Como todas as
lendas que tendem a se torna maiores que os fatos, a de Lampião e sua saga pelo
nordeste brasileiro contém todos os elementos de aventura, romance, violência,
amor e ódio das grandes histórias da humanidade. Virgulino Ferreira da Silva,
ou simplesmente Lampião, nasceu em 7 de julho de 1897, na pequena fazenda dos
seus pais em Vila Bela, atual município de Serra Talhada, em Pernambuco. Era o
terceiro filho de uma família de oito irmãos. Desde criança, mostrou ser
excelente vaqueiro. Mas um conflito com vizinho e jogou na clandestinidade após
o assassinato de seus pais.
Lampião foi o
maior cangaceiro – nome dado aos fora-da-lei, que viviam de forma organizada,
no final do século XIX e início do século XX, na região do nordeste brasileiro
– de todos os tempos. Existem duas versões para o seu apelido. Dizem que, ao
matar uma pessoa, o cano de seu rifle, em brasa, lembrava a luz de um lampião.
Outros garantem que ele iluminou um ambiente com tiros para que um companheiro
achasse um cigarro perdido no escuro.
Percorreu sete
estados da região nordeste durante as décadas de 1920 a 1930, levando sangue,
morte e medo à população do sertão. Causou grandes transtornos à economia do interior
e sua história é um misto de verdades mentiras. No início da década de 30, mais
de 4 mil soldados estavam em seu encalço, em vários estados. Seu grupo contava
então com 50 elementos entre homens e mulheres. Comparado a Robin Hood, Lampião
roubava de comerciantes e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro
com os mais pobres. No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de
Rei do Cangaço. Para matar os inimigos, enfiava longos punhais entre a
clavícula e o pescoço.
Seu bando sequestrava
crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava
coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Antes
de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal.
Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião
arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade. Perseguido, viu
três de seus irmãos morrerem em combate e foi ferido seis vezes. Em 1929,
conheceu Maria Déa, a Maria Bonita, a linda mulher de um sapateiro chamado José
Neném. Ela tinha 19 anos e se disse apaixonada pelo cangaceiro há muito tempo.
Pediu para acompanhá-lo. Lampião concordou. Ela enrolou seu colchão e acenou um
adeus para o incrédulo marido. Grande estrategista militar, Lampião sempre saía
vencedor nas lutas com a polícia, pois atacava sempre de surpresa e fugia para
esconderijos no meio da caatinga, onde acampavam por vários dias até o próximo
ataque.
Tornou-se
amigo de coronéis e grandes fazendeiros que lhe forneciam abrigo apoio
material. O governo baiano ofereceu 50 contos de réis pela captura de Lampião
em 1930. Era dinheiro suficiente para comprar seis carros de luxo. Lampião
morreu no dia 28 de julho de 1938, na Fazenda Angico, em Sergipe. Os trinta
homens e cinco mulheres estavam começando a se levantar, quando foram vítimas
de uma emboscada de uma tropa de 48 policiais de Alagoas, comandada pelo
tenente João Bezerra.
O combate
durou somente 10 minutos. Os policiais tinham a vantagem de quatro
metralhadoras Hotkiss. Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos e
tiveram suas cabeças cortadas. Maria foi degolada viva. Os outros conseguiram
escapar. Mas o cangaço terminou em 1940, com a morte de Corisco, o Diabo Loiro,
o último sobrevivente do grupo comandando por Lampião. Lampião é odiado e
idolatrado com igual intensidade, estando sua imagem viva no imaginário popular
mesmo após 60 anos de sua morte. Sua influência nas artes – música, pintura,
literatura e cinema – é impressionante.
http://bahia.com.br/?item_viverbahia=lampiao-e-maria-bonita
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