*Rangel Alves
da Costa
O Sertão tem
Memória! Este slogan serve para identificar bem a missão e os objetivos do
Memorial Alcino Alves Costa, denominação popular da Associação Cultural
Memorial Alcino Alves Costa, situada na Rua Gustavo Mello, nº 07, no centro da
cidade sertaneja de Poço Redondo. Um local já conhecido por todos, pois na
antiga residência familiar do saudoso sertanejo.
Surgido em
2013, numa iniciativa familiar para manter viva a memória do político (três
vezes prefeito de Poço Redondo), escritor, pesquisador, compositor, poeta e
radialista Alcino Alves Costa, falecido a 1º de novembro de 2012, o Memorial ao
longo do tempo foi se constituindo numa referência obrigatória para todos
aqueles que desejam beber em profundidade da história, da cultura e das
tradições do sertão sergipano, com ênfase na saga do cangaço, a partir do
acervo deixado pelo homenageado.
Na condição de
filho de Alcino e incentivado por amigos, idealizei e organizei o Memorial por
que senti a necessidade de um espaço onde o seu acervo e a sua memória tivessem
um lugar garantido para a posteridade. Não só preservar para o futuro, mas
principalmente permitir o acesso a estudantes, pesquisadores e demais
interessados na sua obra e na sua devoção sertaneja. E de repente já estava
ampliado para contar a saga do próprio sertão.
Assim, o
acervo do Memorial foi ampliado para ser também um espaço privilegiado de
contanto e conhecimento das diversas feições do sertão, incluindo seus aspectos
históricos, sua religiosidade, os fazeres e os costumes antigos, bem como as
tradições de um povo. Ali o interessado encontrará aspectos relacionados às
revoltas sociais nordestinas, ao cangaço, à música de raiz, as tradições
culturais e todo o percurso histórico que permitiu o desbravamento e a formação
do sertão, bem demais manifestações tipicamente sertanejas.
O Memorial é
também um espaço para reuniões e grupos de discussão, onde jovens, estudantes e
todos os interessados, são convidados a ouvir palestras sobre a cultura e a
história sertaneja, bem como demais temas relacionados à identidade nordestina.
Diversas são as ocasiões onde grandes eventos contam com palestras de renomados
professores e pesquisadores. Mesmo sem compromissos formais, pessoas ali se
reúnem para um proseado e até para bebericar uma cachacinha com casca de pau.
Logicamente
que sempre será um espaço de recordação de Alcino e sua obra, uma forma de
reencontrar o seu mundo tão sertanejo. A saga de seu povo era o seu exercício
de toda hora. E assim fez até suas forças permitirem. Com seu jeito sempre
cativante de ser, sempre calçado nas suas inconfundíveis havaianas, cortando as
ruas de seu Poço Redondo ou recebendo amigos de outras plagas enquanto ouvia
Tonico e Tinoco, acabou se transformando em referência obrigatória acerca de
tudo que dissesse respeito a sertão.
Verdade é que
o político escondia no seu verso outra feição muito mais prazerosa de lidar com
o seu mundo, que era a de pesquisador, poeta, colecionador de vinis da
autêntica música caipira, apaixonado pela história cangaceira. O seu tio
materno, Zabelê, cangaceiro do bando de Lampião, lhe servia de orgulho e
inspiração. Foi a partir do interesse pelo destino do tio que foi cavando as
raízes cangaceiras até se tornar num dos mais respeitados historiadores sobre o
tema.
Não conformado
com as mesmices nem com as inverdades escritas e asseveradas em torno da saga
bandoleira, Alcino se propôs a dar outra feição à história. E conseguiu logo no
primeiro livro publicado: “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de
Angico”. E mais tarde surgiram “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”,
dentro outras obras. Mas guardava escritos para muitos outros livros
discutindo, contando e recontando, o percurso daqueles valentes e tantas vezes
incompreendidos homens das caatingas e dos carrascais agrestinos.
Trouxe ao presente
o conhecimento de personagens importantes da história nordestina, procurou
desvendar os mistérios de Angico e da epopeia lampiônica, e com isso se tornou
um dos escritores mais lidos e requisitados do fenômeno cangaço. Colocou a
música caipira e a viola cabocla no seu devido lugar de importância e
reconhecimento. Revisitando seus arquivos, percebi o quanto de sertão existente
em livros, recortes, correspondências, manuscritos, fotografias. Sertão, talvez
este seja também outro nome de Alcino.
Tantas
realizações não poderiam ficar apenas na memória do seu povo, nas recordações
dos amigos. Como filho, esforcei-me para torná-lo ainda vivo por todo o sertão.
Primeiro escrevi sua biografia com um título mais que apropriado: Todo o Sertão
num só Coração - Vida e Obra de Alcino Alves Costa. Depois abri os portais de
sua casa em sua memória, através do Memorial.
Foi nesta
caminhada que buscamos construir o lugar da memória de Poço Redondo, do sertão,
de Alcino. Um espaço onde também estará a memória de cada um, pois todos
gestados de raízes que não podem ser relegadas nem destruídas pela voracidade
do novo. Assim o memorial sertanejo, pois o sertão também tem viva e rica
memória.
Advogado e
escritor
Membro da
Academia de Letras de Aracaju
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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