Por Sálvio
Siqueira
Após a derrota
do bando comandado por Virgolino Ferreira, o “Rei do Cangaço”, nas terras do
sal, no Estado do Rio Grande do Norte, o Sertão do Pajeú pernambucano tem um
pouco de paz no que se refere aos ataques de bandos de cangaceiros. Lampião,
deixa, sai das imediações de Mossoró com um enorme bando, isso devido ao “Rei
do Cangaço” não ter entrado na cidade, fez seu QG fora desta, na Estação
Ferroviária e tinha como interlocutor entre seus homens e ele o cangaceiro
Sabino, chegam a Limoeiro do Norte, no Estado cearense, desmoralizados,
famintos e esfarrapados. Comem, vestem e curam suas ‘feridas’, pagam por esse
serviço e depois seguem rumo à terra natal do chefe mor.
Esse caminho,
apesar de ser, ou ter-se que fazer, uma enorme volta, contornando a parte Oeste
do Estado da Paraíba, fora escolhido por Lampião não poder mais penetrar nesse
território. Além de ter inúmeras volantes desse Estado, Paraíba, em sua cola,
agora o ‘Rei Vesgo’ tinha um grande contingente de jagunços, homens do coronel
José Pereira, de Princesa Isabel, PB, fuçando em sua traseira, chegando há um
número muito superior ao total dos homens da Força Pública legal. E a ordem era
para pegar e matar todos, inclusive Lampião. Essa ‘ordem’, ou ‘decisão’, tomada
pelo coronel Zé Pereira foi à represália, segundo alguns autores, ao que o
bando de cangaceiros tinha praticado na cidade de Souza, PB.
Lampião deixa
a cidade cearense com um bando ainda bastante grande, porém, no decorrer da
caminhada rumo ao Leão do Norte, seus homens vão sendo mortos, presos e outros
debandam para não serem abatidos. De um grande bando, resume-se há um pequeno
grupo de seis homens, com ele incluso, que seriam os cangaceiros Lampião, Ponto
Fino, Moderno, Luiz Pedro, Mariano e Mergulhão. Logo após sua chegada em
território pernambucano, toma a decisão de atravessar sobre as águas do “Velho
Chico” para o Estado baiano, a fim de montar, ou remontar, seu ‘império do
terror’ naquelas paragens. Isso ocorreu no final da segunda metade de 1928. Por
um determinado tempo, some e ninguém dar notícias sobre ele: nem a imprensa,
nem os militares, tão pouco os moradores das brenhas sertanejas. Só há notícias
dele no decorrer do novo ano, 1929. Mesmo assim, bastante longe uma da outra.
Ele, nesse meio tempo, conhece Maria Gomes de Oliveira, a Maria de Déa, a qual
viria a ser a “Rainha do Cangaço”. No final de 1929, Lampião reaparece na Vila
de Pombal, BA, já com um bando contendo figuras destacadas como Arvoredo e
Corisco, o ‘Diabo Louro’, os quais passam a fazerem parte de seu bando de bandoleiros.
Em 1930 estoura a Revolução.
Por incrível
que pareça, essa seria a oportunidade que os cangaceiros teriam para agiram
mais libertos sobre os Povoados, Vilas e pequenas cidades daquela região,
sertão do Pajeú das Flores, interior do Estado de Pernambuco, devido à ausência
de contingente militar, pois esse, na maioria, estava a prestar serviços ao
governo legal na Capital do Estado, Recife, dando combate aos revolucionários.
Talvez fora exatamente por isso que Lampião resolvera retornar a sua terra
natal no final de 1930. Enganam-se aqueles que pensam que com a ida do “Rei do
Cangaço” para terras baianas, o mesmo tenha se desligado definitivamente de
alguns ‘nobres’ e fortes colaboradores como comerciantes, políticos, coronéis e
militares pernambucanos.
Com seu bando já reorganizado, sendo, naquele momento, composto por ‘ilustres’ nomes da saga cangaceira como Labareda, Volta Seca, Corisco o ‘Diabo Louro’, seu primo ‘Arvoredo’ entre outros, nomes que iriam fazer parte do epílogo do Fenômeno, o chefe cangaceiro mor cruza as águas do Rio São Francisco para sua margem esquerda, na altura do território pernambucano.
“(...) No dia
28 de novembro de 1930, Lampião, acompanhado de seu irmão Ezequiel Ferreira da
Silva, o “Ponto Fino”, o cunhado Virgínio Fortunato da Silva, o “Moderno”, com
reforço de Cristino Gomes da Silva Cleto, o “Corisco” ou “Diabo Loiro”, e
Antônio dos Santos, o perigoso menino cangaceiro “Volta Seca”, de apenas 12
anos, que tinha entrado para o cangaço um ano antes, com 11 anos, em 1929,
Ângelo Roque, o “Labareda”, os irmãos Ingrácias, Antônio e Cirilo, e os
veteranos Mariano Laurindo Granja e Luiz Pedro, formando um grupo com cerca de
20 cangaceiros, cruzaram da Bahia para Pernambuco (...).” (“As Cruzes do
Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta - PE” – SÁ Marcos Antonio de. e
FERRAZ, Cristiano Luiz Feitosa. 1ª Edição. Floresta – PE, 2016)
Não foi a toa
que Virgolino Ferreira, o cangaceiro Lampião, recebeu o codinome de “Rei do
Cangaço” ou “Rei dos Cangaceiros”. Lampião tinha uma rede de informantes que o
deixava, sempre, bem atualizado sobre o movimento das tropas volantes que
estariam, ou estavam em seu encalço. Sabedor de que não havia tantos volantes
nas redondezas do semiárido sertão pernambucano, decide agir no município da cidade
de Floresta, PE. Divide seu bando em pequenos grupos dando a ordem para que
fossem saqueando os moradores mais abastados. Após ter dado uma ‘batida’ em
várias fazendas, propriedades rurais, reagrupa seu bando e pega o rumo da sede
da fazenda Gravatá, uma das várias fazendas do Sr. Macário Gomes de Sá. Macário
era um rico latifundiário que possuía grandes extensões de terras, tanto no
Estado pernambucano como no da Bahia. Teve o cuidado de em cada uma de suas
fazendas produzir, ou criar, determinadas cultuaras e distintas raças e
criações, e de, na época, ‘colaborar’ tanto com bandos cangaceiros como com as
volantes que por suas propriedades passassem para que o deixassem em paz.
O chefe mor do
cangaço estava a par de que naquela fazenda, volantes iam e vinham, cruzando as
águas do “Velho Chico” nas canoas dos canoeiros, dormiam e se alimentavam.
Inclusive seus maiores inimigos, perseguidores ferrenhos, que saíram à caça de
Lampião não por uma questão de receberem soldo, mas, por uma questão de honra,
uma luta particular entre eles, os Nazarenos. Os filhos de José Ferreira e os
Nazarenos muito se digladiaram nas brenhas interioranas dos Estados
nordestinos.
Como sombras
errantes, a cabroeira chega, de mansinho, sem fazerem barulho no terreiro da
casa sede. Não estavam todos da caterva nos arredores da casa. Lampião não era
bobo. Manda que alguns dos seus cabras façam piquetes nas várias estradas que
levavam a casa sede, evitando assim uma desagradável surpresa com alguma
volante. Em um desses piquetes, é aprisionado um cidadão que imediatamente e
levado a presença do chefe mor do cangaço. Tratava-se do filho de uma
fazendeira, sua ‘colaboradora’, Santina do Tigre, de nome ‘Miguel’. Tigre, ou a
Tigre, era o nome da fazenda em que sua dona era a viúva Santina, mãe de
Miguel. Imediatamente, ao saber de quem se tratava, Lampião determina de que
ninguém mexa num fio de cabelo do rapaz. No entanto, usando uma destreza
enganadora, Virgolino pergunta se Miguel teria como dar de ‘presente’, aos
cabras que o prenderam, uma determinada quantia. Miguel, mais do que ligeiro,
responde que não levava consigo a importância ‘solicitada’, mas que mandaria
alguém, algum empregado de Macário, buscar na fazenda de sua mãe.
Os serviços do
dono da fazenda Gravatá, Macário Sá, foram solicitados pelo chefe cangaceiro,
para que o mesmo mandasse providenciar alimento para seus homens. A esposa de
Macário, dona Filomena, mais do que depressa ordena que se faça comida para
todos. Lampião começa uma prosa com o fazendeiro, fazendo várias perguntas para
ver se pegava ele no ‘pulo – do – gato’, sobre a passagem das volantes por
aquelas paragens. De repente, alguns cangaceiros que estavam fazendo um piquete
em outra estrada, trazem para perto do chefe um outro cidadão. Lampião pergunta
se Macário saberia de quem se tratava. Macário responde que era um vizinho da
fazenda e que era muito trabalhador. Virgolino, mesmo com um só olho, às vezes
enxergava mais do que aqueles que tinham os dois: chegando mais perto do
prisioneiro, começa a fazer uma minuciosa investigação. Descobre que em um de
seus ombros tem um calo e, como no ombro dele, fora gerado pela bandoleira e o
peso do fuzil. Continuando a averiguação, descobre que em sua cintura também
havia calos secos, protuberância vinda do couro da cartucheira. Para determinar
a coisa, um dos cangaceiros relata para o chefe que haviam encontrado um
documento com ele e o tinham jogado no mato, porém, o prisioneiro fora até onde
estava o documento e o pegara, recolocando-o novamente em um de seus bolsos.
A maioria dos cangaceiros, assim como a maioria dos nordestinos do interior dos
estados, não sabiam ler, no entanto, Virgolino sabia. De posse do documento,
vem a saber que trata-se de uma identidade militar. Além de ser, ou ter sido
militar, o cidadão a sua frente era nazareno. Ora, só por ser ‘macaco’, sua
sentença já estaria marcada, sendo filho de Nazaré, além da morte, essa teria
que ser sofrida, judiada...
Um trabalhador
da fazenda é amarrado junto ao militar, o qual já se encontrava amarrado pelos
punhos, no esteio de uma latada no aceiro do terreiro da casa. Começa-se então
uma cessão de torturas nos dois. As torturas do trabalhador não são tantas nem
tão cruéis, no entanto, sabedores de que tratava-se de um militar, nazareno, o
soldado Aureliano Sabino é vítima de chutes, socos, e vários cortes pelo corpo.
O dono da fazenda, o Sr. Macário, também começa a ser torturado, esse com
exclusividade de Lampião. Aureliano está, nesse momento sendo retalhado pelo
alagoano Cristino Gomes, o cangaceiro Corisco. Dona Filomena, esposa de
Macário, não encontra mais nomes de Santos implorando pela vida do militar.
A tarde
continua e a tortura de Aureliano prossegue. Lampião, em determinado momento,
grita que a vida daquele volante quem tiraria era ele. Chega bem próximo do
corpo totalmente ensanguentado do volante, saca da pistola e acerta-lhe uma
bala na altura do frontal, na testa. Após o disparo, o qual leva Aureliano à
morte, e ao fim de seu suplício, os cangaceiros desferem várias facadas e
punhaladas naquele corpo dependurado, porém já inerte. Nessa altura dos
acontecimentos, Lampião, vendo o medo no semblante do fazendeiro Macário, diz
que ele estar preso e que só o soltaria mediante a quantia de três contos de
réis. O cangaceiro Volta Seca pratica um ato horrendo no corpo do volante
morto. Corta o pescoço do militar, deixando sua cabeça sair rolando pelo
terreiro, até alguns animais, porcos, saírem a empurrando com suas trombas para
o início do mato, comendo-a em seguida.
“(...) Foi
quando o menino cangaceiro Antonio dos Santos, o “Volta Seca”, aproveitou,
pegou um facão e decepou a cabeça de Aureliano, fazendo-a rolar no chão,
ficando com a boca aberta e os olhos piscando, numa cena brutal e diabólica,
assistida pelos homens e mulheres que estavam presentes (...) Alguns porcos
criados na fazenda saíram empurrando a cabeça de Aureliano para dentro dos
matos, para servir de alimento ficando o corpo caído no terreiro da casa
(...).” (Ob. Ct.)
Referem alguns
autores de que, devido à morte do cangaceiro “Gavião” pelo vaqueiro Domingos
Ernesto da Costa, num local chamado Lagoa das Emas, em 1930, e dias depois fora
sepultado, seu corpo fora exumado pelo médico, Dr. Xavier da Costa, ter tido
decepado, retirado, cortado seu pescoço, e seu crânio enviado a Capital baiana,
Salvador, (Blog cangaçonabahia.com), é que teria desencadeado a barbárie
praticada pelos cangaceiros no corpo do tenente Geminiano. Aqui paramos e
perguntamos, teria, realmente, sido a causa à exumação do corpo de “Gavião”?
Sabe-se, porém, que a partir daí, todo cangaceiro morto, principalmente pelo
comandante da volante baiana, o pernambucano José Osório de Farias, Zé Rufino,
tem sua cabeça decepada e enviada para Salvador, capital da Bahia. O ex
cangaceiro Moreno, em uma de suas últimas entrevistas, refere, em lágrimas, que
o maior medo de um cangaceiro, seria de ser morto e ter sua cabeça decepada
tendo seu corpo de ficar exposto sem cabeça em cima do chão sertanejo.
Lampião havia
determinado de que o resgate de Macário seria de três contos de réis. Mesmo
tendo muito mais, em terras, culturas e animais, aquela importância em dinheiro
era uma fortuna e não havia, naquele momento, quem a possuísse, tivesse,
guardada em casa. O “Rei do Cangaço” então diminui para dois e depois para um
conto. Mesmo essa quantia, não havia tempo de arrecadar em sua propriedade. Sua
esposa, dona Filomena, envia seu filho, Elói Macário, para emprestar de algum
dos vizinhos. Por fim, o amigo e fazendeiro Sérgio Gomes Correia, por todos
conhecido por “Yoyô do Tigre”, empresta a grana e Macário termina por ser
libertado por Lampião.
Fonte/Foto Ob.
Ct.
Cangaçonabahia.com
Lampeaoaceso.com
Cangaçonabahia.com
Lampeaoaceso.com
PS// FOTO
COLORIZADA PELO PROFESSOR Rubens
Antonio, DE AUTORIA DE JOÃOZINHO RETRATISTA
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