Por Geraldo Maia do Nascimento
Folheando velhos jornais mossoroenses encontrei um artigo com o título acima, nos exemplares números 184 e 186, de 24 de novembro e 31 de dezembro de 1922, do jornal “O Nordeste”, noticiário que circulou de 1916 a 1934. A matéria não está assinada, mas provavelmente foi escrita por seu diretor, José Martins de Vasconcelos, que além de jornalista era escritor e poeta, deixando um legado de vários textos e poemas.
Impressiona
a maneira quase poética como ele descreve o morro, hoje já bastante modificado
pela expansão imobiliária. Fala do seu aspecto, da consistência dos seus
blocos, da água que surge em sua cabeceira e dá outras informações bastante
interessantes. Transcrevemos algumas partes do artigo original, mantendo a
grafia da época:
Quanto
ao aspecto: “O morro do Tibau, começa aparecer ao longe, quando se avança para
ele, como um massiço vermelho de arenito, sem vegetação alguma no alto. De
fato, o morro é formado exclusivamente de argila vermelha, mesclada em parte, e
desnudada de vegetação arborecente, no dorso raramente partilhado de cachéticas
hervasinhas isoladas.
Na
parte de leste, que deita para o mar, e donde frequentemente escorre, em vários
pontos, água vertida do alto das barreiras há uma rasteira vegetação de orós,
de escassa grama, e aqui e ali alguns coqueiros dispersos.
Assim,
ao norte e ao sul há, nos flancos do outeiro, plantios de coqueiros, cajueiros,
canas e outras fruteiras, onde há frescos de vertentes banhando a areia movediça,
quase que o rodeia.
No
cimo do morro, a areia móvel é desagregada da própria pedra arenosa, frágil,
que se desmancha em muitas partes, com a pressão dos pés. Em outras, conserva a
resistência do barro argamassado, acessível ao corte da enchada, para o uso de
construção de casa.
A
consistência do bloco em geral, varia, do mole ao duro e em cores, notando-se
uma variedade d’argila admirável: vermelha, amarela, branca, preta, roxa, etc.,
e prende muito a atenção do visitante.
Ao
lado sul do morro está a parte mais elevada, formada toda de barro vermelho, e
dividida por uma baixada, consequente da erosão das águas do inverno, formando
escoadouros destas para o mar. É muito acidentado o planalto do morro, com
altos e baixos, visível demonstração da lenta desagregação do conjunto pela
ação do vento, em cima, inexorável como o mar, em baixo!
Não
desaparecerá o morro, acreditamos, mas uma grande modificação o tempo operará,
é inevitável.”
Com
relação as águas que brotam do morro: “Sobre a água do morro do Tibau, que
perenemente corre, há dúvida se é, do próprio morro ou de regiões distantes,
vindas por veios subterrâneos. Uns pensam que as fontes do Tibau procedem dos
alagados de Bom Sucesso, nas fraldas da chapada do Apodi, outros julgam que ela
é do centro do morro, trazida à superfície por natural e espontânea influência
do solo. Acreditam alguns que as fontes são originadas pelas águas do mar
evaporadas ou sacudidas sobre o alto do morro pelo vento, o nordeste
principalmente, que sopra constantemente do oceano para a terra. E esse
fenômeno verifica-se somente numa certa região do morro, a que fica olhando
para o mar. A água cai ou escorre mesmo do alto marginal, em parte alongando-se
até certo ponto, sendo o resto do morro, para traz, completamente seco.
Durante
o inverno e durante o verão, não há alteração para mais ou para menos, na
constante queda d’água. Isto modifica a ideia de que a água venha de longe, pois
as estações variariam a intensidade das vertentes: crescendo no inverno e
diminuindo na seca. Tal alteração os naturais não presenciaram ainda, nos
informaram. Sendo do centro do monte, também as fontes sofreriam modificações
com o aumento ou descrecimento do volume d’água, pela ausência de infiltrações
das águas pluviais ou influência destas, nas secas e nos invernos. A mais
consentânea razão da existência do líquido ali é a que tira suas conclusões da
evaporação da água marítima ou da infiltração desta pela ação do vento,
sacudindo-a ali, durante dias e noites consecutivamente. E sendo assim, deve-se
à própria argila a filtração do elemento salso, transformando-o em água
potável”.
Foi
essa a visão que o jornalista José Martins de Vasconcelos teve do morro do
Tibau em 1922. Claro que é a visão de um leigo, valendo apenas como informação
histórica, para conheçamos o pensamento comum daquela época, principalmente no
que se refere a origem das águas que brotam da duna.
Geraldo
Maia do Nascimento
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