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sexta-feira, 22 de abril de 2016

PROVÁVEIS LUGARES ONDE ERAM RECOLHIDOS OS BÚZIOS MARINHOS AINDA EXISTENTES NO SERTÃO CENTRAL DO ESTADO DA PARAÍBA

Por José Romero Araújo Cardoso

A aventura dos tangerinos, comboieiros, almocreves ou tropeiros que saiam do sertão central do Estado da Paraíba com tropas de burros carregadas, invariavelmente, com algodão, peles e caroços de oiticica, tinham, em dado momento, cidades como Campina Grande (PB), Aracati (CE) e Mossoró (RN) como destino final, intuindo conseguir preços satisfatórios para a produção que transportavam penosamente pelas veredas da terra do sol.
          
Aracati, localizada no Estado do Ceará, até o assoreamento do porto situado na desembocadura do rio Jaguaribe e, depois Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte, constituíram importante empórios comerciais para o sertão norte, cuja geografia permitia que a distância entre centros consumidores externos fosse reduzida, incidindo no preço dos produtos.
          
Aracati e Mossoró despertaram fascínios inauditos nos antigos agentes econômicos que faziam o transporte de mercadorias, pois ao alcance do mar sempre presente no imaginário das populações interioranas, serviram também para concretizar velhos sonhos.
          
Diante da imensidão do oceano, sertanejos contemplaram belezas magistrais, tendo aproveitado para recolher das areias finíssimas e brancas invólucros de animais marinhos que são atirados na costa graças à peculiaridade das correntes marinhas de carrearem para o continente sedimentos, plantas e restos de animais marinhos.


A razão do assoreamento do porto de Aracati ainda na década de 70 do século XIX e, mais recentemente, de porto Franco, hoje localizado no município de Grossos (RN), está diretamente vinculado à forma como se comportam essas correntes marinhas presente no litoral semiárido nordestino.
          
Especialmente na Costa Branca do Estado do Rio Grande do Norte, em praias das localidades de Tibau, Grossos e Areia Branca sertanejos dedicavam-se a recolher búzios marinhos, objetivando leva-los para seus locais de origens a fim de que servissem para algumas finalidades, como chamar o gado e comunicar-se sobre algo, como a hora do almoço ou do jantar, bem como, através de certos códigos previamente estabelecidos, avisar sobre determinadas coisas do dia-a-dia daqueles ermos perdidos nas quebradas do sertão.

          
A serventia dos búzios marinhos era estipulada conforme o tamanho destes, tendo em vista que os maiores eram utilizados principalmente para a labuta diária, enquanto os menores que eram recolhidos serviam para adornos.
          
Era sinônimo de status e de prestigio ostentar em casa ou na fazenda búzios marinhos recolhidos das praias distantes, pois serviam de prova de que haviam estado nas tão sonhadas costas onde o mar, sonho concretizado, havia sido alcançado pelos detentores desses objetos.
          
Ainda hoje encontramos búzios marinhos, principalmente no sertão central do Estado da Paraíba, com os descendentes dos valentes sertanejos que desafiavam os perigos e as incertezas de um sertão de uma época.
          
Em Municípios como Pombal, Sousa, Cajazeiras, Santa Cruz, Coremas, Catolé do Rocha, Brejo do Cruz e Belém do Brejo do Cruz, entre outros, não é difícil abrirmos um velho baú feito da resistente aroeira e nos depararmos com um búzio marinho recolhido de uma praia norte-riograndense próxima a Mossoró.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP).

Enviado pelo escritor José Romero de Araújo cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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