIM DO BANDOLEIRO
O repórter
solicita ao coronel João Bezerra que focalize a morte do famigerado Virgulino
Ferreira, comissionado como capitão por decreto do Governo Bernardes. O
entrevistado parece comprazer-se com a solicitação:
- Está certo: vou devassar para vocês passagens que nunca pude devassar sobre os meus passos para chegar a Lampião.
E, segurando o braço do repórter:
- Reconstituirei a verdade histórica, que alguns tentam vulnerar.
PROCURANDO
LOCALIZAR A “GANG”
O coronel João
Bezerra, ereto na cadeira e policiando todas as anotações do repórter, reconta,
então, desde o seu início, a caçada que, desencadeando-se na hinterlândia das
Alagoas e de Pernambuco, mobilizou a atenção nacional. Seu tom de voz, agora,
torna-se mais duro:
- Fortemente apoiado pelas autoridades, comecei por efetuar sindicâncias para a localização do grupo. Numa diligência que eu fizera, quando eles passaram no município de Palmeira dos Índios, eu soube que ali haviam tiroteado com o sargento Porfírio, em Creibeiras. Eu me achava em Olho d’Água das Flores, de ordem superior, por acreditarmos que eles procurariam aquele centro. Encontrava-me, dessarte, na boca da barra, mas lá eles não compareceram.
REMUNICIANDO O
CONTINGENTE
Deduzimos que
a primeira tentativa fora frustrada. E o coronel João Bezerra, ajeitando o laço
da gravata, sem maior convicção:
- Homem, cangaceiro, como mosca, a gente não derruba com o primeiro tapa.
E continuou:
- Somente depois do tiroteio, já mencionado, entre os facínoras e a Força Pública, ocasião em que, confirmando o adágio, entre mortos e feridos se salvaram todos, segui para Santana de Ipanema, em caminhão, onde apanhei munição suficiente para reabastecer a tropa, que demandaria o homizio dos cangaceiros. Chegando a um povoado de nome Tiririca, embosquei casas de caboclos – alguns prisioneiros do grupo – e, às 8 horas do dia seguinte, eu os peguei, assombrados, obrigando-os a orientar a tropa até o sítio onde haviam deixado o grupo, que era nas caatingas fechadas, onde havia numerosas macambiras.
LAMPIÃO DA
TAPA EM LUGAR DE ESMOLA
- Lobrigando
algumas macambiras com folhas quebradas, interroguei um ex-prisioneiro do
bando. Ele me asseverou que fora ele que ali caíra. Ao pedir uma esmola a
Virgulino Ferreira, deste recebeu violento tapa, projetando-o ao solo.
Dispensei o prisioneiro, porquanto já levantara todos os vestígios da passagem
dos delinquentes, e ative-me aos seus rastros durante doze dias, perdendo-os
nas caatingas de Guaribas, perto da vila de São Domingos, município de Buíque,
Pernambuco.
MAIS DE
DUZENTOS QUILÔMETROS ENTRE ESPINHOS
A um quesito
do repórter, o entrevistado esclarece:
- Cumpri, aproximadamente, nesse percurso, quarenta léguas, com as voltas e revoltas da caatinga. Eis os lugares que me lembro de ter percorrido, na pista dos cangaceiros, nessa viagem: Lagoa do jirau, Riacho do Mel, Riacho de Traipu, Serra dos Tocos, Poço do Cosme, Lagoa da Camiso, Serra do Uruçu, Serra das Antas, Currais Novos, Serra de São Pedro, Sete Lagoas, Uamaro. Saí de lá emplastrado de espinhos.
DESENHA-SE O
DESÂNIMO
- Em face do
escondimento dos rastros dos criminosos, verifiquei que eles se iam acampar
ocultamente, porém já na proteção de alguém, no povoado. Distante cerca de
quinhentas braças do local, escolhi entre os 95 homens 20 soldados dos mais
carrancudos – que mais facilmente se poderiam assemelhar com os marginais –
para poder fazer investigações diretas. Percebendo que nas maiores casas de
negócios havia um aspecto de indignação, abordei um comerciante sobre a
existência ou passagem de cangaceiros por ali. Ele redarguiu que ignorava
totalmente o fato. Sondei os demais, mas nenhuma informação obtive a respeito.
Meu ato subsequente foi retornar ao seio da tropa, no acampamento. Um leve
desânimo desenhou-se em mau espírito.
ABATE DE BODES
CRIA UMA PISTA
- Chegando ao
acantonamento, vi que já haviam abatido quinze bodes. Inquirindo de quem era a
criação, responderam-me que parecia ser do subdelegado local. Mandei chamá-lo,
apresentando-se ele imediatamente para cobrar a despesa. Fê-lo, porém, a preço
exorbitante. Chamei-lhe a atenção, frisando que não deveria deslembrar-se do
convênio sobre o custo de gado e de bode para tropas volantes. Ele concordou e
eu ainda o interpelei com certo rigor, acentuando que quem não era amigo dos
soldados passava a sê-lo dos cangaceiros.
CONTINUA...
“O GLOBO” –
26/06/1957
Fonte: facebook
Página: Antonio
Corrêa Sobrinho
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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