*Rangel Alves
da Costa
Já é Natal. E
já que vai ser presenteado ou presentear, então escolha aqui o seu presente.
Não se espante, contudo, se não há menção de joias, grifes, luxos e
ostentações. Apenas aquilo que possui outros inestimáveis valores.
Para
presentear, que tal se aproximar da pessoa querida e conversar longamente,
confessando sem rodeios tudo o que de bom vem alimentando o amor ou a amizade.
Dizer do quanto faz bem sentir a sua presença e do quanto confia em cada
palavra, gesto e ação. E levar também uma garrafinha bonita de vinho.
Para ser
presenteado, que os seus olhos brilhem ao receber uma lembrancinha qualquer.
Pessoas existem que a simples presença supre qualquer fortuna. Outras pessoas
existem que são como chegadas em papel de presente e laço de fita. Fazem tão
bem ao coração que tudo o mais sempre terá menor importância.
Para
presentear, que tal um caqueirinho com planta já florescendo, com flores tão
miudinhas que mais parecem de plástico. Ou um rosário de contas com cruz de
madeira. Ou uma garrafa de cajuína, dessas que não são facilmente encontradas
nas prateleiras mais chiques. Não há coração que não se contente com a
singeleza da recordação.
Para ser
presenteado, que tal mostrar toda a alegria do mundo ao receber uma concha de
mar, um barquinho de papel com seu nome desenhado, uma folha seca envelhecida
com um poeminha rabiscado. Que tal seu olho brilhar diante de uma cuia de
araçá, de um araticum ou de um melão coalhada. Eu mesmo adoraria ganhar um
beijo beijado na mão e jogado em minha direção.
Para presentear,
que tal um Salmo numa bela e envelhecida moldura: “Eu te amarei, ó SENHOR,
fortaleza minha. O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu
libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a
força da minha salvação, e o meu alto refúgio” (Salmo 18:1,2).
Para ser
presenteado, que sua alma glorifique por ter sido recordada com abraço
apertado, um afago carinhoso, uma palavra docemente sincera. Nada mais
cativante que receber um olhar profundamente iluminado, que receber um carinho
de uma mão tão sincera e amiga como a própria mão, que ser presenteado pela
brandura de uma voz que diz: Estarei sempre ao teu lado!
Para
presentear, que tal uma porção de doce de cabeça-de-frade, de doce de leite
feito por Vanuza ou de cocada feita por Jovanete. Uma renda feito por Dona
Conceição de Laura ou um bordado feito por Dona Domingas. Um artesanato em
barro feito pelo filho de Telma ou uma relíquia nascida das mãos do Mestre
Tonho. Um livro de Alcino, um cordel de Belarmino, uma obra do poeta Edézio.
Para ser
presenteado, que sua vida floresça ainda mais com a visita de um velho amigo
que, mesmo não muito distante, desde muito que não é avistado. Que se encante e
se alegre com o retrato antigo trazido como lembrança. Que seu espírito se
enobreça com a voz humilde e cativante dizendo: Infelizmente não pude trazer nem
uma lembrancinha. Passei somente para visitar e dar um abraço.
Para
presentear, que tal um rosário de aricuri para ser mastigado no pé da calçada
como se fazia nos velhos tempos. Que tal um buquezinho de flores do campo
colhidas em beira de estrada. Que tal enviar uma cartinha escrita à mão, que
tal um pedaço de pano com o nome rendado, que tal um poema de qualquer rima ou
escrito de qualquer jeito, mas nascido na profundidade do coração.
Para ser
presenteado, que sua força se confirme ao ouvir do mais velho: Que Deus o
abençoe, meu filho! Ou de alguém que da calçada ao longe ou da janela distante
grita em sua direção: Feliz Natal, Feliz Ano Novo!
Eis o meu
humilde presente a você: Feliz Natal, Feliz Ano Novo! Aceite. É de coração.
Escritor
Membro da
Academia de Letras de Aracaju
blograngel-sertao.blogspot.com
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