por nelsoncadena
No início do
século XX, quando começou a se praticar futebol na Bahia, era certo que
trabalhador braçal não deveria se misturar com os jovens endinheirados da elite
soteropolitana, adeptos do jogo da bola. Discurso preconceituoso e ao mesmo
tempo incoerente, pois futebol era considerado um esporte para os fortes e
durante duas décadas, pelo menos, médicos e outros especialistas alternavam quanto às prováveis consequências da prática dessa modalidade.
A mídia
endossava esse sentimento e também a literatura, a exemplo do livro
“Football” que circulou em Salvador em 1915, tradução de Portugal da
Silva:”Violento em si transmite entusiasmos frenéticos, ou rancores excessivos.
É verdade, o futebol é um jogo de violentos. E é mesmo por isso que tanto amor
lhe temos”. Um dos formadores de opinião que alertava contra o risco
do esporte era o respeitabilíssimo poeta, intelectual e médico Álvaro
Reis, que em 1904, na tese intitulada “Educação Física”, chamava a
atenção para os perigos do abuso do futebol que só seria benéfico para “a
mocidade mais preparada” e por tanto impróprio para os iniciantes.
O Dr.
Reis questionava os jogos realizados no Campo da Pólvora, com excesso de
poeira para os jogadores e mesmo para o público, já que era um terreno de chão
batido. Nessas condições, dizia o ilustre esculápio, a cultura física “não
podia chamar-se cultura da saúde do corpo, mas sim de ruína do
corpo”.
Outro médico
publicava, pela mesma época, na Gazeta de Noticias, referindo-se ao futebol e
outros esportes: “Exercícios atléticos para despertarem no organismo uma
reação salutar devem ser praticados por organismos solidamente
constituídos”. Um bom argumento, embora não fosse essa a intenção, para excluir
pobres e mal nutridos dos esportes de elite (futebol, turf e remo).
A imagem do
futebol como esporte violento, “animal” para alguns, consolidou-se com o brado
de alerta do Congresso de Medicina e Cirurgia de 1907, realizado em São Paulo.
Os anais do evento pediam especial atenção “para os estados do Nordeste, como a
Bahia, onde o jogo faz as crianças extenuarem-se como cavalos de corrida”.
Moção apresentada e aprovada no conclave com a recomendação de denunciar
os abusos do esporte, em especial, da prática do futebol.
http://blogs.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2013/02/20/futebol-o-esporte-violento-quase-animal/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário