O COMBATE DA SERRA GRANDE/PE:
As forças continuaram na
pista de Lampião. Quinze dias depois, grande número de policiais seguiam de
perto o bandido que, das proximidades de Vila Bela, retirou o grupo para a
Serra Grande, perigosa garganta de quase duas léguas de extensão.
Chegando à serra, o cabo
Manuel Neto e o sargento Arlindo Rocha, ambos da região e familiarizados com a
terra, os cangaceiros e seus truques, detiveram-se ali, à boca do desfiladeiro,
à espera do tenente Higino que enviara mensageiro, ordenando que as forças ali se
detivessem para entrar na serra somente com sua presença.
Marilourdes Ferraz (O Canto
do Acauã, 1 ed., p. 253) diz que tornava-se “difícil traçar um plano com
segurança relativa para os soldados.
A serra, muito acidentada,
era um local adequado para emboscadas”. Lampião dividira seu bando em três
subgrupos, situando os homens em lugares privilegiados, “cuja posição
antecipava a vitória da luta que duraria horas ininterruptas”. Antônio Ferreira
ocupava a chapada da serra e Lampião comandava o primeiro subgrupo.
“Logo que chegou, Higino
expôs seu bem arquitetado plano de ataque (se tivesse sido executado certamente
não falharia, segundo declararam alguns soldados que participaram da luta):
consistia, em linhas gerais, na retirada de uma parte da força para atacar os
bandidos pela retaguarda, subindo pelo outro lado da serra.”
Esclarece Marilourdes que o
sargento Arlindo Rocha “rejeitou a proposta categoricamente, alegando que a
manobra exigia dispêndio de precioso tempo e acarretaria maiores dificuldades
para se galgar a serra. Os demais comandantes de volantes preferiram não
interferir na divergência de opinião.”
Belarmino desistiu do
ataque coordenado, puxou o relógio do bolso e disse que, quem fosse homem,
subisse a serra. Escapasse quem Deus quisesse. E acrescentou:
- São sete e quarenta e cinco. Fico aqui escutando a hora que a espoleta quebra
em cima da serra.
João Gomes de Lira (obra
citada, p. 352) acrescenta a resposta de Manuel Neto:
- “Venho de longe, com mais de trinta léguas, no encalço, para brigar, e quero
é brigar. Já estou com o pé na embocadura da serra. Já vou subindo.”
O anspeçada Euclides de
Souza Ferraz também falou:
- “Com meu pelotão da
morte, também vou subindo a grande serra.”
E o sargento Arlindo Rocha:
- “Ah! Tá bom! Eu hoje
também quero é almoçar bala!”
Vendo Arlindo se adiantar,
querendo tomar sua frente, Manuel Neto protestou:
- “Não, Arlindo. Você sabe que a vanguarda é minha e não cedo o lugar.”
Às 8 h e 45 minutos daquele
26 de novembro de 1926, ouviu-se o alto da serra pegar fogo. “Era o cabo Manuel
Neto que estava de testa com o bandido Lampião”.
A luta atingia grandes proporções e a força de mais de 260 homens viu-se
incapaz de desalojar os bandidos. Antônio Ferreira, nesse ponto, comandava um
grupo móvel que se alternava em ataques frontais e pela retaguarda.
Na bocaina da serra, o
tenente Higino impediu os bandidos de fecharem a entrada da garganta, evitando,
assim, um verdadeiro massacre das forças que, certamente, ocorreria.
Conta João Gomes de Lira
que a vanguarda seguia, tendo como rastejador o soldado Ângelo Inácio da Silva
(Ângelo Caboclo). A certa altura da serra, “nas proximidades de uma aguada,
quando passava encostado numa grande pedra, Ângelo foi puxado pelo braço, pelos
bandidos”, sendo sangrado atrás da pedra.
Nesse local tombou Manuel
Neto com as pernas varadas a bala. Lampião teria gritado:
- Perdeu a fama hoje, Cachorro Azedo!
Ali perto caiu gravemente
ferido o soldado Vicente Ferreira de Lima (Vicente Grande). A pesada chuva de
balas fez a força recuar, deixando no local mortos e feridos. Descendo a serra,
Raimundo Barbosa Nogueira lembrou-se de que Manuel Neto ficara ferido, à mercê
de Lampião. Voltou e encontrou o bravo cabo brigando e falando para Lampião e
seu bando.
“Logo Raimundo viu o
mosquetão de Manuel Neto silenciar. Verificou o motivo: tinha dado uma
vertigem”. No momento, perdeu as esperanças de salvação do amigo. Contudo, como
um verdadeiro herói, enfrentava a dura batalha. “Momentos depois Raimundo foi
surpreendido com o mosquetão de Manuel Neto vomitando fogo e ele, Manuel Neto,
animadamente falando para os inimigos.”
Raimundo pediu que o
parente procurasse descer a serra. Ele daria cobertura. Não podendo andar, o
cabo rolou de serra a baixo, encontrando-se, na descida, com os primos Antônio
Capistrano e Euclides Flor que, bravamente, enfrentavam desesperadamente os
bandidos.
Raimundo ainda voltou ao
alto da serra para ajudar Vicente Grande. Conseguiu fazer descer o soldado que,
com o intestino nas mãos, conseguiu escapar.
O tiroteio continuou ensurdecedor. Os cangaceiros, em situação privilegiada,
castigavam as forças, que viam seus homens tombarem. Arlindo Rocha, que queria
almoçar bala, almoçou: foi gravemente atingido no rosto, tendo o maxilar
quebrado.
Lampião “incentivava os companheiros, a fim de não amortecerem o fogo contra os
atacantes. Os soldados, desesperados e cansados, temiam sucumbir.” As forças
reconheceram o alto valor estratégico do bando.
Muitas armas ficaram no
campo de luta. Cenas dramáticas se desenrolaram. O efeito psicológico do
tiroteio foi tremendo. Às 17 h 45 minutos, depois de 10 horas de duro combate,
o comandante, conformado com a derrota, ordenou cessar fogo e bater em
retirada. Estava terminado o maior tiroteio travado contra Lampião, em
Pernambuco. Onze mortos foram sepultados pelo sargento Domingos Gomes de Souza.
Diversos soldados saíram gravemente feridos. Lampião, por sua vez, não perdeu
nenhum homem.
De Floresta, entre muitos
outros, também tomou parte nesse combate o soldado Manoel Polmata (pai de
Celina, Barto e de outros e que faleceu em julho de 1983).
Marilourdes Ferraz diz que, nesse tiroteio, Antônio Ferreira teria sido
atingido, vindo a falecer. Outros autores, entretanto, preferem a versão de
sucesso: fora atingido por um tiro disparado por Luís Pedro, na fazenda Poço do
Ferro (Floresta), quando brincava com o companheiro.
CONTINUAREMOS AMANHÃ...
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