Por José
Romero Araújo Cardoso
A aventura dos tangerinos, comboieiros, almocreves ou tropeiros que saiam do
sertão central do Estado da Paraíba com tropas de burros carregadas,
invariavelmente, com algodão, peles e caroços de oiticica, tinham, em dado momento,
cidades como Campina Grande (PB), Aracati (CE) e Mossoró (RN) como destino
final, intuindo conseguir preços satisfatórios para a produção que
transportavam penosamente pelas veredas da terra do sol.
Aracati, localizada no Estado do Ceará, até o assoreamento do porto situado na
desembocadura do rio Jaguaribe e, depois Mossoró, no Estado do Rio Grande do
Norte, constituíram importante empórios comerciais para o sertão norte, cuja
geografia permitia que a distância entre centros consumidores externos fosse
reduzida, incidindo no preço dos produtos.
Aracati e Mossoró despertaram fascínios inauditos nos antigos agentes
econômicos que faziam o transporte de mercadorias, pois ao alcance do mar
sempre presente no imaginário das populações interioranas, serviram também para
concretizar velhos sonhos.
Diante da imensidão do oceano, sertanejos contemplaram belezas magistrais,
tendo aproveitado para recolher das areias finíssimas e brancas invólucros de
animais marinhos que são atirados na costa graças à peculiaridade das correntes
marinhas de carrearem para o continente sedimentos, plantas e restos de animais
marinhos.
A razão do assoreamento do porto de Aracati ainda na década de 70 do século XIX
e, mais recentemente, de porto Franco, hoje localizado no município de Grossos
(RN), está diretamente vinculado à forma como se comportam essas correntes
marinhas presente no litoral semiárido nordestino.
Especialmente na Costa Branca do Estado do Rio Grande do Norte, em praias das
localidades de Tibau, Grossos e Areia Branca sertanejos dedicavam-se a recolher
búzios marinhos, objetivando leva-los para seus locais de origens a fim de que
servissem para algumas finalidades, como chamar o gado e comunicar-se sobre
algo, como a hora do almoço ou do jantar, bem como, através de certos códigos
previamente estabelecidos, avisar sobre determinadas coisas do dia-a-dia
daqueles ermos perdidos nas quebradas do sertão.
A serventia dos búzios marinhos era estipulada conforme o tamanho destes, tendo
em vista que os maiores eram utilizados principalmente para a labuta diária,
enquanto os menores que eram recolhidos serviam para adornos.
Era sinônimo de status e de prestigio ostentar em casa ou na fazenda búzios
marinhos recolhidos das praias distantes, pois serviam de prova de que haviam
estado nas tão sonhadas costas onde o mar, sonho concretizado, havia sido
alcançado pelos detentores desses objetos.
Ainda hoje encontramos búzios marinhos, principalmente no sertão central do
Estado da Paraíba, com os descendentes dos valentes sertanejos que desafiavam
os perigos e as incertezas de um sertão de uma época.
Em Municípios como Pombal, Sousa, Cajazeiras, Santa Cruz, Coremas, Catolé do
Rocha, Brejo do Cruz e Belém do Brejo do Cruz, entre outros, não é difícil
abrirmos um velho baú feito da resistente aroeira e nos depararmos com um búzio
marinho recolhido de uma praia norte-riograndense próxima a Mossoró.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento
de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e
em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do
Oeste Potiguar (ICOP).
Enviado pelo escritor José Romero de Araújo cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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