Por Rivanildo Alexandrino
A passagem de
Lampião pelo Rio Grande do Norte em 1927, foi um fato que marcou de forma
destacada a história do cangaço no Nordeste.
Os cangaceiros
adentraram no solo potiguar no dia 10 de junho daquele ano e permaneceram até o
dia 14, período em que praticaram toda sorte de desatinos às populações do
interior do estado que estavam no seu itinerário. O início da marcha
devastadora deu-se no município de Luis Gomes, e estendeu-se por quatro dias
até a incursão dos cangaceiros no estado do Ceará, depois da tentativa de
saquear a cidade de Mossoró.
Com a incursão
do bando de Lampião ao território potiguar, foram tomadas medidas de segurança
pelo governo estadual para conter a marcha da horda assassina. De imediato,
organizou-se uma força policial comandada pelo tenente Napoleão de Carvalho
Agra. O destacamento policial tinha o objetivo de interceptar os cangaceiros
nas imediações de Vitória, (atual Marcelino Vieira).
No intuito de acelerar o deslocamento da força policial, o tenente Napoleão Agra solicitou a aquisição de três caminhões para o transporte dos soldados que iriam ao encontro dos bandoleiros, que, naquele momento, sabia-se que estavam saqueando a fazenda Aroeira, propriedade do coronel José Lopes. Mas na impossibilidade de aquisição dos três veículos no povoado de Vitória, foi solicitado dois caminhões aos senhores Areamiro de Almeida e a Antônio Caetano, residentes na povoação de Alexandria.
Para acelerar
a marcha dos combatentes, o tenente Agra ordenou ao cabo João Porfírio da silva
que seguisse a pé com parte dos soldados enquanto o mesmo aguardaria a chegada
dos outros caminhões em Vitória.
Feito isso, a
força policial seguiu a pé em direção à fazenda Aroeira. Os cangaceiros, que a
esse tempo já haviam deixado a fazenda de José Lopes, seguiam na mesma estrada
em que vinha o destacamento policial, só que em sentido oposto. E aconteceu que
nas imediações do sítio Caiçara dos Tomás, os bandidos escutaram o barulho
crescente de veículos que se aproximavam, rapidamente desceram de suas
montarias e entrincheiraram-se para aguardar quem vinha pela estrada.
O barulho ouvido pelos cangaceiros, era justamente dos caminhões que seguiam pela estrada com o tenente Agra e o restante dos soldados. Exatamente no local conhecido como Baixa da Canafístula, no sítio Caiçara, onde os cangaceiros estavam entrincheirados, o tenente alcançou o restante da força que tinha seguido na frente. Eram mais ou menos, quatro horas da tarde.
Quando os
caminhões pararam para que os soldados subissem nos mesmos, uma saraivada de
balas despejadas pelos cangaceiros varreu o campo onde se encontravam os
militares. Os mesmos desceram dos veículos apressadamente debaixo de forte
tiroteio, e procuraram se proteger de qualquer forma, detrás de árvores ou
pedras.
O tiroteio
durou uns 45 minutos e terminou com a fuga desesperada dos soldados que tinham
esgotado suas munições. Findo o combate, os cangaceiros encontraram, ainda
vivo, um soldado que tinha sido baleado durante a fuzilaria. O cangaceiro
Coqueiro o apunhalou várias vezes, acabando de matá-lo. O soldado morto
chamava-se José Monteiro de Matos.
Na fuga apressada, os policiais não tiveram tempo de retirarem do campo de batalha os dois automóveis que seguiam na frente. Lampião, senhor da situação vitoriosa da luta, mandou que ateassem fogo nos veículos, que, depois de queimados, ficaram totalmente destruídos.
Mas não foi só
do lado da força policial que houve baixa, pois um cangaceiro de nome Patrício,
que respondia no bando pelo apelido de Azulão, também morreu no confronto. O
bandido morto foi enterrado na areia de um riacho que passava próximo ao local
do combate, e seu corpo foi encontrado no dia seguinte.
90 anos depois
desse episódio, me dirigi ao local desse confronto, conversei com pessoas da
região que me indicaram mais ou menos o local. Chegando lá, fiz um levantamento
da região, e por saber a maneira tática que os cangaceiros utilizavam em seus
combates, logo cheguei ao ponto exato onde os mesmos entricheiraram-se.
Comecei a
pesquisar, fazendo uma varredura no local com um detector de metais, e pra
minha alegria, consegui encontrar vários projéteis e cápsulas de balas
utilizadas naquele tiroteio. Vibrei muito! Foi uma sensação incrível! Poder
estar no mesmo local em que estiveram os cangaceiros de Lampião, e, além de
tudo, encontrar balas daquele famoso combate...
Foi um presente sem preço pra mim, que tanto admiro essa história desde criança! E vou continuar, se Deus quiser, pois é disso que gosto, é isso que me dá prazer...
Na foto
abaixo, estão os objetos encontrados no local do combate.
As próximas
pesquisas serão no Ceará e depois em Pernambuco! E assim irei desenterrando
nossa história!
Grande abraço.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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