Por José Romero Araújo
Cardoso
Parece que foi ontem, pois quem ama o Nordeste ainda se lembra. 1958, ano
marcante, seca braba, castigando com inclemência a nossa brava gente, trazendo
agruras e desditas, mas que assinalou o surgimento de vocês no cenário
artístico, com o trio sendo batizado por dona Helena, auspiciado por Gonzagão.
Houve um pacto, feito em prol da valorização da terra, do povo e dos costumes
nordestinos. Hoje, precisamos mais do que nunca que artistas regionais repitam
seus gestos, pois torna-se inadmissível suportar a descaracterização vil e
mundana, alicerçada no fetiche da grana solta que permite determinadas
posturas, incluindo nestas absurdas declarações de que a molecagem que enodoa
nossas tradições seja mais importante que o eterno sanfoneiro do riacho da
Brígida no que diz respeito à autentica divulgação do Nordeste Brasileiro.
Pacto de amor à terra e à nossa gente, pacto de valorização do autêntico
forró-pé-de-serra como verdadeiro suporte da música regional, isso é o que
estamos precisando, ou seja, de pessoas que ponham o pé na estrada por amor ao
nordeste, que sigam os passos dos velhos precursores de outrora.
Não agüentamos mais o estardalhaço que desvirtua nossas raízes, nossos mais
valiosos bens culturais, entre os quais vocês se encontram, pois são patrimônio
imaterial do povo nordestino.
A aventura pelas veredas da terra do sol deve continuar, de forma responsável,
pois nada mais marcante para um povo do que cultivar suas origens, primando
pela identidade enquanto elo constitutivo do reconhecimento pleno.
Pacto de amor ao Nordeste, essa é a meta que deve nortear as ações de quem luta
para perpetuar legados imorredouros. Pacto que firme de vez a ênfase ao
epicentro irradiador de toda construção identitária, tendo em vista que este
tem localização geográfica especifica, com suas bases lançadas nas alterosas da
Chapada do Araripe em solo pernambucano, único que comporta as coordenadas que
tangenciam o formidável e estável edifício cultural que une nosso povo.
Vocês que tanto suaram em prol de região tão rica culturalmente, intercedam
junto ao Pai Celestial para que não surjam “valores” que permitam nossa
descaracterização, pois demandou tempo considerável para que amadurecessem as
bases da nossa extraordinária construção coletiva, tendo em vista que nesses
rincões adustos firmou-se civilização condicionada pelas secas e por heranças
pretéritas legadas por três raças altivas que formaram o caráter firme e
irresoluto de uma gente nobre.
Quando o trio que vocês formaram surgiu, o nordeste sorriu mais feliz, pois era
sinal que a contribuição para a afirmação da autentica e indiscutível
nordestinidade estava se consolidando de forma mais expressiva.
Que o nordeste triunfe através de pactos que o beneficie enfaticamente. Só
assim teremos melhores dias em uma época tão conturbada, marcada pela
avassaladora falta de escrúpulos que rege mentes deturpadas pela falsa
concepção de estar servindo à região mais notável do ponto de vista de
uma cultura autóctone e original.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografai e Gestão Territorial
(UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (PRODEMA - UERN). Escritor. Membro da Sociedade Brasileira de Estudos
do Cangaço (SBEC), do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP) e da
Associação dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM).
* Carta não
classificada no III Prêmio A Carta, promovido pelo Parque Cultural "O Rei
do Baião" e Caldeirão Político.
Enviado pelo autor
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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